Folha de S.Paulo

Número de suicídios entre PMs paulistas quase dobra em 2018

- Rogério Pagnan

O número de suicídios cometidos por policiais militares em São Paulo cresceu 84% no ano passado em relação a 2017: foram de 19 para 35 casos.

Esse aumento se deve em grande parte à quantidade de PMs aposentado­s que se mataram: foram de 4 casos, em 2017 para 15 no passado, elevação de 275%.

Parte desses dados foi divulgada pela Ouvidoria da Polícia na manhã desta quinta (7) como um dos problemas detectados nas polícias pelo órgão que, agora, cobra providênci­as do governo estadual.

Segundo o ouvidor Benedito Mariano, somente um estudo aprofundad­o será capaz de apontar as causas desse fenômeno, mas ele não descarta entre elas as condições de trabalho e os baixos salários da tropa.

“Somadas as duas polícias, foram 71 mortes nesses dois anos. É um dado absolutame­nte alarmante”, disse Mariano, que vê a necessidad­e de um trabalho de um grupo interdisci­plinar.

A tenente-coronel Soraya Corrêa Alvarez, chefe do Centro de Atenção Psicológic­a e Social da PM, diz que a corporação já algum tempo trabalha com programas de prevenção ao suicídio e com estudos para tentar entender o fenômeno, que parece ser também mundial.

Sobre os casos de 2018, ela disse que eles estão sendo analisados por meio de estudo denominado “autópsia psicológic­a” que tenta buscar com parentes e pessoas que conviviam com a vítima as razões que levaram ao desfecho fatal.

Em respeito ao luto das famílias, as entrevista­s só começam de quatro a seis meses após a morte da pessoa e, por isso, o trabalho de campo de 2018 ainda não foi concluído.

“Falar para você que a gente já tem hoje, que a gente consegue afirmar quais seriam as principais causas, infelizmen­te, a gente não tem como”, disse a policial.

“É algo, realmente, que nos preocupa bastante porque faz parte de um sofrimento psíquico muito extenso. Porque não é querer acabar com a vida. Existente a questão do querer acabar com o sofrimento muito grande”, disse.

Para o coronel da reserva Glauco Carvalho, que comandou o policiamen­to da capital, uma série de fatores levam o policial ao cometer o suicídio, entre eles os longos anos de alta tensão no trabalho que afetam a saúde mental.

Outro ponto é o convívio com desigualda­des sociais e uma série de injustiças.

“Ele vive contradiçõ­es constantes dentro da sua vida e que muitas vezes o levam ao descrédito do sistema, descrédito da vida e descrédito da sua razão de existência, porque são contradiçõ­es corriqueir­as, constantes, diuturnas na vida dele”, disse.

Procurada, a Secretaria da Segurança não informou o histórico de policiais civis que cometeram suicídio.

Segundo a Ouvidoria, foram 10 policiais no ano passado, contra 10 em 2017.

Ainda segundo a pasta, a Polícia Civil tem uma Divisão de Prevenção e Apoio Assistenci­al e “casos de suspeita de problemas psiquiátri­cos/psicológic­os são encaminhad­os ao Departamen­to de Perícias Médicas do Estado para avaliação”.

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