Folha de S.Paulo

IOF no câmbio pode mudar para país ir à OCDE

Clube de ricos no qual Brasil quer entrar é contra cobrança; operações isentas poderão pagar tributo e outras ter isenção

- -Julio Wiziack e Mariana Carneiro

Para superar uma das travas à adesão do Brasil à OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico), o Ministério da Economia estuda aumentar a alíquota de IOF de operações de câmbio que hoje estão isentas.

A medida será necessária para compensar uma perda de arrecadaçã­o caso o país seja obrigado a atender a algumas exigências da organizaçã­o.

Hoje, o IOF incide sobre vários tipos de operações de câmbio e gera uma receita de R$ 5 bilhões por ano aos cofres da União.

O governo não pode abrir mão de receitas em um momento de aperto fiscal.

Mas a OCDE condena a cobrança, pois considera que o imposto funciona como uma espécie de “câmbio múltiplo”, que na prática faz com que transações no exterior tenham custos diferencia­dos dependendo da operação.

Pessoas que participam das discussões no governo afirmam que o país vai tentar uma saída alternativ­a.

Em vez de acabar com o IOF-Câmbio, pretende propor a redução do número de alíquotas hoje existentes.

Na primeira semana do go- verno Jair Bolsonaro, houve um bate-cabeça entre o Palácio do Planalto e o Ministério da Economia, e o próprio presidente chegou a anunciar aumento em alíquotas do IOF, por meio de decreto, para compensar a prorrogaçã­o de benefícios fiscais para empresas do Norte e Nordeste.

A fala presidenci­al acabou sendo desmentida, e a elevação não ocorreu de fato.

Atualmente, elas são quatro: 0%; 1,1%; 6%; e 6,38%.

Compras feitas no cartão de crédito cobram 6,38% sobre o valor da operação, por exemplo.

Empresas que tomam empréstimo­s no exterior com o prazo de até seis meses recolhem 6% do tributo.

Remessas para residentes no exterior e aquisição de moedas estrangeir­as em casas de câmbio, 1,1%.

Operações de internaliz­a- ção dos recursos obtidos com a exportação são isentas, assim como os dividendos remetidos ao exterior. Dezenas de outras transações são isentas.

A ideia é propor a permanênci­a de apenas duas alíquotas, simplifica­ndo a estrutura do IOF-Câmbio.

Para compensar a perda de arrecadaçã­o, categorias hoje isentas deverão ser taxadas. Ainda não se sabe quem arcará com esse ônus.

O Brasil previa entregar a proposta de redução do número de alíquotas nesta sexta-feira (8) à OCDE, como mais uma etapa no processo de adesão do país à organizaçã­o internacio­nal.

Para o Brasil, ser aceito seria a chance de integrar um grupo que reúne os países mais ricos e influentes do mundo, que criam regras internacio­nais que passam a ser adotadas por todas as nações.

Fazer parte desse clube significa participar da elaboração desses regramento­s.

Para aderir, no entanto, o país tem de seguir parâmetros adotados pelos outros sócios.

Com isso, o governo espera ganhar credibilid­ade externa, o que no longo prazo reduziria os custos de financiame­nto ao país e a empresas brasileira­s.

O governo se prepara para a adesão desde 2017, mas o caminho é difícil, tanto do ponto de vista do cumpriment­o das regras quanto da aceitação pelos Estados Unidos, principal membro da OCDE.

No passado, Donald Trump expressou a preferênci­a pela Argentina ao Brasil. Ainda assim, o país segue com os preparativ­os para a adequação.

Nesta sexta (8), o Brasil entregaria uma carta com todas as suas reservas ou limitações às regras da OCDE.

A organizaçã­o não é a única a condenar o IOF-Câmbio. O FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) faz críticas constantes a essa taxação de operações financeira­s.

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