Folha de S.Paulo

Governador da Virgínia é acusado de racismo e vice, de abuso

- DB

Começou com uma notícia que, sozinha, já dava pano para manga: fotos do anuário da turma de 1984 da faculdade de Medicina de Eastern Virginia mostram o governador do estado, o democrata Ralph Northam, pintado de negro e ao lado de um jovem vestido como um membro da Ku Klux Klan, o grupo de supremacis­tas brancos.

Nos Estados Unidos, o uso de pintura ou maquiagem para escurecer a pele e se passar por negro, em técnica conhecida como “blackface”, é condenado por causa do passado de segregação racial do país.

Na sexta-feira (1º), a notícia de que Northam, 59, havia sido fotografad­o não só usando blackface mas ao lado de um colega vestido de membro da KKK reabriu feridas na Virgínia, um dos estados que simbolizou a luta dos Confederad­os pela manutenção da escravidão na Guerra Civil americana.

Ato um, ainda na noite de sexta-feira: o governador disse que era uma das pessoas da foto e pediu desculpas. Ato dois, sábado: o democrata recuou e afirmou que, na verdade, não era ele, embora tenha admitido que usou blackface no passado, ao se fantasiar como Michael Jackson.

Vários políticos vieram a público pedir a renúncia do democrata, incluindo aliados como o ex-governador Terry McAuliffe e legislador­es estaduais. Outros membros proeminent­es do partido, como as senadoras Elizabeth Warren, de Massachuse­tts, Kamala Harris, da Califórnia, e Kirsten Gillibrand, de Nova York, se somaram a essas vozes para condenar o colega de legenda.

“A história da Virgínia infelizmen­te é repleta de cicatrizes e feridas não curadas causadas pelo racismo, pela intolerânc­ia e pela discrimina­ção”, afirmou o procurador-geral da Virgínia, o também democrata Mark Herring, 57.

A ironia das ironias: nesta terça (5), foi a vez de Herring admitir que ele mesmo havia usado a técnica para se passar pelo rapper Kurtis Blow em festa da universida­de quando tinha 19 anos. Segundo Herring, isso ocorreu uma vez só. Ele assumiu responsabi­lidade pelo episódio.

Mas a polêmica racial não é a única a tomar conta do noticiário do estado. O vice-governador, Justin Fairfax, 39, também tem sido assombrado por episódios de seu passado.

No domingo (3), ele foi acusado por uma professora da Califórnia de abuso sexual cometido em 2004 durante a convenção nacional do partido, acusação que nega.

Nesta sexta-feira (8), mais uma mulher afirmou ter sido abusada sexualment­e por Fairfax. Segundo Meredith Watson, ele a atacou em 2000, quando os dois eram estudantes na Universida­de Duke. Fairfax nega as acusações.

Os democratas se veem agora num escândalo de abuso sexual envolvendo um político da legenda, após a pressão exercida no caso das três mulheres que acusaram de assédio o juiz conservado­r Brett Kavanaugh, indicado pelo presidente Donald Trump à Suprema Corte americana.

A sucessão de escândalos deu um nó na linha de sucessão da Virgínia. Se Northam decidisse renunciar, o cargo de governador passaria para Fairfax. Herring seria o próximo na fila.

Northam tenta se manter no cargo até o fim da Assembleia Geral, sessão conjunta da Câmara e do Senado estadual, em 23 de fevereiro. Se renunciar, pode criar incerteza no governo em relação ao orçamento estadual e deixar pendentes várias legislaçõe­s.

“É uma bagunça”, afirmou o senador estadual Lionell Spruill depois de sair de um encontro com representa­ntes do movimento negro e o governador.

Na manhã desta quinta (7), o presidente Donald Trump escreveu em rede social que os democratas estavam “matando o grande estado da Virgínia”. Ele previu ainda que o estado voltaria às fileiras republican­as na eleição de 2020.

Mas, nesta mesma quinta, os republican­os da Virgínia viram o partido envolvido num caso de racismo. O líder da maioria republican­a no Senado, Thomas Norment, teria ajudado a supervisio­nar um anuário do Instituto Militar da Virgínia que continha fotos racistas e ofensas raciais, entre elas pessoas usando blackface.

Norment, senador estadual desde 1992, foi responsáve­l pelo anuário, publicado em 1968, segundo o jornal The Virginian-Pilot. Em uma das páginas, um estudante usa blackface em uma festa. Em outra, dois homens de blackface seguram uma bola de futebol americano. Questionad­o, o republican­o não quis comentar o episódio.

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