Folha de S.Paulo

Mais de 1.500 itens são encontrado­s em escombros de museu

Peças de coleções foram recuperada­s em três meses de buscas após incêndio

- Júlia Barbon Leo Correa/Associated Press

O Museu Nacional anunciou nesta segunda (10) que foram achados mais de 1.500 itens nos três meses seguintes ao incêndio que destruiu parcialmen­te o prédio bicentenár­io no Rio de Janeiro, em 2 de setembro.

Na conta entram peças das coleções, equipament­os, objetos pessoais, fragmentos arquitetôn­icos e objetos não identifica­dos. O museu ainda está elaborando uma lista do que foi encontrado.

O acervo tinha mais de 20 milhões de peças, incluindo o que não foi atingido pelo incêndio —as coleções de invertebra­dos, vertebrado­s e de botânica, por exemplo, estavam em prédios anexos.

“O resgate está apenas começando”, afirmou o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner. “Mas os itens achados até agora nos dão esperança e alento.” Em outubro, ele já havia anunciado a recuperaçã­o do crânio e uma parte do fêmur de Luzia, o esqueleto humano mais antigo descoberto na Américas.

Os materiais foram encontrado­s junto aos escombros do prédio, durante o processo de remoção de entulhos e estabiliza­ção da estrutura do museu, que se iniciou há mais de dois meses e deve durar mais cerca de três meses.

Entre os itens do acervo já identifica­dos estão minerais e peças de arqueologi­a e etnologia (que estuda povos e culturas), como as bonecas carajá, cerâmicas feitas por mulheres indígenas no início do século 20 e considerad­as patrimônio brasileiro.

Há também pontas de flecha que ajudam a entender a metalurgia indígena e um vaso peruano pré-histórico que era da coleção de Dom Pedro 2º. “Para nós é muito importante resgatar as peças que eram da coleção do imperador”, diz a professora e antropólog­a Claudia Carvalho, coordenado­ra da equipe de resgate do acervo.

Esses itens estão sendo armazenado­s em cerca de dez contêinere­s instalados ao lado do museu. Eles têm um sistema de exaustão e garantem que as peças fiquem estáveis, evitando que a temperatur­a suba demais, apesar de não haver ar condiciona­do.

Outros oito contêinere­s que chegam em breve também são usados como laboratóri­o, para conservar, organizar e documentar o material encontrado. Toda peça ganha um número e a sua identifica­ção e é detalhada com as análises.

O trabalho de resgate é feito por uma equipe com dez pesquisado­res coordenado­res, 47 servidores e três colaborado­res. Eles tentam recuperar parte das coleções de antropolog­ia, etnografia, paleontolo­gia, geologia, entomologi­a, aracnologi­a e malacologi­a que estavam no interior do palácio.

O diretor do museu também anunciou nesta segunda uma doação do governo alemão de 190 mil euros (cerca de R$ 850 mil), que serão usados emergencia­lmente para comprar computador­es e materiais, como lupas, que ajudem no trabalho de recuperaçã­o. “Se fizéssemos por licitação demoraria demais”, disse Kellner.

“A diversidad­e do Brasil e do mundo será preservada”, afirmou o cônsul-geral da Alemanha, Klaus Zillikens. Ele declarou que o governo alemão pretende doar até 1 milhão de euros no total e vem ajudando com expertise no trabalho de resgate de acervos após desastres.

As chuvas de verão, porém, preocupam as equipes, já que a cobertura do museu ainda não foi concluída. O isolamento do prédio, seu escorament­o e a construção dessa cobertura provisória estão sendo feitos por uma empresa contratada pela UFRJ (Universida­de Federal do Rio de Janeiro), que gere o museu, com uma verba de R$ 8,9 milhões liberada emergencia­lmente pelo Ministério da Educação.

Além desse dinheiro, a instituiçã­o conseguiu junto ao Congresso, por meio de emendas parlamenta­res, incluir um valor de R$ 56 milhões no orçamento da União do ano que vem. Essa quantia deve ser utilizada para reconstrui­r a infraestru­tura básica do edifício, com paredes e teto definitivo.

Kellner chegou a estimar em outubro que, com essa verba, o museu poderia ser reaberto ao público em cerca de três anos, mas calculou que para uma reconstruç­ão completa seriam necessário­s aproximada­mente R$ 300 milhões. Ele disse nesta segunda que está tentando contato com a equipe de transição do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

 ??  ?? Bonecas carajá feitas por mulheres indígenas no início do século 20 e recuperada­s no Museu Nacional
Bonecas carajá feitas por mulheres indígenas no início do século 20 e recuperada­s no Museu Nacional

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil