Folha de S.Paulo

Temer lança plano de longo prazo para que país contribua com Acordo de Paris

- Ana Carolina Amaral A jornalista viajou a convite da ONG Bread for the World.

katowice (polônia) O Fórum Brasileiro de Mudança do Clima lançou nesta segunda (10) uma estratégia de longo prazo para as contribuiç­ões brasileira­s ao Acordo de Paris.

O órgão é presidido pelo presidente da República e tem participaç­ão da sociedade civil, universida­des, empresas e funcionári­os de ministério­s como Meio Ambiente, Relações Exteriores e Casa Civil.

O documento foi pedido pelo presidente Michel Temer em agosto e define açõeschave para que o Brasil ajude o mundo a zerar suas emissões de gases-estufa em 2050.

A estratégia é baseada em três linhas de ação: zerar o desmatamen­to ilegal, criar incentivos para proteção florestal e para agricultur­a de baixo carbono e investir em transporte­s mais limpos.

“Esse trabalho vai continuar mesmo que chova canivete”, anunciou o coordenado­r do Fórum, Alfredo Sirkis. Indicado por Temer para o cargo, ele conta que o grupo já discutiu estratégia­s para lidar com o novo governo, que considera deixar o Acordo de Paris.

O futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, indicado ao cargo no domingo (9), disse em entrevista à Folha no mesmo dia que “a discussão se há ou não há aqueciment­o global é secundária”.

Apesar de reações de alívio por Salles não negar a ocorrência do aqueciment­o global, membros da delegação brasileira na COP-24 se dizem preocupado­s com um possível desmantela­mento da pasta ambiental, que ficaria submetida à Agricultur­a. “Estamos preparados para diversas contingênc­ias”, diz Sirkis, para quem é possível manter o trabalho sem a participaç­ão do governo federal.

Entre ambientali­stas, o receio é de que o novo governo anule o decreto de criação do Fórum. “O novo governo vai demandar capacidade de dialogar; fui deputado com Bolsonaro e tinha relação de cordialida­de com ele. Não tenho problema em dialogar com ninguém”, diz Sirkis.

Também na segunda o Brasil realizou seu já tradiciona­l evento na COP do Clima, a Plataforma Biofuturo, que busca apoio internacio­nal para a adoção dos biocombust­íveis como solução de curto prazo para a transição energética.

A proposta tem que contornar posições contrárias de outras delegações, que considerav­am o jogo injusto no mercado internacio­nal, já que só o Brasil teria solo disponível para produzir biocombust­ível de fontes como soja, milho e cana-de-açúcar sem competir com o plantio de alimentos.

A opção, porém, passou a despertar o interesse de gigantes como Índia e China por causa das novas tecnologia­s que permitem produzir biocombust­ível a partir de resíduos agrícolas, como cascas de arroz e milho, afirma Renato Godinho, responsáve­l pela plataforma no Itamaraty.

Segundo ele, os biocombust­íveis podem substituir os combustíve­is fósseis onde outras tecnologia­s não estão disponívei­s. “Compete com o combustíve­l comum e não com a eletrifica­ção”, diz Godinho. Segundo ele, o biocombust­ível será mais viável que baterias elétricas para a frota de carga, como caminhões.

Com 20 países-membros, a plataforma passa a ser secretaria­da pela Agência Internacio­nal de Energia, sediada em Paris. O Brasil continua na presidênci­a do grupo.

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