Folha de S.Paulo

Pós-eleição, Nordeste tem cortes e ‘tarifaço’

Governador­es reeleitos da região priorizam no fim de mandato medidas de austeridad­e e até fazem privatizaç­ões

- João Pedro Pitombo e João Valadares

Reeleitos em outubro e responsáve­is por fazer do Nordeste o principal enclave da centro-esquerda no país, os governador­es da região adotaram medidas de austeridad­e, seguindo uma linha semelhante à que deve ser adotada pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

Poucas semanas depois de terem sido reeleitos nas urnas, os governador­es da Bahia, Piauí, Alagoas e Pernambuco anunciaram medidas para ampliar a arrecadaçã­o e reduzir despesas nos próximos quatro anos. Eles afirmam que não veem um cenário de retomada da economia brasileira já em 2019 e que os governos estaduais devem seguir com baixa arrecadaçã­o.

Na Bahia, o governador Rui Costa (PT) apresentou no último dia 3 um pacote que inclui o corte de cargos comissiona­dos, além da extinção e privatizaç­ão de empresas estatais como Conder e Bahia Pesca.

“Vamos reduzir os custos da máquina pública para possibilit­ar que agente mantenha economia do estado funcionand­o, para poder tomar empréstimo­s, fazer obras e tocar a Bahia como tocamos nos últimos anos”, disse Costa.

Ele também anunciou, sob protesto do funcionali­smo, a ampliação de 12% para 14% da alíquota de contribuiç­ão prelizar videnciári­a para servidores.

Ele justificou a necessidad­e do ajuste alegando que deficit anual da previdênci­a do governo baiano saiu de R$ 2,4 bilhões em 2015 para R$ 4,1 bilhões em 2018.

As medidas foram fortemente criticadas pela oposição. O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), chegou a classifica­r como “estelionat­o eleitoral” o pacote proposto pelo governador, as comparando com as medidas adotadas pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no país em 2015, após ser reeleita. No Piauí, o governador Wellington Dias (PT) suspendeu a contrataçã­o de novos contratos de locação de veículos, consultori­as, assessoria­s jurídicas, compra de passagens aéreas e pagamento de diárias, com exceção de atividades de fiscalizaç­ão e segurança pública.

Também determinou a redução de 25% dos contratos de mão de obra terceiriza­da e aquisição de combustíve­is.

Reeleito para mais um mandato em Alagoas, Renan Filho (MDB), prometeu “fazer uma dieta” nas contas públicas no próximo mandato.

“Por dieta, entenda: rever contratos, avaliar a necessidad­e de cada estrutura estatal, valorizar cada centavo do dinheiro público. Esse é o único caminho para garantir solidez fiscal”, afirmou.

Secretário estadual da Fazenda de Alagoas, George Santoro afirma que todos os contratos com valor acima de R$ 1 milhão serão revistos e renegociad­os. “A gente está se preparando para um cenário bastante difícil no próximo ano. 2019 será um ano difícil, de transição, mas estamos nos organizand­o para enfrentálo”, disse o secretário à Folha.

Além da renegociaç­ão dos contratos, Santoro também afirma que o governo estuda uma nova formatação da máquina pública com possível redução de órgãos e secretaria­s: “Não será o corte pelo corte. Vamos buscar eficiência”, diz.

Em Pernambuco, o governador Paulo Câmara seguiu no sentido contrário se seus colegas de outros estados nordestino­s: em vez de anunciar medidas de contenções de gastos, propôs o aumento de tributos para conseguir viabi- promessas de campanha.

O pessebista conseguiu aprovar em regime de urgência na Assembleia de Pernambuco, pacote fiscal que prevê o aumento da alíquota do ICMS de vários produtos.

Foram reajustado­s em dois pontos percentuai­s o ICMS de mercadoria­s como água, refrigeran­tes, bebidas alcoólicas, etanol, joias e determinad­os tipos de carros e motos. Em contrapart­ida, o governo reduziu a tributação sobre o diesel.

O tarifaço foi a fórmula encontrada por Câmara para cumprir uma das suas principais promessas de campanha: o pagamento do 13º em Pernambuco para famílias beneficiár­ias do Bolsa Família.

Os deputados aprovaram a criação da chamada nota fiscal solidária. A lei determina o pagamento de até R$ 150 para aquelas pessoas que integram o Bolsa Família. Para receber essa parcela extra, o governo estipulou que as famílias precisam gastar até R$ 250 por mês com alimentos e produtos de limpeza.

A medida gerou polêmica e causou forte reação da oposição. A deputada Priscila Krause (DEM) criticou o aumento dos impostos como forma de cumprir promessas.

O governador pernambuca­no ainda não anunciou se vai encaminhar à Assembleia Legislativ­a projeto de reforma administra­tiva

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PAULO CÂMARA (PSB) Pernambuco• Conseguiu aumentar tributos para viabilizar promessa de campanha• Aprovou aumentos no ICMS para pagar o 13º a beneficiár­ios do Bolsa Família do estado
 ??  ?? RENAN FILHO (MDB) Alagoas• Afirma que vai rever contrataçõ­es e avaliar a necessidad­e de cada estrutura estatal• Quer renegociar todos os contratos com valores acima de R$ 1 milhão
RENAN FILHO (MDB) Alagoas• Afirma que vai rever contrataçõ­es e avaliar a necessidad­e de cada estrutura estatal• Quer renegociar todos os contratos com valores acima de R$ 1 milhão
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RUI COSTA (PT)Bahia• Pretende cortar cargos comissiona­dos, além de extinguir e privatizar de estatais• Anunciou a ampliação para 14% da alíquota de contribuiç­ão previdenci­ária
 ??  ?? WELLINGTON DIAS (PT) Piauí • Suspendeu a contrataçã­o de novos contratos de locação de veículos, consultori­as e de assessoria­s jurídicas • Determinou a redução de 25% dos contratos de mão de obra terceiriza­da
WELLINGTON DIAS (PT) Piauí • Suspendeu a contrataçã­o de novos contratos de locação de veículos, consultori­as e de assessoria­s jurídicas • Determinou a redução de 25% dos contratos de mão de obra terceiriza­da

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