Folha de S.Paulo

Fábrica adapta carrinho para ‘menino raro’

Lucas, 4, sofre de uma síndrome rara que provoca alterações ósseas e não poderia acelerar usando os pés

- Jairo Marques

A primeira resposta que Viviane Santos Roque, 36, mãe de Lucas, 4, recebeu do Serviço de Atendiment­o ao Cliente da empresa foi um soco no estômago: “No momento, não fabricamos/comerciali­zamos brinquedos para crianças especiais”.

Mas ela não desistiu. Insistiu, negociou e explicou a demanda de seu pequeno: um carrinho motorizado e adaptado para suas necessidad­es.

Há duas semanas, ele recebeu em casa seu Mini Cooper vermelho, que pode ser acelerado apertando um botão adicionado ao volante. O artifício foi inserido no brinquedo especialme­nte para o menino.

Lucas nasceu com uma síndrome rara, a fêmur-facial, que provoca alterações ósseas em diversas partes do corpo e compromete movimentos.

Ele nasceu com fenda palatina (abertura no lábio), micrognati­a (mandíbula inferior pequena), pulmão subdesenvo­lvido, fêmur encurtado bilateral e má-formação do quadril, joelho e pés. Um de seus braços tem o cotovelo fundido, o que não permite a movimentaç­ão.

Apesar da pouca idade, já passou por dez cirurgias e atualmente está em trabalho para desenvolve­r suas habilidade­s motoras. Dirigir o carrinho, além de lúdico, contribui para o desenvolvi­mento da sua autonomia.

“Meditei muito sobre aquela resposta [da fábrica]. Talvez, antes de ter meu filho eu respondess­e a mesma coisa, pois não teria a sensibilid­ade que tenho hoje. Precisamos ser flexíveis, as pessoas não sabem o que passamos, as nossas dores. É difícil exigir isso delas”, diz Viviane, que é gerente administra­tiva de uma empresa.

A própria Brinquedos Bandeirant­e, que produz o carrinho desejado por Lucas, reconheceu a falha de comunicaçã­o no primeiro contato com a mãe e pediu desculpas.

A principal função do carrinho de Lucas —que foi pago a preço de custo, cerca de R$ 1.000, sem adicionais pela adaptação — tem sido passear pelo condomínio onde mora, na zona leste de São Paulo, e em parques da cidade.

“Fizemos todos os testes e meu filho ficou extremamen­te feliz. Nem sempre o mercado vai atender todas as diferenças e necessidad­es, mas é nosso papel tentar”, diz Viviane.

A fabricante Brinquedos Bandeirant­e disse que “desenvolve adaptações em brinquedos, atendendo a crianças com necessidad­es especiais há mais de 60 anos.”

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Adriano Vizoni/Folhapress Lucas, 4, com seu carrinho adaptado

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