Michael B. Jordan leva socos reais e encara fardo da fama em ‘Creed 2’
Ator que veio a São Paulo para a Comic Con retoma o papel de boxeador, que agora quer revanche por morte do pai
são paulo Curvado na cadeira e com muitos quilos a menos, Michael B. Jordan não lembra a torre de músculos que interpreta em “Creed 2”, continuação do drama de boxe que o tem como protagonista. Discreto, o americano de 31 anos tampouco esbanja “star power” de quem magnetiza a atenção em “Pantera Negra”.
Vivendo o fardo da fama como campeão peso-pesado, seu personagem remete ao próprio Jordan, hoje dos 60 nomes mais populares de Hollywood, segundo IMDb, maior banco de dados do cinema.
“Qualquer um que te disser que não é afetado por essa pressão está mentindo, bro”, afirma o ator a este repórter em São Paulo, onde veio divulgar seu novo longa. “Consigo me identificar com todo o desconforto em relação ao sucesso, aos fãs e à mídia. Meus últimos anos tem sido loucos.”
Criado em Newark, cidade barra-pesada nos arredores de Nova York, ele começou a carreira como modelo enquanto muitos dos amigos vendiam droga ou roubavam carros. Aos 16, contou ao site Vulture, era parado pela polícia que não concebia um garoto negro dirigindo uma BMW.
Despontou com “Fruitvale Station”, história real sobre um jovem assassinado pela polícia e que tinha muito a ver com o seu passado na empobrecida Newark. Foi seu primeiro contato com o diretor Ryan Coogler, também negro e também versado nas ruas.
Convidado a dar novos ares à exaurida franquia de boxe “Rocky”, Coogler desenvolveu “Creed” e escalou Jordan para o papel principal. A história relata como um aposentado Rocky Balboa, vivido pela sétima vez por Sylvester Stallone, aceita treinar Adonis Creed, o jovem desajustado que é filho órfão de um amigo seu.
Três anos depois, diretor e ator voltaram a trabalhar juntos no maior sucesso da carreira de ambos, “Pantera Negra”. O filme, maior bilheteria americana do ano, arejou um gênero tão engessado como o dos super-heróis injetando alta voltagem de debate racial.
Coogler saiu da continuação de “Creed”, embora tenha permanecido uma espécie de consultor criativo. Quem assumiu a direção foi Steven Caple Jr.
“Os dois contam histórias pessoais e têm esse pé no in- die, essa coisa muito Festival Sundance”, descreve Jordan. “Gostam de dar um aprofundamento nos personagens.”
A trama do novo filme retoma um episódio mostrado em “Rocky 4”, de 1985. O filme, feito no auge da década em que americanos e soviéticos voltaram a se estranhar, trazia Rocky Balboa tendo de enfrentar um oponente russo, Ivan Drago (Dolph Lundgren).
Nos ringues, Drago havia matado Apollo Creed, pai do personagem que Jordan viveria décadas mais tarde. Ao final da história, o personagem de Stallone vencia seu inimigo, vingava a morte de Creed e lavava a alma americana.
Envelhecido, Drago retorna em “Creed 2” para desafiar Balboa. E apresenta seu filho, Viktor, vivido pelo lutador romeno Florian Munteanu, como arma a duelar com Adonis Creed, seu protegido .
A disputa, como se verá na trama, tem muito de revanche pessoal. Tanto Creed quanto Viktor Drago querem vingar os seus pais. Para Jordan, contudo, há mais nesse caldo.
“Meu personagem aprende que vingança é o motivo errado para se entrar no ringue. Ele está em processo de autodescoberta. Queríamos mostrar Adonis cada vez mais fora da sombra do pai dele”, afirma.
Jordan, de 1,83 m de altura, levou socos verdadeiros de Munteanu, uma muralha de mais de 2 metros que o faz parecer um franguinho. “Não dá para fingir numa cena em câmera lenta”, explica o ator, que ouviu histórias de Stallone contando como foi parar na UTI nos anos 1980 por lutar de verdade com Lundgren.
Observados pelos dois veterano no set, “encarávamos que lutar para valer era como uma medalha de honra”, diz Jordan, que foi parar no hospital após machucar o joelho nas lutas. “Tudo no filme é o mais real que dá para ser sem que nos matemos no ringue.”