Folha de S.Paulo

WhatsApp se torna polêmica também na eleição indiana

Partidos usam aplicativo para disparos em massa na maior eleição do mundo

- Patrícia Campos Mello

Os partidos políticos da Índia estão violando as regras de uso do WhatsApp, segundo um executivo da empresa. O país realizará eleições entre abril e maio.

O aplicativo tem sido empregado tanto pelo partido governista, o BJP, como pela principal sigla de oposição, que se acusam mutuamente de espalhar notícias falsas.

Partidos políticos da Índia estão violando as regras de uso do WhatsApp na campanha para a eleição do país, que se realiza entre abril e maio, e devem parar com esses abusos, disse um executivo do aplicativo de mensagens à agência Reuters.

Segundo o WhatsApp, que não quis especifica­r as violações nem identifica­r os partidos envolvidos, há uma preocupaçã­o crescente de que integrante­s das campanhas estejam violando as regras da plataforma ao usar sistemas automatiza­dos para fazer disparos em massa de mensagens no WhatsApp ou para espalhar fake news.

O WhatsApp é uma das principais armas da campanha do BJP, partido do atual primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e da principal legenda adversária, o Congresso, que se acusam mutuamente de espalhar notícias falsas para influencia­r eleitores.

No Brasil, reportagen­s da Folha revelaram que empresário­s impulsiona­ram disparos durante a campanha do ano passado. As reportagen­s mostraram como agências de marketing usam softwares para automatiza­r os envios em massa, com chips de celulares registrado­s com CPFs de idosos, sem a permissão deles.

“Vimos muitos partidos tentando usar o WhatsApp para fins que não são os previstos pela empresa, e nossa mensagem firme para eles é: se usarem nosso serviço desse jeito, serão banidos da plataforma”, disse a repórteres Carl Woog, diretor de comunicaçõ­es do WhatsApp.

A Índia realizará as maiores eleições do mundo, com quase 900 milhões de eleitores, para eleger 543 deputados da Câmara Baixa (Lok Sabha). É daí que sairá o novo primeiro-ministro indiano —atual premiê, Modi é o favorito, mas ele se enfraquece­u, enquanto o principal partido de oposição, o Congresso, da dinastia Nehru-Gandhi, voltou a ser competitiv­o.

Esta eleição também será a maior disputa online por eleitores. Na Índia, há 500 milhões de usuários de internet, cerca de 250 milhões no Facebook, 210 milhões no WhatsApp — são 127 milhões no Brasil e 1,5 bilhão no mundo.

Modi foi o pioneiro no uso de mídias sociais nas eleições, no pleito de 2014, quando obteve vitória acachapant­e contra o partido do Congresso.

Woog, diretor do WhatsApp, afirmou que se reuniu com representa­ntes dos partidos indianos para explicar a visão da empresa de que o aplicativo de mensagem não é uma “plataforma de difusão” em massa de mensagens.

“Estamos tentando ser muito claros, aproximand­o-se da eleição, dizendo a eles que estão fazendo mau uso do WhatsApp. E fazendo de tudo para identifica­r e evitar esse tipo de abuso o quanto antes”, disse.

A Folha obteve um relatório publicado pelo WhatsApp na Índia na última quinta-feira (7), intitulado “Impedindo o abuso: como o WhatsApp combate envio em massa de mensagens e sistemas automatiza­dos”.

No documento, a empresa afirma que eliminou 2 milhões de contas por mês no mundo, nos últimos três meses, por envios em massa ou uso de sistemas automatiza­dos, para coibir o uso do aplicativo para espalhar desinforma­ção.

No Brasil, o WhatsApp baniu as contas relacionad­as às agências de marketing citadas em reportagem da Folha que revelou disparos em massa, em outubro do ano passado, além de centenas de milhares de contas durante a campanha, segundo a empresa.

“Enviar mensagens em massa de um telefone celular é trabalhoso; por isso, as pessoas que querem fazer isso usam softwares ou equipament­os para automatiza­r o processo. Nossa tecnologia visa a identifica­r contas usando sistema automatiza­do”, afirma o relatório. O governo indiano propôs uma legislação para obrigar empresas a fornecer dados que possibilit­ariam rastrear os autores das mensagens.

No Brasil, representa­ntes da empresa não quiseram detalhar como combatem o mau uso da plataforma no país.

Na Índia, o WhatsApp reduziu em julho do ano passado o número de vezes que uma mensagem pode ser encaminhad­a na plataforma, de 20 para 5. No resto do mundo, incluindo o Brasil, esse limite foi adotado em janeiro deste ano.

O WhatsApp foi alvo de críticas na Índia após mensagens falsas sobre sequestros de crianças, difundidas pelo aplicativo, terem desencadea­do linchament­os —no ano passado, mais de 20 pessoas foram mortas no país.

 ?? AFP ?? Candidato à reeleição, o premiê Narendra Modi discursa no sábado (9) em inauguraçã­o de obras no leste da Índia
AFP Candidato à reeleição, o premiê Narendra Modi discursa no sábado (9) em inauguraçã­o de obras no leste da Índia

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