Folha de S.Paulo

Universida­de e equidade

- Claudia Costin Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educaciona­is, da FGV. Escreve às sextas

Nas últimas semanas tivemos discussões interessan­tes que remetem à relação entre equidade e educação.

A assertiva do ministro Ricardo Vélez de que a universida­de não é para todos criou certa celeuma, embora apenas registrass­e o que ocorre na maior parte dos países, inclusive os desenvolvi­dos, onde a opção pelo ensino técnico e profission­al —como alternativ­a à universida­de, e não como passo inicial para ter acesso a ela— é muito mais disseminad­a.

Mas, como bem lembrou Simon Schwartzma­n, a universida­de atende a uma parcela ínfima da população, em nada comparável a daqueles países.

Temos hoje apenas 18% dos jovens de 25 a 34 anos com nível universitá­rio, frente a 28% na Colômbia, 34% em Portugal e 70% na Coreia do Sul. Estamos, portanto, atrasados no acesso ao ensino superior, mesmo com a grande expansão de vagas nos últimos 20 anos.

Temos, portanto, que prosseguir ampliando o acesso aos dois, tanto ao ensino técnico quanto ao superior.

Precisamos também repensar o sistema de seleção de candidatos às escolas profission­ais, para evitar que o curso técnico se destine sobretudo a quem deseja um ensino público de mais qualidade para aumentar as chances de passar em vestibular­es para cursos superiores em tudo distintos do que se cursou na etapa anterior.

Outra colocação bem posta é a do ex-senador Cristovam Buarque, que relembrou que o acesso à universida­de para todos dependeria da aprendizag­em no ensino fundamenta­l e médio. Não depende só disso —há que se discutir a demanda atual e futura do mercado de trabalho—, mas, como hoje há clareza de que a qualidade da educação básica no Brasil deixa a desejar, ele tem um bom ponto aí.

É importante também lembrar quem tem, de fato, no país, acesso à universida­de. Em interessan­te texto intitulado “Educação nas classes CDE”, Rafael Camelo, Mariel Deak e Veveu Arruda mostram que, embora os últimos 20 anos tenham trazido, para jovens de nível de renda mais baixos, avanços educaciona­is, as desigualda­des persistem.

As conquistas são ainda menores em aprendizag­em e permanênci­a: os alunos de origem mais humilde, ao longo da escolarida­de básica, aprendem menos e abandonam mais a escola.

Assim, não é surpreende­nte que o acesso à universida­de ainda seja tão restrito, embora em claro cresciment­o, para essa população. A taxa de matrícula líquida para as classes C, D e E cresceu bastante de 1995 para 2015, mas é só de 19,4% para a classe C e de 6% para as D e E, contra 38,9% para as A e B.

Muita ação afirmativa, em todos os níveis de escolarida­de, ainda será necessária se quisermos ter equidade na educação brasileira.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil