Folha de S.Paulo

CT do Flamengo recebeu R$ 10 mi de renúncia fiscal

Valor ajudou a levar adiante projeto do centro onde morreram dez em incêndio

- Alex Sabino, Catia Seabra e Diego Garcia

Local de um incêndio que deixou dez atletas adolescent­es mortos e três feridos na sexta-feira (8), o centro de treinament­o Ninho do Urubu, do Flamengo, recebeu R$ 10,4 milhões, em valores corrigidos pela inflação, por meio de um programa de renúncia fiscal do estado do Rio de Janeiro.

Em 2013, o clube obteve do governo estadual autorizaçã­o para captar R$ 12,6 milhões, conseguind­o R$ 7 milhões até o ano seguinte.

Os contribuin­tes foram a cervejaria Ambev e a empresa de materiais de construção Lafarge. O dinheiro permitiu levar adiante o projeto do CT, ainda não concluído.

Nos programas de renúncia fiscal, as empresas são autorizada­s a descontar dos impostos que devem o dinheiro destinado a programas previament­e aprovados.

Já o clube deve prestar contas do uso da verba. A diretoria do Flamengo prevê que o Ninho do Urubu vá estar pronto até dezembro.

O Flamengo também recebeu aval da União, em 2006, para buscar R$ 3,1 milhões pela lei de incentivo ao esporte para o projeto Futebol Rubro-Negro, com objetivo de promover a formação de jogadores não profission­ais. A única contribuiç­ão foi da Avon, empresa de cosméticos, de R$ 250 mil.

O centro de treinament­o Ninho do Urubu, do Flamengo, onde um incêndio atingiu o alojamento dos jogadores e deixou 10 mortos, recebeu cerca de R$ 10,37 milhões ( em valores corrigidos pela inflação) de programas de renúncia fiscal do Governo do Rio de Janeiro.

Em 2013, o Flamengo foi autorizado pelo governo estadual a captar R$ 12.554.805.03 (R$ 17,28 milhões, em valores corrigidos) pela lei do incentivo ao esporte estadual. Naquele ano, arrecadou R$ 2,5 milhões (R$ 3,9 milhões, em valores corrigidos).

Já em 2014, obteve R$ 4,5 milhões (R$ 6,5 milhões, em valores corrigidos). Os contribuin­tes foram a cervejaria Ambev e a Lafarge, empresa de materiais de construção.

Em programas de incentivo fiscal os governos autorizam as empresas a abaterem uma porcentage­m do imposto devido, desde que o dinheiro seja destinado a programas previament­e aprovados pelo poder público.

A obrigação do clube, ao receber as doações, é prestar contas da utilização do dinheiro. A diretoria deve apresentar notas fiscais dos serviços contratado­s ou materiais comprados aos órgãos públicos que concederam a autorizaçã­o para captar o dinheiro. No caso, a Secretaria de Estado de Esporte, Lazer e Juventude do Rio.

Em 2006, o clube também foi autorizado pelo governo federal, em 2006, a buscar o total de R$ 3.072.740,89 (R$ 6,39 milhões, em valores corrigidos) no projeto “Futebol Rubro Negro”, usando a lei de incentivo ao esporte.

De acordo com a descrição enviada ao extinto Ministério do Esporte, o propósito do projeto era a “promoção do desenvolvi­mento esportivo dos atletas não profission­ais das equipes de futebol de base, passando inicialmen­te pelo futsal através da oferta de condições de treinament­o adequadas à formação esportiva.”

A única contribuiç­ão registrada na prestação de contas foi feita pela Avon, empresa de cosméticos, que deu R$ 250 mil. O Flamengo não confirmou se esse investimen­to foi feito no CT do clube.

Outros clubes brasileiro sutilizara­m alei do incentivo ao esporte. O São Paulo, por exemplo, captou cerca de R $14 milhões( R $17,2 milhões atualizado­s) para construir seuCT em Cotia, além de R$ 7,6 milhões (R$ 11,7 milhões atualizado­s) para a manutenção do local entre 2008 e 2011. Em 2015, o Corinthian­s fez a captação de R$ 3 milhões (R$ 3,8 milhões atualizado­s) para a construção do seu CT.

No caso do Flamengo, o dinheiro de isenção fiscal fez o clube conseguir avançar no projeto de colocar de pé o centro de treinament­o.

Trinta e cinco anos após a compra do terreno e 15 após a construção do primeiro campo, o Ninho do Urubu não está terminado. A diretoria afirma que isso deve acontecer até o final deste ano.

O alojamento das categorias de base que pegou fogo seria desativado nas próximas semanas. O local onde os conteinêre­s que abrigavam os atletas estavam instalados não tinha autorizaçã­o da Prefeitura do Rio, que tinha dado licença para um estacionam­ento funcionar no local.

Comprado em 1984, na gestão do então presidente George Helal, o terreno em Vargem Grande, zona oeste do Rio, onde está o centro de treinament­o, ficou abandonado por duas décadas.

Em 2004, dois campos foram inaugurado­s. Hoje, são cinco oficiais, em uma área total de 138 metros quadrados. Todo o empreendim­ento, contando o novo módulo recém inaugurado que custou R$ 23 milhões, ficou em cerca de R$ 39 milhões.

O Flamengo lançou diferentes campanhas para tirar o projeto do centro de treinament­o do papel.

Entre 2012 e 2014, período em que o clube começou a buscar financiame­nto através de leis de incentivo, as obras ficaram paradas.

O clube chegou a acertar uma doação de R$ 5 milhões em 2012 pela Prefeitura do Rio, na administra­ção de Eduardo Paes. O dinheiro, porém, não foi repassado. O Ministério Público contestou o financiame­nto, já que o clube não garantia nenhum retorno à prefeitura.

O Flamengo acredita que as obras estarão concluídas até dezembro. A primeira parte do novo módulo profission­al foi inaugurada em novembro do ano passado, no último ato da administra­ção de Eduardo Bandeira de Mello, presidente do clube de 2013 a 2018.

A Folha entrou em contato com as assessoria­s da Prefeitura, do Estado do Rio, do Flamengo e do governo federal, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

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