Prisão de executiva da Huawei leva temor a viajante de negócios dos EUA
Preocupação é que americanos fiquem vulneráveis a retaliação de Pequim e sejam presos
A detenção de uma importante executiva do setor de tecnologia chinês durante uma viagem ao exterior despertou preocupações de que executivos americanos fiquem vulneráveis a retaliação. Alguns especialistas os aconselham a reconsiderar seus planos de viagem.
No dia 1º, autoridades canadenses detiveram Meng Wanzhou, vice-presidente de finanças da Huawei e filha do fundador da gigante dos celulares e tecnologia, a pedido dos Estados Unidos, no momento de sua chegada ao aeroporto de Vancouver.
O Canadá está entre os mais de cem países que têm tratado de extradição com os Estados Unidos.
A Huawei afirma desconhecer qualquer delito de Meng e diz que a empresa cumpre as leis e regulamentos de todos os mercados em que opera.
Diplomatas, especialistas em questões internacionais e advogados, tanto na China quanto nos Estados Unidos, afirmam que a detenção pode criar novos confrontos, em um momento de tensão entre os dois países, e mencionaram a possibilidade de retaliação chinesa.
“Você quer ser a pessoa que coloca isso isso em teste?”, afirma James Lewis, pesquisador do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington.
Em vez colocar executivos no alvo, a China pode optar por um caminho diferente. Enquanto o governo Trump promovia uma escalada nas disputas comerciais, neste ano, Pequim buscava se retratar como mais justa, apegada às regras e mais simpática aos interesses de negócios do que os Estados Unidos.
Geng Shuang, porta-voz do Ministério do Exterior chinês, disse na sexta-feira (7) que a China sempre protege os direitos e interesses legítimos dos estrangeiros no país, de acordo com a lei.
“Acredito que eles certamente devem respeitar as leis e regulamentos chineses”, acrescentou.
Nos últimos anos, a China deteve e processou executivos de outros países em casos de grande notoriedade envol- vendo os setores farmacêutico, de commodities, de jogos e financeiro.
As autoridades também recorreram a restrições de viagem para impedir que estrangeiros envolvidos em disputas ou investigações deixassem a China.
Em outubro, as autoridades de Pequim impediram uma executiva do UBS de deixar o país, sob circunstâncias que ela, o banco suíço e as autoridades chinesas se recusaram a discutir.
Na época, o UBS aconselhou alguns de seus executivos a que só fizessem visitas à China se fosse muito necessário.
Depois do caso da Huawei, um importante executivo de uma grande companhia de tecnologia americana disse que era prematuro especular sobre a possibilidade de que a empresa alterasse suas normas de viagem.
“É realmente importante que as pessoas do governo dos Estados Unidos pensem quatro jogadas à frente sobre o que estão fazendo, e não só uma jogada por vez”, disse. “Se virmos um mundo no qual executivos de tecnologia não só estejam sendo presos, mas em que sua extradição a terceiros países venha sendo solicitada, isso gerará incerteza sobre a capacidade de líderes empresariais para viajar pelo mundo.”
A Huawei tem papel importante na fricção entre Washington e Pequim. Os Estados Unidos dizem que a empresa e os equipamentos que ela produz são usados pela China para espionagem —acusação negada pela Huawei.
Os EUA afirmaram que Meng mentiu a bancos sobre as conexões entre a companhia e uma subsidiária que fazia negócios com o Irã.
O advogado que representou Meng em uma audiência para uma possível fiança, na sexta-feira, afirmou ao tribunal que “não existem provas” de que a companhia envolvida, Skycom Tech, fosse parte da Huawei no período em questão.
De acordo com ele, a ideia de que Meng tenha participado de fraude será “seriamente contestada”.
Julian Ku, professor da escola de direito da Universidade Hofstra, diz que, mesmo que a prisão de Meng não seja vista como política, “a preocupação é que a China não encare dessa maneira e que eles manipulem alguma coisa política que inventaram na semana passada a fim de punir um executivo lá”.
Atacar um alvo de alta visibilidade como a Apple, afirma, seria uma estratégia de risco. “Isso poderia realmente assustar as empresas estrangeiras. Seria dramático, mas também custoso.”
O Departamento de Estado americano divulgou um alerta de viagem meses atrás instando os americanos a exercitar cautela especial em visitas à China, “devido à aplicação arbitrária das leis locais”.