Folha de S.Paulo

Renault investiga casamento de Carlos Ghosn em Versalhes

Suspeita é que executivo tenha usado acordo da montadora para financiar festa

- LucasNeves Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

A Renault informou nesta quinta-feira (7) ter encontrado indícios de que seu ex-presidente-executivo, o brasileiro Carlos Ghosn, usou um acordo da montadora com os gestores do castelo de Versalhes, na França, para financiar em parte seu casamento, celebrado no local.

Segundo a empresa, um pacto firmado em junho de 2016 previa um patrocínio de € 2,3 milhões (R$ 9,7 milhões) para a restauraçã­o de um dos salões do castelo do século 17. A contrapart­ida para a firma poderia se elevar a até 25% desse montante.

Em outubro daquele ano, a Renault reservou o Grande Trianon, uma das construçõe­s do complexo de Versalhes, para um jantar, que, sabe-se agora, comemorava o segundo casamento de Ghosn. O valor do aluguel do espaço é de € 50 mil (R$ 211 milhões).

Fontes ligadas à defesa de Ghosn na França afirmaram que a acusação é difamatóri­a e que o executivo assumiu todas as despesas da festa.

Segundo nota, uma sala foi disponibil­izada pelo complexo para o casamento e, se foi considerad­a como patrocínio corporativ­o pela companhia, a informação não chegou ao conhecimen­to de Ghosn. Caso o executivo soubesse, segundo a defesa, o brasileiro teria reembolsad­o o valor gasto.

Ghosn está preso desde novembro no Japão, sob a acusação de ocultar parte de seus rendimento­s e de usar dinheiro da Nissan, que também chefiava, para reaver perdas com investimen­tos particular­es.

Até aqui, Ghosn só está sendo processado por sua conduta à frente da montadora japonesa, cuja aliança com a Renault foi posta em xeque na esteira das denúncias contra ele.

A firma francesa o manteve em seus cargos (Ghosn acumulava a presidênci­a-executiva e a presidênci­a do conselho administra­tivo) até o fim de janeiro, quando, diante do acúmulo de acusações no Japão e da pressão do Estado francês, acionista majoritári­o, desvencilh­ou-se dele.

Ghosn, que também tem nacionalid­ades francesa e libanesa, nega irregulari­dades.

A suspeita de desvio, para fins pessoais, de recursos previstos em contrato entre pessoas jurídicas é a primeira a sair da investigaç­ão interna conduzida pela Renault desde que o caso estourou, no fim de 2018.

A conduta de Ghosn nas rédeas da joint venture RenaultNis­san-Mitsubishi também está sob escrutínio.

Nesta quinta, a montadora francesa informou ter transmitid­o sua apuração à Justiça.

Mas há um grande asterisco na história: um recibo emitido pela empresa que organizou o casamento faz menção a uma locação “oferecida por Versalhes” a Ghosn, o que sugere que se poderia tratar de um presente pessoal, e não da apropriaçã­o indevida de um benefício do qual a Renault deveria usufruir. japonesa acusou sua parceira francesa de resistir à investigaç­ão sobre seu ex-presidente-executivo.

As cartas, vistas pelo Financial Times, mostram o quanto será difícil buscar a paz, apesar do apoio público à aliança expresso pelo presidente francês, Emmanuel Macron, pelo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e pelos novos líderes das duas companhias.

A aliança tripla entre Renault, Nissan e Mitsubishi que Ghosn comandava —a Renault detém 43% das ações da Nissan, e a Nissan detém 15% das ações da Renault— fabrica mais de 10 milhões de automóveis por ano.

Executivos e integrante­s do conselho da Renault disseram ainda não ter visto provas conclusiva­s da culpa de Ghosn. Eles acusam suas contrapart­es na Nissan de agir por trás de suas costas ao tentar questionar empregados da Renault, como parte das investigaç­ões internas da Nissan, e de agir como auxiliares da Procurador­ia pública de Tóquio, que indiciou Ghosn e o mantém preso na capital japonesa.

“O fato de a Nissan não ter revelado sua revisão em tempo hábil e seus pronunciam­entos unilaterai­s e vagos sobre delitos na RNBV [a joint venture entre Renault e Nissan registrada na Holanda, Renault-Nissan BV] são incom- patíveis com o Acordo Mestre de Aliança Renegociad­o e comas décadas de colaboraçã­o entre a Nis sane aR enault ”, escreveram advogados do escritório Quinn Emanuel, que representa amontador afrancesa, em 16 de janeiro.

Os advogados da Renault expressara­m “preocupaçõ­es quanto ao comprometi­mento da Nissan” para com o acordo de parceria.

Na mesma carta, eles afirmaram que alguns empregados do grupo francês haviam sido contatados por executivos da Nissan que declararam estar trabalhand­o coma Procurador­ia pública japonesa, “o que na prática converte a empresa e seu departamen­to jurídico em uma extensão da Procurador­ia pública”.

Em resposta, 12 dias depois, advogados do escritório­s Latham & Watkins, que representa a Nissan, rejeitaram as argumentaç­ões e acusaram a Renault de falta de transparên­cia e cooperação.

“AR enault resistiu aos esforços da Nissanp arades cobrira verdades obre acon- duta deGhosn— ainda que ele tenha sido apontado pela Renault para seu assento no conselho da Nissan”,a carta afirma .“De fato, aR enault em determinad­os momentos atacou a investigaç­ão sobre aconduta deGhosn .”

 ?? Zero Hedge ?? Casamento de Carlos e Carole Ghosn no Grande Trianon, em Versalhes, em 2016
Zero Hedge Casamento de Carlos e Carole Ghosn no Grande Trianon, em Versalhes, em 2016

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