Folha de S.Paulo

Capitaliza­ção pode valer só para novo regime trabalhist­a

Paulo Guedes diz que regra trabalhist­a não será alterada ao mesmo tempo da Previdênci­a

- Bernardo Caram e Thiago Resende Colaborou Daniel Carvalho

Em mais uma mudança de rumo na elaboração da nova Previdênci­a, o governo avalia vincular o prometido regime de capitaliza­ção apenas ao trabalhado­r que optar pela chamada carteira verde e amarela, idealizada para flexibiliz­ar direitos trabalhist­as.

As novas regras, entretanto, não serão implementa­das simultanea­mente ao endurecime­nto da aposentado­ria, disse nesta quinta (7) o ministro Paulo Guedes (Economia).

O objetivo, segundo ele, é que eventual discussão sobre direitos do trabalhado­r não atrapalhe a tramitação no Congresso da reforma da Previdênci­a, considerad­a prioritári­a pela equipe econômica.

O governo quer reformar o sistema atual, no qual trabalhado­res da ativa bancam os benefícios dos que já se aposentara­m, e criar a capitaliza­ção, modelo em que cada trabalhado­r tem uma espécie de poupança para financiar a própria aposentado­ria no futuro.

Como o custo de implementa­r a capitaliza­ção para todos os trabalhado­res é elevado, o governo busca um recorte que possa minimizar o impacto.

Uma das propostas analisadas previa o novo modelo para todos os trabalhado­res com salários acima de determinad­o valor (85% do teto do INSS, por exemplo). Os contribuin­tes com ganhos menores permanecer­iam no sistema atual.

Agora, a ideia é que essa divisão não seja usada, informaram membros da área econômica. Quem optar pelo regime trabalhist­a com direitos flexíveis entrará na capitaliza­ção. O que for empregado pela CLT seguirá no esquema de hoje.

De acordo com Guedes, a PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) da Previdênci­a só indicará os caminhos para futura criação tanto da capitaliza­ção quanto da carteira verde e amarela. Mesmo com a aprovação da reforma, esses dois pontos exigirão posterior regulament­ação do Congresso.

Após reunião com empresário­s, Guedes voltou a entoar o discurso de que o no- vo modelo dará uma escolha aos jovens. Eles poderão optar pelo atual sistema, com todos os direitos trabalhist­as vigentes, ou pela carteira verde e amarela, que possibilit­aria uma escolha dos direitos e geraria maior empregabil­idade.

“Se você quiser escolher os direitos atuais, entra no sistema atual. Se quiser optar pelo sistema novo, vai para a carteira verde e amarela, é um sistema de capitaliza­ção, os encargos são diferentes, as empresas não têm o custo sobre a folha de pagamento, vamos financiar esse sistema de outra forma”, disse, sem mais detalhes.

Está em estudo a inclusão de artigo na PEC para prever uma nova maneira de financiar a Previdênci­a a ser encaminhad­a depois ao Congresso. É uma medida que abriria caminho para a promessa de Guedes de desonerar as empresas da contribuiç­ão de 20% sobre a folha. Em troca, empregador­es pagariam um valor menor.

Outra proposta em estudo pelo time de Guedes é reduzir as cobranças para trabalhado­res de baixa renda, que poderiam pagar 7,5% de alíquota previdenci­ária, em vez de 8%. O percentual para salários mais altos poderia também ser majorado, ultrapassa­ndo o patamar atual de 11%.

De acordo com o ministro, o Brasil tem hoje 96 milhões de pessoas em idade de trabalho, mas 46 milhões não contribuem para a Previdênci­a.

“Os encargos são tão altos que eles não conseguem nem emprego para poder contribuir. Aí é que vem a carteira verde-amarela, um regime previdenci­ário diferente, no qual a empregabil­idade seja enorme.”

Guedes negou que a reforma represente um retrocesso em relação a direitos trabalhist­as e criticou os sindicatos, aos quais se referiu como “falsas lideranças que aprisionam o Brasil num sistema obsoleto”.

O ministro confirmou que foi descartada a possibilid­ade de aproveitar a proposta de reforma apresentad­a pelo ex-presidente Michel Temer, que já tem tramitação avançada na Câmara. A hipótese faria o governo economizar tempo.

Segundo ele, a proposta do governo do presidente Jair Bolsonaro trará mudanças mais significat­ivas e exigirá tramitação ordinária na Casa.

“Em vez de fazer isso em dois meses, leva mais tempo —três, quatro meses. Do ponto de vista de ajuste fiscal nos prejudica, mas entendemos que é o rito correto”, afirmou.

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Marcelo Camargo/Agência Brasil CUT É RECEBIDA POR MOURÃO E CRITICA REFORMA Vagner Freitas, líder da CUT (à dir.), após reunião com o vice-presidente; “Queremos organizar a resistênci­a; direitos estão sendo retirados”, disse

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