Longa aponta ‘algo de podre’ no reino da arte contemporânea
Quem já foi às grandes feiras de arte provavelmente sentiu a artificialidade que reina em meio a drinques e vendas milionárias —o jogo de falsidades entre artistas, galeristas, colecionadores e críticos de arte.
É esse “algo de podre” no reino da arte contemporânea o ponto de partida para “Velvet Buzzsaw”. Na sátira-suspense, Jake Gyllenhall vive Morf Vanderwalt, um crítico pretensioso que tem poder de construir ou destruir reputações.
O filme acompanha seu desfile por egos, intrigas e chantagens num mundo em que está imerso até o pescoço, ao mesmo tempo em que tenta manter certa pureza e integridade.
As vaidades são reviradas com a descoberta da obra de Ventril Dease, artista maldito e isolado sobre o qual ninguém jamais ouvira falar. Encontrado morto, do dia para noite ele se torna a menina dos olhos do mercado, com consequências imprevisíveis para os envolvidos e acontecimentos sobrenaturais.
Reunião de caricaturas de tipos sociais —o artista de meia idade em crise criativa, a atendente bonita da galeria, o jovem artista da periferia convertido em revelação, o galerista gay hiperentusiasmado—, o elenco reúne um time de fazer inveja: Rene Russo, Zawe Ashton, Toni Collette e John Malkovich em boas atuações, além da performance excelente de Gyllenhaal.
A superficialidade denunciada, no entanto, acaba sendo ela mesma o pecado do filme, que exagera nos clichês e erra amão ao apostar na junção de crônica social com “thriller mal-assombrado” —o filme ficaria melhor, sem o caráter “Sexto Sentido” ou “Bruxa de Blair”, que dá vergonha alheia em certos momentos.
Sem apelar para o sobrenatural, “The Square”, do sueco Ruben Östlund, continua sendo um retrato mais inteligente desse mundo de museus e galerias, egos e vaidades, o que não impede que “Velvet Buzzsaw” seja bom divertimento.
“Isso é um safári em busca de coisas novas para devorar” e “é mais fácil falar de dinheiro do que de arte” são frases que ficam ecoando. E os 99,5% da população que não podem comprar arte poderão, quem sabe, rir um pouco disso tudo.