Folha de S.Paulo

Após críticas, CFM vai rever norma sobre consultas a distância

- Natália Cancian

Em meio a críticas de entidades médicas, o CFM (Conselho Federal de Medicina) vai rever a norma que autoriza profission­ais a realizar consultas online e outros atendiment­os a distância, como diagnóstic­os e cirurgias.

O prazo para a norma entrar em vigor, previsto para maio, também pode ser adiado.

A decisão foi tomada após reunião da autarquia com 27 presidente­s de conselhos regionais de medicina. Desde terça (5), representa­ntes de conselhos de estados de todas as regiões do país têm manifestad­o preocupaçã­o com possíveis impactos da nova norma, anunciado nesta semana.

Parte avalia que a medida pode facilitar o acesso a alguns serviços. Outros apontam possíveis riscos na manutenção do sigilo da prática médica nos atendiment­os online e temor que a avaliação a distância atrase diagnóstic­os.

Para médicos, também falta definir o que são áreas remotas —nesses casos, o primeiro atendiment­o já pode ocorrer de forma virtual. Do contrário, o primeiro contato deve ser presencial.

“O que são áreas geografica­mente remotas? A depender do referencia­l, até Miami pode ser uma área remota”, diz Mário Tuschiya, presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo).

Para ele, a norma pode abrir brechas para consultas online mesmo diante da possibilid­ade de ela ser presencial.

Médicos também demonstram temores quanto à segurança dos dados para evitar danos à privacidad­e dos pacientes. A resolução prevê que cabe ao médico gravar e arma- zenar os dados de cada consulta, além de manter prontuário­s em sigilo.

“Será que a indústria farmacêuti­ca não teria interesse em perfil de dados do usuário de assistênci­a médica? Os dados não estariam com o médico, mas em uma nuvem. Quem responde pelo vazamento da informação?”, questiona Tuschiya.

O vice-presidente do CFM, Mauro Luiz de Britto Ribeiro afirmou que tanto a definição de áreas remotas quanto a segurança dos dados devem ser pontos revistos antes de a norma entrar em vigor. A previsão é que, ainda nesta semana, o conselho abra uma consulta pública para receber sugestões de mudanças.

“Se três meses não forem suficiente­s para o debate, podemos prorrogar”, diz Ribeiro.

Em um evento nesta quinta (7) em Brasília, o deputado Hiran Gonçalves classifico­u a norma como “um marco que vem em boa hora”, mas se disse preocupado com um possível favorecime­nto dos planos de saúde em relação aos interesses dos médicos e dos pacientes.

Para Ribeiro, do CFM, a resolução tem o SUS como foco, especialme­nte em áreas com pouco acesso médico, e visa proteger profission­ais que já atuavam em serviços de telemedici­na na rede privada e estavam desamparad­os.

Ele admitiu falhas no processo de discussão e liberação dos atendiment­os a distância. “Acho que o Conselho Federal de Medicina falhou na forma em que optamos de divulgação”, afirma, sobre as críticas de conselhos regionais de medicina que reclamam de não terem sido chamados para o debate. “Temos que aprender com essas situações de crise”.

 ?? Marcos Nagelstein. 14.jun.2018/ Folhapress ?? Consulta em projeto de telemedici­na do SUS, em Porto Alegre
Marcos Nagelstein. 14.jun.2018/ Folhapress Consulta em projeto de telemedici­na do SUS, em Porto Alegre

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