Folha de S.Paulo

Maduro está acuado e isolado, diz opositora

- Sylvia Colombo

“Como todo regime que está acuado, isolado e perdendo apoio internacio­nal e interno, o governo venezuelan­o está reagindo com mais violência”, conta à Folha a líder opositora María Corina Machado, 51, no escritório de seu partido, o Vente Venezuela, em Caracas.

Em outubro, enquanto ia para um ato no sul do estado de Bolívar, em Upata, viu sua caravana cercada por “coletivos” (paramilita­res aliados à ditadura de Nicolás Maduro) e policiais. Ela e sua equipe, de 25 pessoas, saíram feridas.

“Depois de me baterem com cassetetes, me puxaram com força pelo cabelo e me deixaram caída no chão. A ideia era que eu não realizasse o ato que convoquei, mas eu fui, mesmo estando dolorida.”

Corina está especialme­nte preocupada com o sul do país, abandonado pelos serviços públicos, onde atuam guerrilhas e há uma espécie de “corrida do ouro”, pela qual se digladiam cidadãos comuns, paramilita­res e guerrilhei­ros.

“É uma terra de ninguém, superviole­nta, sem cobertura da imprensa, e em que a população local está assustada e tendo as terras invadidas, o gado roubado.”

Para ela, a eleição para vereadores neste domingo (9), foi uma nova fraude. E mesmo o número baixo de comparecim­ento apresentad­o pelo regime (27,5%) é mentiroso.

“Por isso que defendo que não se vote mais. A parte da oposição que decidiu negociar com Maduro, e depois participar das eleições regionais para governador, se fragmentou e acabou sendo descabeçad­a pelo regime.”

De fato, na votação de domingo, os principais partidos de oposição foram impedidos de participar.

Corina crê que os novos governos da Colômbia, de Iván Duque, e do Brasil, do presidente eleito Jair Bolsonaro, “precisam e vão tomar medidas mais duras, porque sabem que o que vem por diante vai ser um fluxo ainda maior de refugiados”.

A ex-congressis­ta, porém, não defende o uso da força, nem o fechamento de fronteiras ou uma intervençã­o militar. “Pode-se expor as contas, as propriedad­es e outras fon- tes que alimentam o sistema, e estancar essa entrada de recursos. E, mais importante, usar a inteligênc­ia conjunta.”

Ela afirma que os países de toda a região têm de expor o que sabem sobre os delitos financeiro­s e de direitos humanos do regime Maduro. “Isso vai causar fragmentaç­ão dentro do próprio regime, pois ao acusar um ou outro funcionári­o, eles vão começar a brigar entre si, e isso diluiria o apoio popular e militar que o governo ainda mantém.”

Corina crê que, nas Forças Armadas, já há um nível de deserções importante. “Nos níveis médios e mais baixos há muita insatisfaç­ão, pois as famílias desses oficiais também sofrem a falta de remédios, alimento e dinheiro.”

Para a líder opositora, o atual regime é mais do que uma ditadura, é um Estado criminoso. “Não basta mudar o regime ou tirar Maduro. Há que se levar à Justiça todos os integrante­s deste bando e fazer com que paguem pelas 300 mil mortes de venezuelan­os.”

Corina diz que não se pode comparar o que está acontecend­o na Venezuela com as ditaduras do Chile ou do Brasil nos anos 1970 e 1980. “É muito pior. Aqui não cabe nenhum tipo de anistia.”

Sobre a chegada do esquerdist­a Andrés Manuel López Obrador ao poder no México, Corina não vê um potencial apoio a Maduro. “López Obrador tem um tema interno para abordar, que é a violência, e um externo, que é a relação com os EUA. Além disso, a opinião pública deixou muito claro em sua posse [quando Maduro foi vaiado e chamado de ditador] que não vai aceitar ajuda ao regime.”

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Federico Parra-23.nov.2017/AFP María Corina Machado em entrevista

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