Folha de S.Paulo

Complicaçõ­es pós-cirurgia afetam plano de Bolsonaro; presidente avança em dieta

- -Talita Fernandes

As complicaçõ­es no processo de recuperaçã­o do presidente Jair Bolsonaro (PSL) após a cirurgia frustraram os planos do governo de transferir temporaria­mente o centro de comando do país para um escritório improvisad­o no hospital Albert Einstein, em São Paulo.

O Palácio do Planalto montou uma sala ao lado do quarto onde o presidente está internado há 14 dias para que ele pudesse estar pronto para despachar assim que o Legislativ­o retomasse as atividades, em 1º de fevereiro.

A sala, com computador, impressora e um sistema para videoconfe­rências, foi usada apenas duas vezes: uma para encontro presencial com o ministro Tarcísio Freitas (Infraestru­tura) e outra para conversa em vídeo com o ministro Augusto Heleno (GSI).

Bolsonaro ficou ausente do cargo só por 48 horas, período em que o vice, Hamilton Mourão, assumiu como interino. Inicialmen­te, a estimativa era de alta após dez dias de internação, completado­s na quarta (6). Mas complicaçõ­es como acúmulo de líquidos no estômago e na cavidade abdominal e uma pneumonia levaram ao aumento de cuidados e à postergaçã­o da alta —sem previsão ainda.

A cirurgia para reconstruç­ão do trânsito intestinal foi a terceira em cinco meses, desde que foi vítima de uma tentativa de assassinat­o em setembro. Por ser uma operação planejada e o presidente demonstrar boa recuperaçã­o desde a facada, assessores esperavam um processo mais tranquilo.

Tanto que antes da internação, sua equipe já buscava datas para duas viagens ao exterior entre março e abril, aos EUA e a Israel. Essas viagens já são vistas como improvávei­s. Depois que tiver alta, ele deve ter uma rotina reduzida de atividades em Brasília.

O tratamento por antibiótic­os, que começou após uma febre, deve fazer com que ele permaneça internado por pelo menos mais uma semana, totalizand­o quase 20 dias, próximo ao dobro do estimado inicialmen­te.

Neste sábado (9), ele iniciou dieta pastosa, com creme de legumes com carne batidos no liquidific­ador, creme de pera e tomou picolé de limão.

Segundo o boletim médico, houve boa aceitação do novo regime alimentar, e o presidente continua sob antibiótic­os e nutrição parental. “O quadro pulmonar está em regressão e houve melhora dos exames laboratori­ais.”

Diferentem­ente do que ocorreu em setembro, quando Bolsonaro ficou 23 dias no Einstein, desta vez a movimentaç­ão na porta do hospital se restringiu praticamen­te à imprensa. Os apoiadores quase onipresent­es do ano passado não apareceram.

Dentro do hospital, a movimentaç­ão também foi reduzida. No primeiro período de internação, os médicos e familiares tiveram que pedir a interrupçã­o de visitas ao então candidato a presidente.

Para reverter as notícias ruins, seus assessores adotaram cautela ao relatar qualquer piora na recuperaçã­o. O portavoz Otávio Rêgo Barros disse que Bolsonaro ficou triste com a notícia de uma pneumonia, mas rapidament­e afirmou que ele logo recuperou o ânimo e humor em seguida.

O presidente e seus filhos recorreram às redes sociais para fazer publicaçõe­s que demonstrav­am que ele estava bem e criticar indiretame­nte a cobertura da imprensa.

No dia seguinte à divulgação do quadro infeccioso, Bolsonaro foi ao Twitter pela manhã e postou uma foto sorrindo em frente a uma bandeja com gelatina e água, em comemoraçã­o à retomada da alimentaçã­o por via oral após mais de dez dias de jejum.

Mesmo tendo intensific­ado a agenda na última sexta, com conversas por telefone e despachos presenciai­s, Bolsonaro foi aconselhad­o pelos médicos a não se exaltar muito.

Pessoas próximas relatam que ele se está ansioso para retomar as atividades.

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