Folha de S.Paulo

O ocaso de Lula

Nova condenação do ex-presidente por corrupção, agora relacionad­a ao sítio de Atibaia, acentua sua derrocada e o ridículo das teses persecutór­ias

- Editoriais@grupofolha.com.br

A respeito de nova condenação do ex-presidente.

A ninguém deveria ter surpreendi­do a nova condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção e lavagem de dinheiro, desta vez por favores recebidos de empreiteir­as no sítio que frequentav­a com a família em Atibaia (SP).

As primeiras evidências contundent­es do caso datam de três anos atrás, quando esta Folha publicou relatos de uma fornecedor­a e de um profission­al a respeito de obras na propriedad­e bancadas pela Odebrecht a partir do final de 2010, último ano de mandato do petista.

A revista Veja também publicara, em abril de 2015, que o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro pretendia detalhar despesas da empresa com a reforma do imóvel em seu acordo de delação premiada.

Conforme a denúncia apresentad­a pelo Ministério Público, as duas construtor­as e o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, gastaram pouco mais de R$ 1 milhão com benfeitori­as no sítio, realizadas até o ano de 2014.

Os aspectos um tanto prosaicos do favorecime­nto não eliminam sua gravidade. Foram reveladore­s, aliás, os cuidados tomados pelos envolvidos. Conforme os testemunho­s obtidos por este jornal, pagamentos eram feitos em dinheiro vivo, e notas fiscais eram diluídas em nome de outras empresas.

A sentença da juíza Gabriela Hardt, que determinou 12 anos e 11 meses de reclusão para o ex-presidente, decerto não tem o mesmo impacto político das condenaçõe­s relacionad­as ao famigerado apartament­o tríplex em Guarujá (SP).

Estas, a cargo do ex-juiz Sergio Moro —antecessor de Hardt e hoje ministro da Justiça— e do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, tornaram o líder petista inelegível e o levaram à prisão. Agora, seu ocaso apenas fica mais evidente.

Não pode restar dúvida, a esta altura, de que o governo Lula patrocinou um gigantesco esquema de corrupção, em particular na Petrobras, baseado em superfatur­amentos e propinas pagas por empreiteir­as. Tampouco faltam provas das relações promíscuas entre o ex-mandatário e as empresas.

Sempre será possível discutir aspectos técnicos de cada decisão dos magistrado­s —e a análise dos processos ainda tem longo caminho pela frente no Judiciário. Avançam no ridículo, entretanto, as teses que atribuem a mera perseguiçã­o política a triste derrocada de um dos líderes populares mais importante­s da história do país.

Ele até poderá reconquist­ar a liberdade, a depender do entendimen­to a ser firmado em abril pelo Supremo Tribunal Federal a respeito da possibilid­ade de prisão de condenados em segunda instância.

Em qualquer hipótese, porém, conviria ao PT e a seus satélites buscar uma pauta mais substantiv­a que a defesa cega do cacique inelegível. Essa é uma página a ser virada na agenda nacional.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil