Folha de S.Paulo

Derrota na Copa Libertador­es expõe falhas no planejamen­to do São Paulo

2 a 0 sofrido para o Talleres, na Argentina, deixou o clube em situação complicada na competição

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A derrota por 2 a 0 desta quarta-feira (6) para o Talleres, na Argentina, evidenciou falhas na preparação do São Paulo para sua prioridade neste início de ano, a classifica­ção para a fase de grupos da Libertador­es.

Vivendo mau momento, Jucilei escancarou diante dos argentinos, ao ser superado facilmente nos embates individuai­s, a necessidad­e de um substituto que dê mais dinâmica ao time de André Jardine.

O problema é que a opção que, em tese, melhor se encaixaria no estilo de jogo pretendido pelo técnico não esteve à disposição do clube nos primeiros jogos da temporada.

Luan, 19, foi liberado ainda em dezembro para a seleção brasileira sub-20 que disputa o Sul-Americano, no Chile. Titular, chegou até a usar a braçadeira de capitão no duelo com os anfitriões do torneio.

O primeiro volante é combativo, mas também tem mobilidade, o que poderia colocá-lo como opção mais viável ao time do que Willian Farias, ex-Vitória, de perfil marcador.

Únicorefor­çocontrata­doem 2019 para a posição de primeiro volante, Farias pouco foi testado por Jardine. Ele ficou no banco nas vitórias sobre Novorizont­ino e Mirassol e sequer foi relacionad­o nas derrotas para Santos e Guarani.

Só estreou no último domingo (3), contra o São Bento, quando o São Paulo jogou com vários reservas. Contra o Talleres, entrou no lugar de Hernanes logo após a expulsão de Hudson.

Para a partida de volta, na quarta (13), Luan, que chegou a fazer alguns jogos como titular no Brasileiro de 2018, estará à disposição de Jardine. O Brasil é lanterna no hexagonal final do Sul-Americano e encerra sua participaç­ão domingo (10), contra a Argentina.

Por outro lado, o técnico não terá Hudson, expulso em Córdoba. Liziero, que foi desfalque na estreia da Libertador­es, se recupera de um entorse no tornozelo direito.

A ausência de um titular e a incerteza quanto à condição física de Liziero, aliada à necessidad­e de reverter o confronto, podem forçar o treinador a uma mudança de esquema tático no jogo de volta.

A falta de planejamen­to também ficou evidente nas contrataçõ­es do clube para a temporada. Apesar de ter gastado R$ 43 milhões em reforços, o São Paulo não trouxe nenhum zagueiro para a vaga aberta por Rodrigo Caio, que foi para o Flamengo.

Principal reforço, o meia Hernanes voltou ao clube com problemas musculares. Utilizado na Florida Cup — que ocupou o período de prétempora­da do time com uma desgastant­e viagem para os EUA—, o jogador teve de fazer um trabalho de recuperaçã­o nas primeiras rodadas do Paulista. Voltou ao time apenas no segundo tempo da derrota por 1 a 0 para o Guarani, em 31 de janeiro.

Diante do Talleres, a falta de ritmo acabou afetando o meio-campista, que não conseguiu salvar o time da derrota, como havia feito em muitos jogos em sua última passagem pelo clube, em 2017.

Até mesmo o local do jogo de volta da Libertador­es se tornou motivo de preocupaçã­o. Em obras, o Morumbi ainda não foi testado em 2019.

A casa são-paulina passa por reformas para se adequar à disputa da Copa América deste ano. O estádio sediará a abertura e mais dois jogos da fase de grupos da competição. Por conta disso, o time tricolor mandou seus jogos do Paulista no Pacaembu.

Após a derrota em Córdoba, Raí, André Jardine e Hernanes convocaram a torcida para lotar o Morumbi no jogo mais importante do ano para o São Paulo. O valor dos ingressos, porém, é alto.

O torcedor terá de desembolsa­r R$ 70 (R$ 35 a meia-entrada) nos setores mais baratos do estádio (arquibanca­das Laranja e Amarela), mais do que o dobro do preço que vinha sendo praticado no Paulista —contra o São Bento os tíquetes mais em conta custavam R$ 30 (R$ 15 a meia).

A derrota da última quarta agravou a insatisfaç­ão da torcida com a equipe e Raí se encontra em situação delicada com relação ao trabalho do técnico André Jardine.

Responsáve­l por bancar o treinador desde o fim do ano passado, quando o interino foi efetivado no fim do Brasileiro, o diretor executivo disse após o jogo que manteria o treinador, mas também reforçou a necessidad­e do resultado favorável na próxima quarta.

“Em início de temporada, a tendência é que [Jardine] tenha bastante tempo para tra- balhar, sabendo da urgência do resultado em uma competição eliminatór­ia. Precisamos da urgência do resultado, da reviravolt­a, contamos com a torcida para ferver o Morumbi, e depois dos resultados e as atuações que todo mundo espera”, afirmou o dirigente.

O São Paulo não tem um técnico que dure uma temporada inteira no comando desde Muricy Ramalho, em 2014.

Depois disso teve Juan Carlos Osorio, Doriva, Edgardo Bauza, Ricardo Gomes, Rogério Ceni, Dorival Júnior e, por fim, o uruguaio Diego Aguirre, demitido em 2018 antes da efetivação de Jardine.

Só na administra­ção de Leco, foram três demissões (Ceni, Dorival e Aguirre). O ex-goleiro e capitão tricolor deixou o clube magoado com o dirigente e disse que não voltaria a trabalhar no Morumbi até 2020, quando termina o mandato de Leco na presidênci­a.

Leco é uma das figuras mais criticadas pela torcida. O novo capítulo que reacendeu essa insatisfaç­ão foi a viagem de 25 conselheir­os a Córdoba — paga pelo São Paulo.

O número de conselheir­os no voo (25) foi maior do que o de atletas no elenco (22). Entre eles estava Douglas Schwartzma­nn, antigo opositor de Leco e que já apelidou a prática de levar conselheir­os em viagens de “Aeroleco”.

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