Folha de S.Paulo

‘Weinstein foi um grande produtor’, diz Binoche

Para atriz que preside o júri do Festival de Berlim, acusado de assédio já teve o suficiente e agora é a hora da Justiça

- Guilherme Genestreti O jornalista se hospeda a convite do Festival de Berlim

Presidente do júri da atual edição do Festival de Berlim, a atriz Juliette Binoche surpreende­u quem esperava dela alguma declaração mais combativa em relação ao produtor hoje arruinado Harvey Weinstein.

“Não podemos nos esquecer de que ele foi um grande produtor”, afirmou a francesa na conversa com a imprensa que abriu a mostra alemã de cinema, na manhã desta quinta-feira (7). “Muitas pessoas já se posicionar­am, inclusive eu. Acho que ele teve o suficiente e agora é a hora de a Justiça fazer o trabalho.”

Harvey Weinstein foi indicado no ano passado sob a acusação de ter cometido crimes sexuais, entre eles o assédio e o estupro de mulheres ao longo de três décadas. Se condenado, pode ter de cumprir 25 anos de prisão.

A fala da atriz ressoa, de alguma forma, a posição, menos radical, que artistas e intelectua­is francesas têm manifestad­o em relação ao movimento feminista #MeToo. No ano passado, sua conterrâne­a Catherine Deneuve criticou a sanha condenatór­ia de suas colegas americanas em relação ao tema do assédio.

Binoche comemorou o grande número de diretoras, sete no total, na competição deste ano. “Dieter [Kosslick, diretor do festival] me disse que estava feliz porque não teve de selecioná-los por serem dirigidos por mulheres, mas porque são efetivamen­te bons. É um bom sinal.”

A seu lado, Rajendra Roy, curador-chefe da parte de cinema do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), trajava uma camiseta vermelha com os dizeres “The Future Is Female” (o futuro é feminino, em português). Ele também integra o júri do Festival de Berlim.

Além de Binoche e Roy, também fazem parte do corpo de jurados desta edição da mostra de cinema a atriz alemã Sandra Hüller (“Toni Erdmann”), a produtora britânica Trudie Styler (“Skin”), o diretor chileno Sebastián Lelio (“Uma Mulher Fantástica”) e o crítico americano Justin Chang.

Eles foram questionad­os sobre a presença de uma produção da Netflix na competição (“Elisa y Marcela”, da espanhola Isabel Coixet). Mostras como a de Cannes têm sido inflexívei­s e não admitem produções do streaming em sua seção principal.

“Podemos questionar a forma como essas empresas fragilizam o cinema independen­te, mas são uma nova forma de produção e, como tudo o que é novo, são empolgante­s”, disse Binoche. Ela afirmou que “Elisa y Marcela” será exibido nos cinemas espanhóis, o que derrubaria críticas a respeito de sua escalação.

Já o cineasta Sebatián Lelio foi mais enfático em sua defesa do circuito tradiciona­l de exibição. “Me pergunto se um filme terá a mesma relevância cultural se ele não é lançado nos cinemas”, disse o diretor. “Estamos numa encruzilha­da, mas sou um defensor da experiênci­a coletiva de se ver um filme nas salas.”

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Tobias Schwarz/AFP A atriz francesa Juliette Binoche no tapete vermelho da abertura do Festival de Berlim

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