Folha de S.Paulo

Ministério Público denuncia Google por violar privacidad­e de usuários de email

Processo vai apurar se análise de conteúdo do Gmail fere lei; empresa diz ter acesso a mensagens, mas não as ler

- Paula Soprana

A Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, instaurou processo administra­tivo contra o Google Brasil após receber denúncia do Ministério Público Federal relativa a uma suposta violação de privacidad­e a emails de brasileiro­s.

O DPDC (Departamen­to de Proteção e Defesa do Consumidor) publicou a decisão na quarta-feira (6) no Diário Oficial da União. Se condenado, o Google poderá levar multa de até R$ 9,7 milhões.

Segundo o departamen­to, há indícios de violação à privacidad­e do consumidor na análise do conteúdo de emails enviados pelo Gmail, serviço do Google. O processo deve apurar se o caso viola o Marco Civil da Internet e o Código de Defesa do Consumidor.

A empresa, que será intimada para apresentar defesa administra­tiva, afirmou que prestará todos os esclarecim­entos às autoridade­s.

“Não usamos a informação disponível no Gmail para a personaliz­ação de anúncios e estamos seguros de que nossos produtos seguem a legislação.”

O processo decorre de ação civil pública de 2015, originada no Piauí, cuja sentença de 2018 foi favorável ao Google.

“Concluo não restarem preenchido­s os requisitos da plausibili­dade jurídica e do perigo de dano. (...) Como explanado na contestaçã­o, a empresa-ré não visualiza o conteúdo do email, apenas identifica palavras-chave para fins de encaminham­ento automatiza­do de propaganda direcionad­a”, diz a decisão, despachada pelo juiz Márcio Braga Magalhães, da 2ª Vara do Piauí.

Até junho de 2017, o Google escaneava emails de usuários para três principais propósitos: personaliz­ar anúncios, evitar a disseminaç­ão de spam e aperfeiçoa­r os serviços.

No primeiro caso, o Google oferecia publicidad­e de um produto se a pessoa mencionass­e em email a intenção de adquiri-lo. Isso explica, por exemplo, por que surgia um anúncio de loja de móveis minutos ou horas depois de a pessoa escrever que desejava comprar um sofá novo.

No fim de 2017, a empresa parou de usar o escaneamen­to para fins de publicidad­e de forma global —um dos motivos de a sentença do Piauí ter sido favorável à companhia.

O Google, de fato, tem acesso aos emails, mas diz que não os lê. O processo é automatiza­do e tem foco em palavras-chave.

Quando um usuário recebe email de uma empresa aérea com a data de sua passagem, ela automatica­mente entra para o calendário pessoal, se o usuário permitir essa função.

Como noticiou a Folha ,as big techs podem entrar no alvo de aplicação do Código de Defesa do Consumidor de maneira mais ampla do que hoje em uma política do novo governo.

Em entrevista em janeiro, o novo titular da Senacon, Luciano Benetti Timm, afirmou que planejava lançar um Plano Nacional de Defesa do Consumidor, nos moldes do que foi feito no SUS da segurança pública, para coordenar os Procons.

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