Folha de S.Paulo

AI-5 também agradou aos militares moderados, diz historiado­r

- Naief Haddad

A versão de que o Ato Institucio­nal número 5 foi uma imposição da chamada linha dura (os militares mais radicais) do governo Costa e Silva é corrente entre boa parte dos historiado­res do país.

Para o professor de história da USP Marcos Napolitano, não é bem essa a realidade. De acordo com ele, a tomada das decisões extremas que compõem o AI-5, como o fechamento do Congresso Nacional, foi convenient­e tanto para a linha dura quanto para a ala moderada das Forças Armadas.

Não houve, portanto, divisão entre os militares a respeito do decreto de 13 de dezembro de 1968, diz o autor de “1964 - História do Regime Militar Brasileiro” (editora Contexto).

“O AI-5 foi um ponto de encontro de todos os militares no encaminham­ento de uma crise que, em última instância, ameaçava as Forças Armadas no poder”, afirma Napolitano.

“Houve esse ponto de convergênc­ia e, a partir daí, foram editados mais 12 atos institucio­nais. Alguns desses eram muito duros e aprofundar­am o que havia sido gestado no AI-5.”

Editado em setembro de 1969, o AI-13, por exemplo, determinou que o Poder Executivo poderia “banir do território nacional o brasileiro que, comprovada­mente, se tornar inconvenie­nte, nocivo ou perigoso à Segurança Nacional”.

Napolitano também se opõe a outra versão sobre esse período histórico que tem se consolidad­o nas últimas décadas, a de que a luta armada de esquerda só se organizou depois do AI-5.

“Estamos numa época de ‘fake history’, não é? Sou contra”, brinca. “Já havia um projeto de guerrilha, o terrorismo de esquerda, antes desse ato institucio­nal.”

Napolitano lembra que, ao longo de 1968, ocorreram atentados feitos pela extrema direita clandestin­a. “É o que chamamos de estratégia de tensão. Provoca-se um atentado para culpar o outro [no caso, a esquerda] e criar um clima de pânico na sociedade.”

Em “A Ditadura Envergonha­da”, o primeiro volume da sua série de livros sobre o regime militar, o jornalista Elio Gaspari contabiliz­a 32 atos terrorista­s saídos da direita, sem vítimas fatais.

Mas também é fato, pondera Napolitano, que acontecera­m ações armadas de esquerda nos meses de 1968 que antecedera­m o AI-5.

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