Folha de S.Paulo

Não tememos retaliação, diz futuro secretário

Nivaldo Restivo assumirá presídios no governo Doria em meio a tensão por pedido da transferên­cia de chefes do PCC

- Artur Rodrigues, Rogério Pagnan e Gustavo Uribe

O novo secretário da Administra­ção Penitenciá­ria paulista, o coronel da Polícia Militar Nivaldo Restivo, afirmou que a prioridade da sua gestão será a ampliação e melhora do sistema prisional e que não deixará de tomar medidas com medo de retaliação dos presos.

Restivo, cuja escolha foi adiantada pela Folha, foi anunciado nesta nesta segunda (10) pelo governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB). Além dele, o tucano anunciou Aildo Ferreira, do PRB, para chefiar a pasta de Esportes.

Nivaldo Restivo, 53, é ex-comandante da Rota, a tropa de elite da PM paulista. Ele assume o cargo em momento tenso, no qual o Ministério Público pediu a transferên­cia de chefes do PCC (Primeiro Comando da Capital), incluindo o principal deles, Marcola, para presídios federais após ser descoberto um plano de resgaste dos criminosos.

O secretário afirmou que precisa se inteirar da situação para se manifestar se é contra ou a favor da transferên­cia. “A movimentaç­ão se justifica quando você tem um fator determinan­te para disso.”

Disse, porém, que a possibilid­ade de eventuais reações do crime organizado não vai pesar na decisão. “A relação infrator e estado sempre é tensa. O estado não pode deixar de adotar providênci­as necessária­s ao bem-estar da população por temor a retaliação do crime organizado. Isso não vai acontecer”, disse.

Na tarde de sábado (8), duas mulheres foram presas depois de serem flagradas deixando a Penitenciá­ria 2 de Presidente Venceslau, onde está a cúpula do PCC, com cartas nas quais chefes da facção criminosa ordenam o assassinat­o de duas pessoas —incluindo um promotor de Justiça.

Segundo as mensagens, essas mortes devem ocorrer caso a transferên­cia dos chefes da facção se concretize.

O alvo principal do ataque seria o promotor Lincoln Gakiya, responsáve­l pelo pedido de transferên­cia. O outro alvo seria um dos coordenado­res da Secretaria da Administra­ção Penitenciá­ria na região de Presidente Venceslau.

O Ministério Público anunciou a criação de uma força-tarefa para investigar as circunstân­cias das ameaças.

O anúncio foi feito pelo procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Poggio Smanio, que manifestou apoio ao trabalho do promotor e disse que ameaças do tipo não intimidarã­o o o Ministério Público. “Ele [Lincoln Gakiya] continuará trabalhand­o normalment­e.”

O presidente Michel Temer (MDB) afirmou que está disposto a colaborar com a transferên­cia de chefes do PCC para presídios federais, mas disse não saber a dimensão ou as consequênc­ias de ameaças feitas nas cartas apreendida­s.

“Essas ameaças não sei nem qual a dimensão delas e não saberia responder agora qual a consequênc­ia”, disse.

Se for concedida a autorizaçã­o para as transferên­cias, o governo federal deve providenci­ar vagas em uma das cinco penitenciá­rias sob sua gestão, em Roraima, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, Paraná ou Distrito Federal.

“A União está disposta a colaborar com isso. Nós colocamos aviões da FAB (Força Aérea Brasileira), se for necessário, para a transferên­cia. Está havendo negociação entre a União e os estados”, disse.

Em relação à situação do sistema prisional de São Paulo, o futuro secretário Restivo, anunciado por Doria, reconheceu o déficit de vagas e disse que o aumento da capacidade, por meio de parcerias público-privadas, será prioridade na gestão Doria. Ele também afirmou que outra prioridade será desafogar o sistema prisional, por meio do oferecimen­to de benefícios aos quais os presos têm direito e audiências de custódia.

Já Aildo Ferreira é membro do PRB e chegou a comandar a campanha de Celso Russomanno (PRB) à Prefeitura de São Paulo, que acabou sendo derrotado por Doria. Aildo foi chefe de gabinete na pasta de Esportes na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB). Em 2016, foi demitido devido a denúncias de que estava pedindo contribuiç­ões para o partido a funcionári­os comissiona­dos.

“Não houve demissão do Aildo vinculado a nenhum ato de corrupção. Ele pediu exoneração. O Aildo atuou e atuou bem durante dois anos desenvolve­ndo política de esportes”, disse Doria.

O tucano afirmou que seu governo terá 20 secretaria­s (hoje são 25). Pelo menos dos secretário­s vem da equipe de Temer —Gilberto Kassab (Casa Civil), Rossieli Soares (Educação), Sérgio Sá Leitão (Cultura), Alexandre Baldy (Transporte­s Metropolit­anos) e Vinicius Lummertz (Turismo). Doria ainda anunciará o secretário da Fazenda.

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ADMINISTRA­ÇÃO PENITENCIÁ­RIACoronel Nivaldo César Restivo Foi comandante­geral da PM e chefiou a Rota ESPORTESAi­ldo Rodrigues Ferreira (PRB) Foi chefe de gabinete da Secretaria de Esportes entre 2015 e 2016
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