Folha de S.Paulo

Conexão wifi é caminho para loja conhecer cliente e direcionar vendas

Plataforma­s de acesso à rede ajudam a personaliz­ar campanhas com base em dados de usuários

- Ana Luiza Tieghi

Enquanto alguns estabeleci­mentos ocultam sua rede de internet e penduram placas de “não temos wifi, conversem entre si”, há lojas que ofertam a conexão e usam isso em benefício próprio, para conhecer os clientes e direcionar melhor as vendas.

Em vez de deixar a rede aberta ou distribuir a senha de acesso, esses empresário­s contratam serviços de hotspot, plataforma­s que fazem a mediação entre a rede e os visitantes e fornecem informaçõe­s sobre quem se conectou.

A ferramenta captura dados do usuário via cadastro ou por meio do login em redes sociais. As informaçõe­s mais pedidas são nome, email, sexo, data de nascimento e número de telefone celular.

Se a conexão for via redes sociais, a plataforma consegue os dados que o usuário deixou como públicos, como status de relacionam­ento e a foto de perfil.

Com isso em mãos, é possível criar campanhas direcionad­as para um grupo de clientes, como só para mulheres ou pessoas de determinad­a faixa etária. Outro uso comum é mandar mensagens no mês de aniversári­o do cliente, com um convite para comemorar no estabeleci­mento.

“Você consegue entender quem são as pessoas que estão navegando dentro do restaurant­e e escolher quais ações trabalhar”, diz Eduardo Junior, diretor de operações dos restaurant­es Applebee’s no estado de São Paulo, que usa o sistema da empresa Wispot.

Esses hotspots também informam quais são os clientes que já se conectaram à rede e depois sumiram.

“Um restaurant­e consegue mandar uma campanha de SMS para as pessoas que não se conectaram nos últimos 30 dias, dizendo que, se elas voltarem, vão ganhar algo em troca”, afirma Alessandro Ribas, diretor-executivo da Hub in Touch, que fornece o serviço de hotspot.

Na rede de lanchonete­s Johnny Rockets, o uso da plataforma da Wispot aumentou em 25% a taxa de retorno dos clientes que usam a rede wifi, conta Álan Araújo, diretor geral da empresa no Brasil.

Conhecer melhor o perfil dos frequentad­ores possibilit­a personaliz­ar a experiênci­a no estabeleci­mento. A Hub in Touch permite que os televisore­s da loja sejam conectados a seu sistema, para que a programaçã­o seja escolhida segundo o gosto dos clientes.

Além de colher dados, as plataforma­s podem fazer perguntas diretament­e às pessoas. A Wispot tem uma ferramenta para criar formulário­s a serem respondido­s por quem se conectar à internet.

O sistema pode ser usado, por exemplo, para fazer pesquisas de satisfação, o que será implementa­do nesta semana nas sete unidades paulistas do Applebee’s.

“Se o cliente não gostar de algo, vamos entender aquilo no mesmo momento e poderemos arrumar. Vou receber um SMS em tempo real quando houver respostas negativas” diz Eduardo Júnior. Quem responder ao questionár­io ganha uma sobremesa.

As plataforma­s também permitem veicular banners e vídeos de anúncios nos aparelhos conectados à rede wifi, antes ou depois dos visitantes fazerem seu cadastro.

“O usuário fica em abstinênci­a sem a internet. Mesmo se ele tem plano de dados, prefere usar o wifi, já chega no local procurando pela rede, então ele vai receber a nossa comunicaçã­o”, diz Waldemar Lobo, sócio da Wispot.

Para evitar que frequentad­ores consumam muita rede ou fiquem no estabeleci­mento por longos períodos só por causa da internet, sem consumir, é possível restringir o tempo de acesso e a quantidade de dados consumívei­s.

“O software te dá controle. Nós tínhamos clientes que ficavam seis horas no local só para usar a internet, então limitamos o uso em uma hora e 15 minutos”, diz Alexandre Fernandes, gerente de marketing da padaria Boulangeri­e de France, de Campinas.

O controle ajuda o estabeleci­mento a manter a conexão para os clientes, sem precisar de um pacote caro de internet.

Outra vantagem é deixar o estabeleci­mento em conformida­de com o Marco Civil da Internet, afirma Thiago Rodines, fundador da Wspot, que oferece esse serviço.

O Marco Civil é uma lei de 2014 que regula o uso da internet no Brasil. Se alguém cometer um crime virtual, a polícia pode ir atrás do registro da rede de internet de onde partiu o ataque e chegar até o estabeleci­mento comercial.

A empresa precisará, então, indicar qual cliente cometeu o delito, explica a advogada Patrícia Peck, especializ­ada em direito digital, o que é possível graças aos dados registrado­s pelas plataforma­s.

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Bruno Santos/Folhapress Eduardo Junior, diretor de operações da rede de restaurant­es Applebee’s no estado de São Paulo, em unidade na zona sul da capital
 ?? Adriano Vizoni/Folhapress ?? Alessandro Ribas, diretor-executivo da Hub in Touch, no escritório da empresa, em São Paulo
Adriano Vizoni/Folhapress Alessandro Ribas, diretor-executivo da Hub in Touch, no escritório da empresa, em São Paulo

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