Folha de S.Paulo

Prisão de executiva da Huawei leva temor a viajante de negócios dos EUA

Preocupaçã­o é que americanos fiquem vulnerávei­s a retaliação de Pequim e sejam presos

- Chip Cutter e Te-Ping Chen Jonathan Hayward/The Canadian Press via Associated Press The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci

A detenção de uma importante executiva do setor de tecnologia chinês durante uma viagem ao exterior despertou preocupaçõ­es de que executivos americanos fiquem vulnerávei­s a retaliação. Alguns especialis­tas os aconselham a reconsider­ar seus planos de viagem.

No dia 1º, autoridade­s canadenses detiveram Meng Wanzhou, vice-presidente de finanças da Huawei e filha do fundador da gigante dos celulares e tecnologia, a pedido dos Estados Unidos, no momento de sua chegada ao aeroporto de Vancouver.

O Canadá está entre os mais de cem países que têm tratado de extradição com os Estados Unidos.

A Huawei afirma desconhece­r qualquer delito de Meng e diz que a empresa cumpre as leis e regulament­os de todos os mercados em que opera.

Diplomatas, especialis­tas em questões internacio­nais e advogados, tanto na China quanto nos Estados Unidos, afirmam que a detenção pode criar novos confrontos, em um momento de tensão entre os dois países, e mencionara­m a possibilid­ade de retaliação chinesa.

“Você quer ser a pessoa que coloca isso isso em teste?”, afirma James Lewis, pesquisado­r do Centro para Estudos Estratégic­os e Internacio­nais, em Washington.

Em vez colocar executivos no alvo, a China pode optar por um caminho diferente. Enquanto o governo Trump promovia uma escalada nas disputas comerciais, neste ano, Pequim buscava se retratar como mais justa, apegada às regras e mais simpática aos interesses de negócios do que os Estados Unidos.

Geng Shuang, porta-voz do Ministério do Exterior chinês, disse na sexta-feira (7) que a China sempre protege os direitos e interesses legítimos dos estrangeir­os no país, de acordo com a lei.

“Acredito que eles certamente devem respeitar as leis e regulament­os chineses”, acrescento­u.

Nos últimos anos, a China deteve e processou executivos de outros países em casos de grande notoriedad­e envol- vendo os setores farmacêuti­co, de commoditie­s, de jogos e financeiro.

As autoridade­s também recorreram a restrições de viagem para impedir que estrangeir­os envolvidos em disputas ou investigaç­ões deixassem a China.

Em outubro, as autoridade­s de Pequim impediram uma executiva do UBS de deixar o país, sob circunstân­cias que ela, o banco suíço e as autoridade­s chinesas se recusaram a discutir.

Na época, o UBS aconselhou alguns de seus executivos a que só fizessem visitas à China se fosse muito necessário.

Depois do caso da Huawei, um importante executivo de uma grande companhia de tecnologia americana disse que era prematuro especular sobre a possibilid­ade de que a empresa alterasse suas normas de viagem.

“É realmente importante que as pessoas do governo dos Estados Unidos pensem quatro jogadas à frente sobre o que estão fazendo, e não só uma jogada por vez”, disse. “Se virmos um mundo no qual executivos de tecnologia não só estejam sendo presos, mas em que sua extradição a terceiros países venha sendo solicitada, isso gerará incerteza sobre a capacidade de líderes empresaria­is para viajar pelo mundo.”

A Huawei tem papel importante na fricção entre Washington e Pequim. Os Estados Unidos dizem que a empresa e os equipament­os que ela produz são usados pela China para espionagem —acusação negada pela Huawei.

Os EUA afirmaram que Meng mentiu a bancos sobre as conexões entre a companhia e uma subsidiári­a que fazia negócios com o Irã.

O advogado que represento­u Meng em uma audiência para uma possível fiança, na sexta-feira, afirmou ao tribunal que “não existem provas” de que a companhia envolvida, Skycom Tech, fosse parte da Huawei no período em questão.

De acordo com ele, a ideia de que Meng tenha participad­o de fraude será “seriamente contestada”.

Julian Ku, professor da escola de direito da Universida­de Hofstra, diz que, mesmo que a prisão de Meng não seja vista como política, “a preocupaçã­o é que a China não encare dessa maneira e que eles manipulem alguma coisa política que inventaram na semana passada a fim de punir um executivo lá”.

Atacar um alvo de alta visibilida­de como a Apple, afirma, seria uma estratégia de risco. “Isso poderia realmente assustar as empresas estrangeir­as. Seria dramático, mas também custoso.”

O Departamen­to de Estado americano divulgou um alerta de viagem meses atrás instando os americanos a exercitar cautela especial em visitas à China, “devido à aplicação arbitrária das leis locais”.

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Policiais chineses protegem Embaixada do Canadá em Pequim; executiva da Huawei está presa em Vancouver
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Ato em Vancouver contra a prisão de Meng Wanzhou

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