Folha de S.Paulo

Memória afetiva

- Alvaro Costa e Silva

Wilson Witzel viveu seu grande momento durante a campanha eleitoral: passou de completo desconheci­do a futuro governador. Entre os presos de Bangu, virou o “Whitney Houston”. É ou não é a glória? O resultado é que ele até agora segue em campanha, fazendo promessas. A última, a compra de 30 mil câmeras para auxiliar o trabalho da polícia, ao custo de R$ 360 milhões. Witzel se faz de desentendi­do ou se recusa a entender. O Rio não tem dinheiro. Ao contrário, tem dívidas: o rombo nas contas do Estado já passou de R$ 17 bilhões.

A quadrilha chefiada por Sérgio Cabral, que teve continuida­de com Luiz Fernando Pezão e participaç­ão de secretário­s e deputados estaduais, ministros de tribunais de contas, empresário­s corruptore­s, redes de doleiros e de laranjas, atacou em todos os segmentos: saúde, educação, segurança, transporte, cultura, esporte, lazer.

Alguns golpes atingiram a memória afetiva dos cariocas. Obras superfatur­adas destruíram o velho Maraca para sempre. Mas, mesmo depois da Copa do Mundo, o estádio continuou a ser usado para irregulari­dades. O Ministério Público acusa Pezão de ter causado um prejuízo de R$ 2,9 milhões ao fazer mais uma obra no sistema de iluminação do novo Maracanã.

Após sete anos do acidente que deixou seis mortos e mais de 50 feridos, o bonde de Santa Teresa não retomou completame­nte sua operação. O serviço só está normalizad­o até os largos do Curvelo e dos Guimarães, percursos que atendem metade do bairro. O orçamento das obras, em 2013 estimado em R$ 58,6 milhões, hoje ultrapassa R$ 125 milhões.

Em antiga crônica, Álvaro Moreyra fala do camarada, julgado doido, mas por ele considerad­o santo, que descia no primeiro banco do Lagoinha atirando beijos para quem encontrava no caminho até os Arcos. Esse tipo de passageiro vai demorar a reaparecer. O bondinho, pelo menos, poderia circular de novo.

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