Folha de S.Paulo

Rimsky-Korsakov é ponto alto de programa da Osesp na China

- Sidney Molina

MÚSICA Concerto Pré-Turnê China 2019 **** * Osesp. Regência: Marin Alsop. Sala São Paulo, sexta (8)

A Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) embarca para a China nesta semana: de 14 a 22 de fevereiro irá se apresentar em Xangai, Jinan, Pequim e Hong Kong.

Nesta última cidade, a orquestra brasileira fará a abertura do 47º Festival de Artes, um dos mais importante­s da região. Serão dois programas, além de um ensaio aberto e um recital do Quarteto Osesp.

É a primeira vez que uma orquestra brasileira viaja à China, região em que a música clássica tem se desenvolvi­do em alta velocidade. Essa deve ser a última turnê internacio­nal com Marin Alsop na condição de regente titular, já que ela deixará o cargo no final de 2019.

Na sexta-feira (8), com casa cheia e ingressos a R$20, o grupo mostrou boa parte do repertório da viagem.

A “Sinfonia Clássica”, de Prokofiev (1891-1953), que abriu o programa, esteve precisa no andamento, nas articulaçõ­es, na clareza da polifonia e no humor que remete a Joseph Haydn (1732-1809).

A peça faz parte de uma caixa de seis CDs dedicada à obra sinfônica do compositor russo, gravada pela orquestra para o selo Naxos.

Na turnê asiática, “Sinfonia Clássica” será alternada com a abertura de “Candide”, de Leonard Bernstein (1918-90), que foi tocada como segundo bis na apresentaç­ão de sexta.

Seguiu-se o “Prelúdio”, das “Bachianas Brasileira­s nº 4”, de Villa-Lobos (1887-1959), que ainda pode ganhar em projeção sonora e expressão.

A repetição —Villa-Lobos prescreveu uma, talvez desnecessá­ria, recapitula­ção integral— teve mais vida, mas certamente será importante lapidar detalhes nos próximos ensaios, ainda mais porque no exterior ela será apresentad­a na íntegra, em seus quatro movimentos.

A Osesp esquentou e cresceu nas duas obras finais: a suíte “O Cavaleiro da Rosa”, de Richard Strauss (1864-1949), e “Sheherazad­e”, de RimskyKors­akov (1844-1908).

De fato o concerto ficou um pouco pesado com a justaposiç­ão dessas composiçõe­s de grandes proporções, mas na turnê elas nunca estarão juntas, já que haverá revezament­o entre as duas como número final em programas distintos.

A orquestra paulista gosta de tocar Strauss e geralmente o faz muito bem. Para quem viu em 2018, no Theatro Municipal, a ótima montagem da ópera “O Cavaleiro da Rosa” — de onde foram extraídos os temas da suíte— foi ainda mais interessan­te acompanhar o discurso propriamen­te musical do compositor, com seu virtuosíst­ico e irônico encadeamen­to de cores orquestrai­s e harmonia.

“Sheherazad­e” começou com força excessiva nos metais (apenas no primeiro movimento), mas cresceu para se tornar o ponto alto da noite.

Além da plena compreensã­o da partitura por Marin Alsop, os solos das madeiras e, especialme­nte, os do spalla (primeiro-violino) Emmanuele Baldini —que se superou a cada nova aparição— mostraram que a obra está totalmente pronta para a viagem.

Farão parte da turnê também peças não apresentad­as no concerto de sexta, como quatro danças de “Estância”, de Alberto Ginastera (1916-83), trechos da “Suíte Vila Rica”, de Camargo Guarnieri (1907-93), e “Concerto nº 1”, de Paganini (1782-1840), que terá como solista convidado o violinista chinês Ning Feng.

Teria sido ótimo se a orquestra ainda tivesse conseguido inserir uma das sinfonias de Villa-Lobos —também lançadas em uma caixa de CDs— em um dos programas.

Sabe-se, entretanto, que em turnês —e ainda mais quando envolvem festivais— os programas são amplamente debatidos com os organizado­res e têm que contemplar diversos interesses.

Cabe ainda um comentário sobre a peça do bis: o “Frevo”, de Edu Lobo, é praticamen­te uma garantia de sucesso de público, mas precisa ainda de um bom ajuste fino de equalizaçã­o —o todo orquestral e a percussão podem deixar mais espaço para as frases virtuosíst­icas dos solos.

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