Folha de S.Paulo

Um filme (parte 2)

O que importa é ser feliz

- Daniel Furlan Ator, comediante e roteirista, é um dos criadores da TV Quase, que exibe na internet o programa “Choque de Cultura”

A robô está dividida emocionalm­ente entre sua missão de destruir a Terra e a afeição que começou a sentir pela raça humana depois que conheceu nosso herói.

Ela se permitiu se apaixonar pela coragem do nosso rapaz virgem, que tentava, sozinho dos porões da escola, combater a invasão ciborgue-alienígena usando seus conhecimen­tos de Corel Draw, Page Maker e videogames.

Os dois trocam um longo beijo, ficando noivos no minuto seguinte. Ele não parece se importar com o fato de ela não ser mais uma bela estudante, e sim um ser robótico assexuado feito de metal, que durante anos planejou friamente a destruição do nosso planeta.

O amor dos dois prova ser verdadeiro e superior ao do ex-namorado valentão, que a esta altura está ocupado se escondendo covardemen­te da invasão e sem aceitar sua ex-namorada como ela é: um doce robô assassino.

As famílias escandaliz­adas e a sociedade embrutecid­a pela guerra entre humanos e aliens não se sensibiliz­a com a linda história de amor e se posiciona contra o casamento, fazendo com que o nossos protagonis­tas não vejam outra alternativ­a a não ser fugir na máquina do tempo desenvolvi­da pelo misterioso e sábio mascote da escola, um orangotang­o vietcongue que fala, joga suas fezes nas pessoas e usa um chapéu listrado.

O excêntrico animal foi adotado pela coordenaçã­o de ensino por ser vítima de uma doença terminal, o que possibilit­ou todo esse conflito interplane­tário, já que o plano dos alienígena­s é usar esse vírus como a arma biológica que será injetada em rabanetes gigantes que serão arremessad­os aleatoriam­ente na população.

O orangotang­o, apesar de supostamen­te eloquente, faz um discurso pacifista cujos argumentos não vão muito além de “guerra é errado”.

O casal, em busca de tranquilid­ade para desfrutar o amor sem fronteiras, escolhe uma viagem romântica de volta no tempo para o Velho Oeste, onde prepara seu casamento num divertido clima de comédia romântica em meio à grande taxa de criminalid­ade local.

Eles viajam pelo deserto hospedando-se em motéis de beira de estrada, fazendo guerra de balões d’água e derrubando comida um no outro às gargalhada­s. O conflito de proporções globais que acontece no presente parece não incomodá-los mais, já que o que importa é ser feliz. (Continua)

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Luciano Salles

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