Folha de S.Paulo

‘É um tormento ser empregado’, afirma procurador-chefe

- Laís Alegretti

O procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury, afirmou que também é um tormento ser empregado no Brasil, após o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), ter voltado a dizer que é muito difícil ser empresário.

“De certa maneira, pode até ser [um tormento ser empresário], mas também é um tormento ser empregado”, afirmou à Folha.

Para o chefe do MPT (Ministério Público do Trabalho), o descumprim­ento das leis trabalhist­as e as dificuldad­es de fiscalizaç­ão do trabalho por falta de pessoal dificultam a vida dos trabalhado­res.

“A quantidade de descumprim­ento da legislação trabalhist­a é muito grande. São desrespeit­ados direitos bási- cos, como aviso prévio e remuneraçã­o digna, e há situações extremas, como de trabalho escravo.”

Fleury concorda que há dificuldad­es do lado dos empregador­es também, principalm­ente relacionad­os à burocracia. Ele evitou comentar uma eventual proposta do futuro governo que aprofunde a flexibiliz­ação dos direitos. “Não quero trabalhar em cima de especulaçã­o.”

Fleury disse que o órgão tem interesse em ampliar o diálogo e que as empresas devem ser vistas como parceiras. Como exemplo, mencionou que o MPT assinou nesta quarta um acordo de cooperação com o Instituto Ethos de Empresas e Responsabi­lidade Social para incentivar a adoção de práticas de diversidad­e e inclusão.

“Quando a gente busca com que uma empresa siga a lei trabalhist­a, a gente garante a ela uma igualdade de tratamento, evitando, por exemplo, que uma empresa consiga reduzir muito seu custo de produção em detrimento de outras. A não atuação do MPT permitiria, por exemplo, o trabalho escravo”, disse.

Um resultado ruim, segundo Fleury, para as próprias empresas seria o risco para as exportaçõe­s. “Os Estados Unidos, por exemplo, têm lista suja de países que têm trabalho escravo e infantil.”

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