Folha de S.Paulo

Advogados caçam clientes até em velório em Brumadinho

Prática pode ser punida pela ordem dos advogados com cassação do registro

- Fabrício Lobel e Júlia Barbon UOL

A barragem de Brumadinho tinha ruído há poucos dias quando dois advogados se aproximara­m de Adilson de Souza, representa­nte dos moradores de uma das regiões atingidas, e pediram que ele recomendas­se seus serviços à comunidade.

Foi só eles virarem as costas que Adilson rasgou o cartão de visitas, sentindo que a sugestão não caiu bem na dor do momento. “Eu não me meto nessas coisas, não”, diz.

Dias depois, a cena se repetiu numa assembleia do bairro Parque da Cachoeira, no mesmo lugar. Sentados num ponto de ônibus na entrada, outros dois advogados discretame­nte entregavam cartões a famílias que se sentiram lesadas pela súbita tragédia.

Além de ser condenada pelos moradores, que dizem se sentir explorados, a depender da abordagem a prática pode ser considerad­a captação de clientes, punida pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) com censuras e até cassação do registro do profission­al.

Nas duas últimas semanas desde o desastre, a OAB de Minas Gerais registrou três representa­ções contra esses profission­ais após acusações de atuação irregular. Os relatos ouvidos na cidade, porém, são ainda mais numerosos.

A ordem em Belo Horizonte recebeu o caso de um advogado que teria ido a um velório coletivo de vítimas em busca de clientes —são 157 mortos e 182 desapareci­dos até agora.

Um anúncio no Facebook, por exemplo, anunciava: “Tragédia em Brumadinho - Garanta sua indenizaçã­o”, indicando o contato de advogados. Foi apagado dias depois.

Houve ainda um pastor que se apresentav­a a moradores como um advogado de fora da cidade. Um dos que pegou seu cartão, porém, foi Ronan Nogueira, presidente da OAB de Brumadinho, que registrou o caso na delegacia.

“Quando eu disse que era presidente da OAB, ele ficou todo preocupado e falou que iria regulariza­r sua situação e depois voltaria. Antes de se retirar, fez uma oração para mim”, conta. O caso está sendo analisado pelo tribunal de ética do órgão de Minas Gerais.

“A atuação dos advogados é livre, o que queremos é blindar Brumadinho de esperta- lhões que estão se aproveitan­do da situação e não estão respeitand­o a dor dos outros.”

Responsáve­l por receber essas acusações, ele diz que os advogados “urubus” vêm de outras cidades e de seis diferentes estados: Goiás (o mais citado), Mato Grosso, Distrito Federal, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro.

O defensor público da União Guilherme Mattar ouviu de moradores que advogados prometeram ajudar na obtenção do repasse de R$ 100 mil anunciado pela Vale aos parentes de vítimas da tragédia. O processo não é judicial e não precisa de advogados.

Representa­ntes das defensória­s públicas estadual e federal têm reforçado sua presença no município para inibir essa prática e oferecer ori- entação jurídica gratuita. Promotores e procurador­es do Ministério Público alertam a população sobre o risco de processos judiciais conduzidos individual­mente.

“Nossa atuação como Ministério Público só terá força em nome de uma comunidade unida. Tudo o que a Vale mais quer é que vocês entrem com ações indenizató­rias individuai­s”, disse, em uma reunião com moradores de Parque da Cachoeira, o promotor André Sperling Prado.

Após a fala, o promotor disse que não poderia desaconsel­har os moradores que quisessem procurar seus advogados pessoalmen­te. “Mas espero que eles sejam muito bons.”

O intenso assédio de profission­ais também aconteceu com as famílias atingidas em Mariana, diz Carlos Schirmer, representa­nte da OAB que acompanha a tragédia de Brumadinho. Até hoje, nenhuma vitima de 2015 foi reassentad­a ou indenizada. dinho (MG) foram soltos na tarde desta quinta (7).

A decisão foi do STJ (Superior Tribunal de Justiça), na última terça (5). Juiz da 2ª Vara Civil Criminal de Execuções Penais, Rodrigo Heleno Chaves expediu o alvará de soltura às 17h de quarta (6), mas que foi cumprido nesta quinta (7).

Os empregados da Vale e os dois engenheiro­s, Makoto Namba e André Yassuda, são acusados de estar diretament­e envolvidos com a queda da barragem. Namba e Yassuda foram responsáve­is por fazer a auditoria da estrutura que se rompeu.

 ?? Reprodução/TV Globo ?? Engenheiro­s e funcionári­os da Vale deixam presídio em Contagem (MG)
Reprodução/TV Globo Engenheiro­s e funcionári­os da Vale deixam presídio em Contagem (MG)

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