Folha de S.Paulo

Com que cara eu vou?

Lojas populares vendem item carnavales­co com a suposta cara de Bolsonaro, Moro e do ditador coreano Kim Jong-un

- Chico Felitti

Bolsonaro e outros políticos não são reconhecid­os em máscaras de Carnaval

“É o Silvio Santos? Parece, mas a etiqueta diz Político B!” A vendedora da loja de fantasias, na região da rua 25 de Março, tenta decifrar de quem é o rosto retratado na máscara de plástico de R$ 10 que ela tem na mão.

“É o Silvio jovem”, responde a cliente, a administra­dora Silvia Ricardo, 52. Não é. A máscara em questão deveria retratar Jair Bolsonaro. Mas nenhuma das dez pessoa na loja reconhece nela o presidente.

A mesma renovação política que levou Bolsonaro à presidênci­a, criou um ministério de inéditos e alterou mais de 85% da composição do Senado também trouxe um efeito imprevisto no comércio de Carnaval: uma leva de máscaras de políticos que ninguém sabe quem são.

Em uma loja vizinha, outra vendedora se vira para uma máscara de um homem rechonchud­o, com cabelos pretos e bochechas redondas, que está exposta na parede. “Dizem que esse é o [ministro da Justiça Sergio] Moro, né? Um Moro meio gordo, só se for”, diz a funcionári­a da Festas e Fantasias da ladeira Porto Geral, que desemboca na rua 25 de Março. “Parece mais aquele gordinho lá da Câmara [Rodrigo Maia, do DEM, eleito presidente da Câmara pela terceira vez]”, responde o cliente, o estudante Jonas Marcusso.

A nova fornada de máscaras de políticos não saiu como o esperado, admite a fábrica que as criou. Pierre Sfeir, dono da Studio das Fantasias, admite que algo inesperado aconteceu. “Não ficou muito bem a cara. Nosso escultor não acertou muito, não”, diz Sfeir, que também é dono de três das maiores lojas de fantasia do centro de São Paulo.

O dono da fábrica afirma que as máscaras foram feitas por clamor popular. “Mais de dez pessoas por dia perguntava­m em janeiro se tinham máscara do Bolsonaro e do Moro.” É provável, ele diz, que novos modelos sejam criados antes do Carnaval 2020, mas não há tempo de remendar o deslize para o Carnaval deste ano.

Quem fizer questão de ir fantasiado de novo político brasileiro pode apelar para os camelôs. A demanda popular também fez surgir modelos mais simples de máscaras, vendidas em barraquinh­as de rua. Feitas de papelão, as máscaras são fotos impressas em tamanho real dos políticos da situação, com os olhos recortados.

Há o ministro Moro, com o cabelo penteado para a esquerda, o presidente Jair Bolsonaro com a boca aberta, mostrando os dentes inferiores em desalinho, e a primeira-dama Michelle Bolsonaro, sorrindo.

Mas nem todos os novos moldes de máscaras de líder deram errado em 2019.

Um rosto asiático rechonchud­o, de óculos e cabelo arrepiado, foi reconhecid­o por quatro clientes em menos de cinco minutos: “É o cara da Coreia!”, cravou o técnico de informátic­a Breno Filho, 18.

Sim, a máscara retrata Kim Jong-un, ditador da Coreia do Norte. No Carnaval de 2016, a Folha revelou que lojas da região vendiam a máscara do ditador nazista Adolf Hitler. À época, o dono da fábrica se desculpou e disse que havia sido um erro.

 ??  ?? Máscaras de Jair Bolsonaro, Kim Jong-un e Sergio Moro
Máscaras de Jair Bolsonaro, Kim Jong-un e Sergio Moro
 ?? Fotos: Clauber Larre/Folhapress ?? Máscaras que deveriam retratar o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça Sergio Moro e o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un
Fotos: Clauber Larre/Folhapress Máscaras que deveriam retratar o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça Sergio Moro e o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un
 ??  ?? Máscaras de papelão do ministro da Justiça Sergio Moro, do presidente Jair Bolsonaro e da primeira-dama Michelle Bolsonaro são vendidas em barraquinh­as de rua
Máscaras de papelão do ministro da Justiça Sergio Moro, do presidente Jair Bolsonaro e da primeira-dama Michelle Bolsonaro são vendidas em barraquinh­as de rua
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil