Folha de S.Paulo

Inhotim reabre com missão de reerguer cidade

- Fabrício Lobel e Júlia Barbon

belo horizonte Depois de duas semanas fechado, o Instituto Inhotim reabriu neste sábado (9), segundo sua direção, com a missão de mostrar que Brumadinho (MG) não está completame­nte embaixo da lama e continua viva.

“A imagem que se tem é de que a cidade inteira está submersa. Mostrar que isso não é verdade não é nenhum prodígio, mas é uma primeira tarefa que a gente pretende cumprir ao dizer às pessoas que o Inhotim está funcionand­o”, diz Antônio Grassi, 64, diretor-executivo do órgão e ator.

O museu de arte contemporâ­nea a céu aberto, um dos maiores do mundo, fica a cerca de 18 km da área atingida pelos rejeitos da barragem da Vale e foi evacuado às pressas no dia do rompimento.

O caminho entre o museu e o aeroporto de Confins e Belo Horizonte não foi atingido.

Grande parte dos 600 funcionári­os do Inhotim (como comparação, a Vale tem cerca de 300 na mesma região) mora em Brumadinho e 41 têm familiares desapareci­dos ou mortos na tragédia.

Um ex-funcionári­o também está entre os 157 mortos e 182 não encontrado­s até sexta (8).

Para Grassi, o instituto terá que se conectar mais com o local em que está inserido.

“O nosso papel também vai exigir um novo Inhotim, que deve estar mais plugado com o lugar e sua necessidad­e de reconstruç­ão.”

Aberto em 2006, o museu pertence ao empresário Bernardo Paz, que fez fortuna explorando a mineração de ferro. Ele era dono da Itaminas, vendida em 2010 a um grupo chinês por US$ 1,2 bilhão em valores da época. Muitas das obras expostas no Inhotim —são 700— tratam da relação predatória das mineradora­s.

A chegada do instituto dinamizou a economia local. Segundo o BID (Banco Interameri­cano de Desenvolvi­mento), a quantidade de leitos em hotéis passou de 300, em 2008, para 1.300, em 2016.

Entre 2011 e 2014, o número de restaurant­es e bares cresceu de 56 para 99 e o de mercados, de 4 para 28, segundo a Prefeitura de Brumadinho.

Agora a expectativ­a é que o público caia e demore alguns meses para se recuperar.

Nas duas últimas semanas, Antônio Grassi estima que o local tenha deixado de receber cerca de 20 mil visitantes. “A gente provavelme­nte vai demorar para mostrar que ali dentro não tem problema, não tem lama e tem como chegar”, diz. O Corpo de Bombeiros de MG confirmou que o museu não está na rota de risco de outras barragens.

“A decisão de reabrir não foi simples. Ao mesmo tempo em que temos a plena certeza de que Inhotim tem a possibilid­ade de trazer um respiro para Brumadinho, temos a conexão com o luto daquele lugar.”

Neste primeiro dia, a entrada será gratuita, como acontece às quartas (exceto feriados). O horário nos finais de semana vai das 9h30 às 17h30, e durante a semana, até as 16h30. A entrada custa R$ 44. No sábado, foi feito um minuto de silêncio em homenagem às vítimas da tragédia.

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