Folha de S.Paulo

Eletrobras vende distribuid­ora no AM, mas liminar suspende leilão

Único concorrent­e, consórcio Oliveira/Atem, formado por empresas locais, oferece lance mínimo

- Taís Hirata

A Eletrobras vendeu, nesta segunda-feira (10), sua distribuid­ora de energia no estado do Amazonas, em um leilão sem competição e marcado por disputas judiciais que seguem em aberto.

O vencedor foi o consórcio Oliveira/Atem, único grupo a participar da concorrênc­ia, realizada em São Paulo, na sede da B3.

As empresas têm forte atuação no estado: o grupo Oliveira na área de geração de energia, e a Atem, em distribuiç­ão de combustíve­is.

Esse mesmo consórcio havia vencido o leilão de outra distribuid­ora da Eletrobras, em Roraima, em leilão realizado em agosto deste ano.

Nesta segunda, o grupo ofereceu o lance mínimo: não ofereceu nenhum desconto na tarifa do consumidor e pagará um valor simbólico de R$ 50 mil à Eletrobras.

Em contrapart­ida, terá de fazer um aumento de capital de R$ 491 milhões na distribuid­ora, investimen­tos de R$ 2,7 bilhões nos primeiros cinco anos e assumir uma dívida de R$ 2,2 bilhões.

“A dívida não é de curto prazo, isso vai se encaixar no fluxo de caixa da empresa”, afirmou Thais Prandini, diretoraex­ecutiva da consultori­a Thymos Energia, que assessorou o consórcio vencedor.

“Essas duas empresas conhecem bastante a região. Acho que esse é um grande diferencia­l. Além dessas, há três outras empresas interessad­as em entrar no consórcio [nos próximos meses]”, disse.

O leilão, no entanto, terminou com uma pendência judicial. Logo após o martelo ser batido pela empresa vencedora, uma decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região suspendeu provisoria­mente a eficácia do certame.

A corte atendeu um pedido de sindicatos de funcionári­os da Eletrobras que tentaram impedir a privatizaç­ão das companhias e que exigiram, na ação, estudos de impacto trabalhist­a da venda da empresa.

Representa­ntes da Eletrobras e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) presentes na B3 foram informados da decisão pela imprensa e disseram que ainda não haviam sido notificado­s. Eles sinalizara­m que o resultado da concorrênc­ia não seria revisto.

“O leilão foi realizado com a grata vitória do proponente. Está realizado o processo”, afirmou Rodolfo Torres, superinten­dente da área de desestatiz­ação do BNDES.

Ricardo Brandão, consultor jurídico da Eletrobras, diz que a empresa já foi alvo de outras 50 ações contra a venda das distribuid­oras e que sempre foram enfrentada­s “com muita tranquilid­ade”. “Outras decisões foram sempre suspensas.”

Para representa­ntes da Garcez Advocacia, escritório responsáve­l pela ação, a decisão trava o leilão desta segunda.

Antes disso, o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco (MDB-RJ), havia comemorado o resultado.

“O maior desafio que nós tínhamos em relação a essas distribuid­oras era justamente a [venda] da Amazonas Energia, que é a que dá mais prejuízo, que presta o pior serviço”, afirmou.

A privatizaç­ão da companhia do Amazonas havia sido a mais complexa para a estatal.

Além das tentativas judiciais de impedir o leilão, o governo teve de lançar mão de diferentes recursos para garantir que a venda da empresa fosse atrativa ao setor privado.

O motivo é a péssima situação financeira da distribuid­ora, que tem um alto nível de endividame­nto e acumula resultados operaciona­is negativos nos últimos anos.

Desde o fim do ano passado, o governo tentava aprovar no Congresso uma lei que permitiria transferir à conta de luz dos consumidor­es pas- sivos bilionário­s da empresa.

Desde então, viu fracassar as votações de uma medida provisória e de um projeto de lei, o que levou a sucessivos adiamentos do leilão.

Recentemen­te, o governo publicou uma nova medida provisória autorizand­o que consumidor­es paguem dívidas bilionária­s da empresa —o texto, porém, ainda não foi aprovado pelo Congresso.

“A expectativ­a é que a MP seja aprovada”, afirmou Wilson Ferreira Junior, presidente da Eletrobras.

A estatal já havia aceitado absorver outros R$ 13 bilhões de passivos da Amazonas Energia para viabilizar a privatizaç­ão.

Caso a distribuid­ora não fosse vendida, a empresa teria de ser extinta. Nesse cenário, considerad­o o pior possível pelas autoridade­s do setor, uma empresa teria de ser contratada provisoria­mente para garantir a prestação do serviço, os funcionári­os seriam demitidos e os passivos bilionário­s ficariam com a controlado­ra, a Eletrobras.

Além da Amazonas Energia, ainda resta à Eletrobras vender sua distribuid­ora em Alagoas —cujo leilão está marcado para a quarta-feira (19).

 ?? Roberto Casimiro/ Fotoarena/Agência O Globo ?? Represente­s do consórcio vencedor batem martelo com o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco (ao centro), e do presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior (à dir.)
Roberto Casimiro/ Fotoarena/Agência O Globo Represente­s do consórcio vencedor batem martelo com o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco (ao centro), e do presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior (à dir.)
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