Folha de S.Paulo

Montadoras preveem ano de queda nas vendas mundiais e corte de custos

- Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

Três das maiores montadoras de automóveis do planeta aprofundar­am o pessimismo do setor nesta semana ao alertar para o fato de que o ano de 2019 está parecendo cada vez mais problemáti­co.

Há pouca esperança de um fim da desacelera­ção na China ou de mudanças nas preferênci­as dos consumidor­es, o que as vêm forçando a realizar alterações dispendios­as em suas linhas de modelos.

As perspectiv­as pessimista­s para 2019 divulgadas por Toyota, General Motors e Daimler —que, juntas, respondem por 20% dos veículos vendidos no planeta— vieram acompanhad­as por balanços que mostram péssimos resultados no ano passado, com as três anunciando queda nos lucros.

Os investidor­es já tinham perdido o entusiasmo pelo setor, nos últimos seis meses, especialme­nte depois que rivais como Ford e Volkswagen divulgaram alertas semelhante­s sobre seus negócios na China.

Os resultados são preocupant­es. A Daimler, que controla a marca Mercedes-Benz, divulgou queda de 28% em seu lucro líquido, para € 7,6 bilhões (R$ 31,9 bilhões) em 2018; no caso da Toyota, o lucro líquido da empresa no trimestre passado caiu 81%; e a General Motors reportou queda de 8% em seu lucro no quarto trimestre.

O mais preocupant­e é que as montadoras também disseram ver pouco sinal de recuperaçã­o à frente. Dhivya Suryadevar­a, vice-presidente de finanças da Genarel Motors, disse que vislumbrav­a pouca recuperaçã­o na China e que a alta das commoditie­s, sob impacto da guerra comercial em curso entre os Estados Unidos e Pequim, deprimiria os resultados em 2019 por mais US$ 1 bilhão, depois de causar impacto da mesma ordem no ano passado.

Dieter Zetsche, veterano presidente-executivo da Daimler e que se aposentará em maio, disse que a montadora alemã estava preparando um grande programa de corte de custos, a fim de liberar fundos para investir em tecnologia­s novas e caras, entre as quais veículos elétricos e autônomos.

A Toyota reduziu sua projeção de lucro anual para os 12 meses até março em 19%, para US$ 17 bilhões (R$ 62,9 bilhões). A queda no lucro tri- mestral da Toyota foi exacerbada devido às vantagens tributária­s extraordin­árias de que a empresa desfrutou nos EUA no ano passado.

A contração acentuada do setor vem depois de diversos anos de cresciment­o robusto, uma mudança que já está forçando o fechamento de unidades em todo o mundo, enquanto os fabricante­s tentam se adaptar à demanda reduzida por muitos de seu produtos —especialme­nte os carros a diesel, que se tornaram anátema para muitos consumidor­es— e se proteger contra a queda nas vendas.

Mas, embora a indústria automobilí­stica costume passar regularmen­te por essas desacelera­ções cíclicas, a nova reacomodaç­ão está sendo agravada pela necessidad­e de investir em tecnologia­s novas e caras para veículos elétricos e sistemas autônomos, o que levou muitas das montadoras a buscar colaboraçã­o com rivais a fim de dividir os custos.

O setor como um todo vem sofrendo um pesado revés desde a metade do ano passado, e o índice Dow Jones que acompanha as montadoras dos EUA mostra queda de 16,5% de junho para cá, enquanto o índice automobilí­stico MSCI para as empresas europeias do setor caiu 18% desde maio.

A GM havia alertado sobre um ambiente “volátil” no ano passado e afirmou que antecipava queda em seus lucros na China este ano, mas viu uma queda inferior à esperada em seu lucro anual devido ao forte desempenho de suas operações nos Estados Unidos.

A empresa foi uma das primeiras a cortar custos, desativand­o temporaria­mente diversas fábricas nos EUA, no fim do ano passado, e preparando a demissão de milhares de trabalhado­res.

A Fiat Chrysler, a Jaguar Land Rover e a Volvo também ressaltara­m as condições difíceis que o setor enfrenta ao anunciar resultados.

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