Para o Facebook, negócios sempre foram mais importantes do que ideais
Entre as mais notáveis revelações contidas nos emails internos da Facebook divulgados pelo governo britânico, na semana passada, estava a seguinte: no fim de 2012, Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, estava fortemente interessado em ganhar dinheiro.
Isso não deveria ser novidade para observadores atentos. Naquele momento, Zuckerberg comandava uma companhia que havia acabado de abrir capital e atingido valor de mercado de US$ 50 bilhões (cerca de R$ 195 bilhões), muito superior a de outras empresas de tecnologia.
No entanto, contraste essa descrição com a imagem que Zuckerberg propôs meses antes. O Facebook, escreveu na primeira linha de sua carta a possíveis acionistas, “não foi criado originalmente para ser uma companhia”.
Em lugar disso, o executivo descreveu o negócio como uma “missão social”. Acrescentou que acreditava que “mais e mais pessoas desejam usar serviços de empresas que acreditem em alguma coisa além de simplesmente maximizar os lucros”.
Os emails divulgados são parte de investigação em curso sobre a rede social envolviam deliberações internas sobre que dados de usuários seriam fornecidos a desenvolvedores externos —e a que custo.
Em um diálogo sobre apps e redes externas que poderiam ser conectados ao Facebook, Zuckerberg apontou que “isso pode ser bom para o mundo, mas não para nós, a menos que as pessoas [os] compartilhem de volta com o Facebook e que esse conteúdo aumente o valor de nossa rede”.
O valor de mercado do Facebook mais que dobrou nos 12 meses seguintes. Os ideais descritos por Zuckerberg ficaram para trás, o que se tornou um problema para a companhia.
Pesquisa interna noticiada em novembro pelo The Wall Street Journal mostra que menos de 50% dos empregados do Facebook consideram que a companhia esteja fazendo do mundo um lugar melhor, ante 72% dos entrevistados na mesma pesquisa um ano antes.
Esse tipo de dissensão interna é um problema para uma empresa de tecnologia que depende de talento pessoal.
Scott Devitt, do banco de investimento Stifel Nicolaus, apontou o desencanto do pessoal como uma principais razões para a mudança de sua recomendação quanto às ações do Facebook.
O êxodo visível de executivos, como dos fundadores do WhatsApp e do Instagram, não colaborou. A queda de 37,5% das ações em relação ao pico de quatro meses atrás também diminuiu porção da riqueza de funcionários.
Como seu chefe, os empregados do Facebook não salvam o mundo de graça.