‘Weinstein foi um grande produtor’, diz Binoche
Para atriz que preside o júri do Festival de Berlim, acusado de assédio já teve o suficiente e agora é a hora da Justiça
Presidente do júri da atual edição do Festival de Berlim, a atriz Juliette Binoche surpreendeu quem esperava dela alguma declaração mais combativa em relação ao produtor hoje arruinado Harvey Weinstein.
“Não podemos nos esquecer de que ele foi um grande produtor”, afirmou a francesa na conversa com a imprensa que abriu a mostra alemã de cinema, na manhã desta quinta-feira (7). “Muitas pessoas já se posicionaram, inclusive eu. Acho que ele teve o suficiente e agora é a hora de a Justiça fazer o trabalho.”
Harvey Weinstein foi indicado no ano passado sob a acusação de ter cometido crimes sexuais, entre eles o assédio e o estupro de mulheres ao longo de três décadas. Se condenado, pode ter de cumprir 25 anos de prisão.
A fala da atriz ressoa, de alguma forma, a posição, menos radical, que artistas e intelectuais francesas têm manifestado em relação ao movimento feminista #MeToo. No ano passado, sua conterrânea Catherine Deneuve criticou a sanha condenatória de suas colegas americanas em relação ao tema do assédio.
Binoche comemorou o grande número de diretoras, sete no total, na competição deste ano. “Dieter [Kosslick, diretor do festival] me disse que estava feliz porque não teve de selecioná-los por serem dirigidos por mulheres, mas porque são efetivamente bons. É um bom sinal.”
A seu lado, Rajendra Roy, curador-chefe da parte de cinema do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), trajava uma camiseta vermelha com os dizeres “The Future Is Female” (o futuro é feminino, em português). Ele também integra o júri do Festival de Berlim.
Além de Binoche e Roy, também fazem parte do corpo de jurados desta edição da mostra de cinema a atriz alemã Sandra Hüller (“Toni Erdmann”), a produtora britânica Trudie Styler (“Skin”), o diretor chileno Sebastián Lelio (“Uma Mulher Fantástica”) e o crítico americano Justin Chang.
Eles foram questionados sobre a presença de uma produção da Netflix na competição (“Elisa y Marcela”, da espanhola Isabel Coixet). Mostras como a de Cannes têm sido inflexíveis e não admitem produções do streaming em sua seção principal.
“Podemos questionar a forma como essas empresas fragilizam o cinema independente, mas são uma nova forma de produção e, como tudo o que é novo, são empolgantes”, disse Binoche. Ela afirmou que “Elisa y Marcela” será exibido nos cinemas espanhóis, o que derrubaria críticas a respeito de sua escalação.
Já o cineasta Sebatián Lelio foi mais enfático em sua defesa do circuito tradicional de exibição. “Me pergunto se um filme terá a mesma relevância cultural se ele não é lançado nos cinemas”, disse o diretor. “Estamos numa encruzilhada, mas sou um defensor da experiência coletiva de se ver um filme nas salas.”