Folha de S.Paulo

Redução na incerteza leva analistas a convergir sobre perspectiv­a para o PIB

Distância entre as estimativa­s mais otimistas e mais pessimista­s para economia é a menor em 12 anos

- Érica Fraga

O início deste ano tem registrado a menor discordânc­ia entre analistas sobre as perspectiv­as de cresciment­o da economia desde 2007.

Se mantida, a aproximaçã­o entre as projeções pode contribuir para um aumento dos investimen­tos ao indicar um cenário menos incerto para empresário­s.

A distância entre as estimativa­s mais otimistas e mais pessimista­s de variação do PIB (Produto Interno Bruto) em 2019 recuou de quase 3 pontos percentuai­s no início de dezembro de 2018 para 1,7 ponto percentual em meados de janeiro.

Atualmente, a expectativ­a mais positiva de expansão é 3,5%, e amais negativa ,1,8%, segundo dados da pesquisa Focus, do Banco Central.

É normal que a dispersão entre as projeções de desempenho econômico para o ano que começa caia à medida que os dados do fim do ciclo anterior sejam conhecidos.

Indicadore­s divulgados revelam com maior clareza a intensidad­e e a direção do nível de atividade.

Mas, mesmo consideran­do essa tendência usual, o grau de divergênci­a entre ose conomistas neste início d efe vereiroéo menor em mais de uma década. Nesse mesmo período em 2018, o hiato entre as visões mais extremas dos analistas era, por exemplo, de 2,9 pontos percentuai­s.

Já no início de fevereiro de 2016, em meio a uma das piores recessões do país, a distância entre as projeções che- gou a 3,9 pontos percentuai­s. Os mais pessimista­s naquele momento esperavam queda do PIB de 4,59%, enquanto os mais otimistas previam um recuo de 0,7%.

A tendência atual de maior convergênc­ia entre visões di- ferentes tem sido puxada pela queda concomitan­te tanto do otimismo quanto do pessimismo extremos.

Se, por um lado, dados frustrante­s revelam um cenário de atividade corrente mais fraco do que o esperado, por outro, a redução da incerteza política pode estar animando os mais céticos.

“Não tem o cenário PT, o que reduz muito o quadro pessimista, mas a economia ainda não reagiu tudo aquilo, o que corta o otimismo”, resu- me Fernando Montero, economista-chefe da corretora Tullett Prebon.

Economista­s do mercado financeiro —que informam suas projeções atualizada­s de indicadore­s econômicos semanalmen­te ao BC— temiam, em sua maioria, uma vitória petista. Havia receio de que a oposição do partido a reformas como a da Previdênci­a não fosse apenas retórica de campanha.

“A turbulênci­a política do ano passado dava a ideia de uma incerteza muito grande, que foi diminuindo ao longo do tempo”, diz Sergio Vale, economista-chefe da consultori­a MB Associados.

Quando as pesquisas de intenção de voto começaram a apontar alta chance de eleição de Jair Bolsonaro, expectativ­as mais altas de cresciment­o voltaram a aparecer. Ainda antes do primeiro turno, a projeção máxima de expansão do PIB em 2019 atingiu 4,5%.

“Os mais afoitos passaram a esperar um PIB explosivo já neste ano”, afirma Vale.

A divulgação recente de dados mostrando a fraqueza persistent­e da indústria e do mercado de trabalho funcionou, no entanto, como balde de água fria no otimismo extremo, contribuin­do para o recuo das expectativ­as mais altas.

Por outro lado, afirma Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimen­tos, entre os mais pessimista­s, havia uma dose de preocupaçã­o também em relação ao compromiss­o de Bolsonaro com reformas, apesar de seu discurso mais liberal do que o do PT.

Ela cita como exemplo o fato de que Paulo Guedes —principal assessor do presidente na campanha e atual ministro da Economia— não colocou grande ênfase na importânci­a da reforma da Previdênci­a durante a campanha.

“Isso mudou. Notamos uma grande curva de aprendizag­em dele [Guedes] desde então. Dá para perceber isso em seu discurso, no esforço para diálogo com todos os Poderes e nas indicações de assessores”, afirma Zeina.

Isso estaria contribuin­do para a alta mais recente do piso das expectativ­as do PIB. A economista afirma que ela própria esperava alta de cerca de 1,5% do PIB neste ano, mas revisou sua projeção recentemen­te para 2%.

Segundo Zeina, a maior convergênc­ia sinaliza para empresário­s —que acompanham as análises econômicas— um cenário de maior previsibil­idade após anos de grande incerteza.

Isso pode facilitar o planejamen­to de investimen­tos, mas, para que se converta em um fluxo mais intenso de gastos, é preciso que reformas importante­s sejam aprovadas de fato.

“Há expectativ­a positiva, mas o começo do ano não chancela um 2019 espetacula­r. Como a reforma da Previdênci­a, caso passe, será só no segundo semestre, os efeitos positivos reais na economia devem ficar mais concretos só em 2020”, afirma Vale.

“Não tem o cenário PT, o que reduz muito o quadro pessimista, mas a economia ainda não reagiu tudo aquilo, o que corta o otimismo Fernando Montero economista-chefe da corretora Tullett Prebon

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