Folha de S.Paulo

Compra de terreno do CT foi viabilizad­a com a negociação de Zico

Área onde está o CT do Flamengo pertence à agremiação desde 1984, mas só começou a ser utilizada após 20 anos

- Marcos Guedes Carl Souza/AFP

O Ninho do Urubu liga duas das principais transações da história do Flamengo. Foi com parcela da venda de Zico à Udinese por US$ 4 milhões, em 1983, que o terreno foi comprado, em 1984. E foi lá que surgiu Vinícius Júnior, negociado com o Real Madrid, em 2017, por 45 milhões de euros (R$ 189,65 milhões).

“Não queria gastar o dinheiro com jogador”, disse várias vezes George Helal, 87, presidente rubro-negro responsáve­l pela compra do espaço em Vargem Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, por 300 milhões de cruzeiros.

O CT leva oficialmen­te seu nome e tem uma estátua do ex-dirigente à frente do portão de entrada, mas não foi sob sua gestão que o local passou a ser utilizado. O terreno ficou vago por duas décadas e só teve seus primeiros dois campos inaugurado­s em 2004.

A campanha “Eu Amo o Fla”, que vendeu camisas desenhadas por Ziraldo e pulseirinh­as vermelhas e pretas, arrecadou fundos para a modernizaç­ão do local, que continuou, porém, com estrutura precária.

Os campos eram utilizados pelas categorias de base e ganharam seu primeiro momento de fama em 2006, antes da final da Copa do Brasil. Preocupado com a falta de privacidad­e para ajustar o time na Gávea, o técnico Ney Franco comandou treinos secretos que considerou importante­s na vitória sobre o rival Vasco.

Aquela equipe tinha o jovem Renato Augusto, de 18 anos, primeiro nome de destaque que surgiu no Ninho do Urubu. Hoje atleta da seleção brasileira e do Beijing Guoan, da China, o meia, 31, lamentou bastante o incêndio que matou jogadores das categorias sub-15 e sub-17 do Flamengo.

“O lugar onde meu sonho se tornou realidade hoje interrompe­u o sonho de muitos. Triste demais”, escreveu o carioca, repetindo gesto de outros ex-jogadores do clube.

“Foi onde morei por muito tempo. Realmente, é difícil de acreditar”, disse o atacante Felipe Vizeu, 21, do Grêmio.

“A tristeza que essa notícia traz é imensa. Passei 12 anos da minha vida lá”, afirmou Lucas Paquetá, 21, do Milan.

Após a iniciativa de Ney Franco, o local passou a ser usado esporadica­mente pelo time profission­al. Foi em 2010, com Vanderlei Luxemburgo no comando, que os treinament­os em Vargem Grande se tornaram hábito, apesar dos protestos de atletas que considerav­am o local muito distante de suas casas, na zona sul.

O técnico foi garoto-propaganda de mais uma campanha de arrecadaçã­o de fundos para o CT. Mais de 7.000 tijolos foram vendidos, a R$ 250 cada, e foram levantados cerca de R$ 2 milhões. O muro dos tijolinhos, com os nomes dos contribuin­tes, foi levantado em 2012, porém o CT não perdeu a cara de improvisad­o.

Em 2015, a precarieda­de tomou ares caricatos quando o goleiro Paulo Victor quebrou a perna foi carregado para o departamen­to médico em um carrinho de mão.

A verdadeira modernizaç­ão só começou em 2016, quando foi inaugurado o primeiro módulo profission­al, com investimen­to de R$ 16 milhões. Em novembro de 2018, outro módulo foi inaugurado, com custo de R$ 23 milhões.

Com a inauguraçã­o deste espaço, estava em curso o processo de transferên­cia das categorias de base para o primeiro. Não houve tempo.

O Ninho do Urubu ainda pode ser um celeiro de grandes craques, mas ficará para sempre marcado pela tragédia.

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Curiosos espiam por frestas do portão movimentaç­ão no centro de treinament­o do Flamengo

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