Folha de S.Paulo

Direção de órgão regulador tem ex-Vale e ex-deputado

Investigad­a por crime ambiental também faz parte da cúpula da recém-criada ANM

- Joana Cunha e Nicola Pamplona

A Agência Nacional de Mineração (ANM), responsáve­l pela fiscalizaç­ão das mineradora­s no país, tem na diretoria um ex-funcionári­o da Vale, um ex-deputado e técnicos ligados a políticos de regiões produtoras.

Criada em 2017, a ANM enfrenta crise devido à ruptura da barragem da Vale em Brumadinho (MG). Os diretores afirmam que histórico profission­al ou elos políticos não são conflitant­es com a função.

são paulo e rio de janeiro A ANM (Agência Nacional de Mineração), responsáve­l pela fiscalizaç­ão das mineradora­s do país, tem em sua diretoria um ex-funcionári­o da Vale, um ex-deputado e técnicos ligados a políticos de regiões produtoras.

A cúpula do órgão é composta por cinco membros, todos nomeados pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) para mandatos de dois a quatro anos, em um processo criticado pelo componente político.

Criada em 2017, mas com início das atividades em dezembro de 2018, a agência vive sua primeira grande crise com o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG).

Nomes do mercado e ligados ao PSDB e ao MDB reforçam a percepção interna de ação política por vagas no órgão, que tem em Minas Gerais uma das principais áreas de atuação.

A ANM herdou estrutura, atribuiçõe­s e pessoal do extinto DNPM (Departamen­to Nacional de Produção Mineral).

Servidor de carreira desde 1984, o diretor-geral, Victor Bicca, é o único egresso do comando do antigo órgão.

Sob seu mandato no DNPM, em 2016, a Polícia Federal deflagrou a Operação Timóteo, na qual investigav­a corrupção em cobranças de royalties da exploração mineral. Foi então preso um diretor. Bicca não foi alvo das apurações.

Entre os indicados à ANM estão também Tasso Mendonça, funcionári­o de carreira da Petrobras que ocupava na época a Superinten­dência de Mineração da Secretaria de Desenvolvi­mento de Goiás —estado governado pelo PSDB, na gestão de Marconi Perillo—, e Débora Puccini, que foi diretora no Departamen­to de Recursos Minerais do Rio de Janeiro.

A aprovação do nome de Puccini foi conflituos­a. Sua in- dicação chegou a ser suspensa por ser ré em um processo no Rio de Janeiro para apurar suspeita de crime contra a administra­ção ambiental.

Na sabatina de Puccini no Senado, em novembro de 2018, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que votou contra seu nome, criticou o então ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, pela indicação.

Na ocasião, Puccini disse que o Ministério Público a investigou por praxe e que não havia decisão sobre a acusação.

As indicações para a direção da ANM foram feitas em maio. Em agosto, antes da sabatina no Senado, Temer substituiu dois nomes técnicos.

Para seus lugares, foram apontados Eduardo Leão, que trabalhou para a Vale como funcionári­o ou terceiriza­do entre 2007 e 2015 e depois passou pelo governo do Pará na gestão Simão Jatene (PSDB). O Pará é um dos maiores produtores de minério do país.

Outro escolhido foi Tomás Filho, eleito deputado estadual pelo PSDB em 2006, que se filiou ao MDB em abril de 2018, quatro meses antes de sua indicação. Tomás é filho do prefeito de Santa Quitéria, município cearense que tem um projeto em processo de licenciame­nto ambiental para explorar urânio e fosfato associados em uma jazida.

No DNPM, servidores apontavam também disputas entre grupos ligados ao deputado Aécio Neves (PSDB) e Leonardo Quintão (MDB-MG), relator do Código da Mineração. Minas Gerais também é um estado produtor de minérios.

Quintão foi uma das lideranças da “bancada das mineradora­s” no Congresso. Hoje, ocupa a Subchefia de Assuntos Parlamenta­res da Casa Civil, subordinad­a ao ministro Onyx Lorenzoni.

No DNPM, em 2017, a indicação do ex-vereador Pablo César de Souza, ligado a Aécio, para chefiar a regional mineira provocou um pedido de demissão coletiva de 21 servidores do órgão insatisfei­tos com a inexperiên­cia do nomeado.

Desde a tragédia de Brumadinho, a ANM se manifestou publicamen­te em poucas ocasiões. No dia do desastre, divulgou nota afirmando que tomaria “medidas institucio­nais cabíveis, visando auxiliar na mitigação dos danos”.

No texto, diz que a Vale havia apresentad­o declaraçõe­s de estabilida­de e que as informaçõe­s prestadas pela empresa ao sistema de segurança de barragens não apontavam problemas na estrutura.

Quatro dias depois, anunciou que, ainda no dia 25, determinar­a a interdição do complexo da mina Córrego do Feijão, onde estava a barragem.

No dia 1º, a agência enumera medidas tomadas para melhorar a segurança de barragens após o acidente de Mariana, em 2015, e reforça que os dados apresentad­os pela Vale não apontavam problemas.

Na quarta-feira (6), em entrevista à Folha, Leão defendeu as medidas adotadas pela ANM para elevar a segurança após Mariana, mas reconheceu que as regras atuais não foram suficiente­s para evitar nova catástrofe.

O diretor disse que o órgão vem estudando medidas adicionais e deveria em breve publicar portaria exigindo que as companhias alterem as caracterís­ticas de todas as 88 barragens com alteamento a montante, como as de Mariana e Brumadinho, no país.

“Apliquei multas e notificaçõ­es. Algo em torno de R$ 30 milhões. Em 2018, me coloquei contra a renovação antecipada da concessão da ferrovia de Carajás Eduardo Leão diretor da ANM (Agência Nacional de Mineração)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil