Folha de S.Paulo

Para o Facebook, negócios sempre foram mais importante­s do que ideais

- Dan Gallagher Repórter de tecnologia do Wall Street Journal The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci

Entre as mais notáveis revelações contidas nos emails internos da Facebook divulgados pelo governo britânico, na semana passada, estava a seguinte: no fim de 2012, Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, estava fortemente interessad­o em ganhar dinheiro.

Isso não deveria ser novidade para observador­es atentos. Naquele momento, Zuckerberg comandava uma companhia que havia acabado de abrir capital e atingido valor de mercado de US$ 50 bilhões (cerca de R$ 195 bilhões), muito superior a de outras empresas de tecnologia.

No entanto, contraste essa descrição com a imagem que Zuckerberg propôs meses antes. O Facebook, escreveu na primeira linha de sua carta a possíveis acionistas, “não foi criado originalme­nte para ser uma companhia”.

Em lugar disso, o executivo descreveu o negócio como uma “missão social”. Acrescento­u que acreditava que “mais e mais pessoas desejam usar serviços de empresas que acreditem em alguma coisa além de simplesmen­te maximizar os lucros”.

Os emails divulgados são parte de investigaç­ão em curso sobre a rede social envolviam deliberaçõ­es internas sobre que dados de usuários seriam fornecidos a desenvolve­dores externos —e a que custo.

Em um diálogo sobre apps e redes externas que poderiam ser conectados ao Facebook, Zuckerberg apontou que “isso pode ser bom para o mundo, mas não para nós, a menos que as pessoas [os] compartilh­em de volta com o Facebook e que esse conteúdo aumente o valor de nossa rede”.

O valor de mercado do Facebook mais que dobrou nos 12 meses seguintes. Os ideais descritos por Zuckerberg ficaram para trás, o que se tornou um problema para a companhia.

Pesquisa interna noticiada em novembro pelo The Wall Street Journal mostra que menos de 50% dos empregados do Facebook consideram que a companhia esteja fazendo do mundo um lugar melhor, ante 72% dos entrevista­dos na mesma pesquisa um ano antes.

Esse tipo de dissensão interna é um problema para uma empresa de tecnologia que depende de talento pessoal.

Scott Devitt, do banco de investimen­to Stifel Nicolaus, apontou o desencanto do pessoal como uma principais razões para a mudança de sua recomendaç­ão quanto às ações do Facebook.

O êxodo visível de executivos, como dos fundadores do WhatsApp e do Instagram, não colaborou. A queda de 37,5% das ações em relação ao pico de quatro meses atrás também diminuiu porção da riqueza de funcionári­os.

Como seu chefe, os empregados do Facebook não salvam o mundo de graça.

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