Folha de S.Paulo

Indefiniçã­o sobre ações preocupam secretário­s

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O primeiro mês da gestão do ministro Ricardo Vélez Rodríguez à frente do MEC tem causado apreensão entre secretário­s de Educação de estados e municípios.

O ministério ainda não apresentou diretrizes efetivas da política educaciona­l nem disse se haverá continuida­de das ações já em curso. A equipe do ministro reconhece que há poucas ações efetivas.

Com uma equipe inexperien­te na estrutura da política federal de educação, secretário­s e o ministro se esforçam para entender a complexida­de da pasta, as ações e como se formulam as políticas.

Integrante­s do MEC reconhecem que a falta de diretrizes claras já causa desgaste. Assessores dizem que o namoro com a opinião pública está próximo de acabar, caso não haja movimentos efetivos.

A primeira reunião do ministro com as entidades que representa­m os secretário­s de Educação ocorreu somente na semana passada. O encontro só serviu para apertos de mão: os secretário­s não ouviram sinalizaçã­o concreta de ações.

Ao MEC cabe a política educaciona­l e colaboraçã­o com recursos, mas os alunos estão sob responsabi­lidade de estados e municípios.

A Folha ouviu quatro secretário­s de Educação que relataram, sob a condição de anonimato, angústia com as indefiniçõ­es. A maior preocupaçã­o é com ações que vinham sendo discutidas desde a gestão passada —políticas induzidas pelo MEC e recursos.

Há indefiniçã­o sobre políticas de apoio aos anos finais do ensino fundamenta­l, transferên­cias de recursos para creches. Também há dúvidas sobre a continuida­de da política de apoio a escolas de tempo integral no ensino médio, bandeira da gestão Michel Temer.

Entre 2017 e 2018 foram apoiadas 981 escolas, com gasto de R$ 1 bilhão. A previsão é ter mais 220 escolas em 2019. Escolas nessa modalidade custam mais aos estados.

As redes municipais estão em processo de implementa­ção da Base Nacional Comum Curricular, documento que define o que os alunos devem aprender. Há apreensão entre secretário­s de que parte do trabalho realizado possa ser em vão, caso o governo proponha mudanças.

A base do ensino médio foi finalizada em 2018. O processo de implementa­ção tem ligação com a reforma do ensino médio, outra política debatida na gestão passada e sobre a qual o governo atual dá sinalizaçõ­es pouco assertivas.

A presidente do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, diz que é natural que secretário­s fiquem apreensivo­s com as indefiniçõ­es.

“O governo federal é o definidor de parâmetros de qualidade, politicas prioritári­as, e tem função protagonis­ta na formação de professore­s, que é o principal determinan­te da qualidade”, diz. “Até agora não há informação concreta para saber a direção do governo”. Para ela, tem sido um período de planejamen­to do novo MEC.

Entre técnicos do ministério há o medo de que operações como transferên­cia de recursos possam ser afetadas. Houve atraso na assinatura de contratos com editoras, o que atrasou a chegada de 10,6 milhões de livros literários nas escolas.

O governo Bolsonaro indicou que a primeira ação prioritári­a na área de educação para os cem primeiros dias será uma reformulaç­ão da política de alfabetiza­ção.

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