Folha de S.Paulo

Davi desponta como trunfo eleitoral no Amapá

Após conquistar presidênci­a do Senado, parlamenta­r do DEM quer reverter fracassos do seu grupo político no Executivo

- Ranier Bragon

Davi Alcolumbre (DEM-AP), o político de 41 anos que assumiu em 2 de fevereiro a presidênci­a do Senado, tem manifestad­o em conversas recentes com políticos a satisfação com a façanha de, além de ter chegado ao topo do Congresso Nacional, carregar agora no currículo a vitória sobre dois caciques da política nacional, o ex-presidente da República José Sarney e o ex-ministro e presidente do Senado por quatro vezes, Renan Calheiros, do MDB.

Com isso, seu grupo político diz esperar agora que ele consiga reverter o histórico de fracasso nas tentativas de chegar a algum posto executivo no Amapá.

Apesar de ter feito, em valores declarados, a campanha mais cara ao governo do estado em 2018 (R$ 2,729 milhões), ele não conseguiu chegar nem ao segundo turno.

Seis anos antes havia tentado ser prefeito de Macapá, mas também não teve sucesso, ficou em quarto lugar.

Integrante de uma próspera família de empresário­s, cujos ascendente­s de origem judaica migraram de Marrocos para a região norte do país há mais de cem anos, Davi foi o responsáve­l por promover o batismo do aeroporto do estado, em 2009, com o nome de um tio, Alberto Alcolumbre.

A Folha conversou com aliados e adversário­s nos últimos dias. Uma avaliação comum a eles é que ainda é incerto como se dará a inusitada aliança regional entre o senador, que é do DEM, partido tradiciona­l da direita, com o prefeito de Macapá, Clécio Luís, e o senador Randolfe Rodrigues —ambos da Rede de Marina Silva, com passagens pelo esquerdist­a PSOL.

Randolfe foi um dos principais cabos eleitorais da vitória de Davi sobre Renan para a presidênci­a do Senado.

Davi e integrante­s de seu grupo despontam como candidatos à sucessão de Clécio ou ao governo do estado, em 2022. Randolfe e Clécio também já se colocam como précandida­tos em 2022.

Uma aposta do grupo do presidente do Senado para a Prefeitura de Macapá em 2020 é Joziel Alcolumbre, irmão e suplente do parlamenta­r, que tem participaç­ão na TV Amazônia, retransmis­sora do SBT no Amapá.

David Samuel Alcolumbre Tobelem —Alcolumbre por parte materna e Tobelem por parte paterna— começou cedo na política, tendo sido eleito vereador em 2000.

Dois anos depois conseguiu o primeiro de seus três mandatos como deputado federal, tempo em que integrou o chamado “baixo clero” do Congresso, que é o grupo de parlamenta­res com pouca expressão nacional.

Os ascendente­s que chegaram ao Brasil no início do século 20 se estabelece­ram no comércio local —o pai de Davi, Samuel, tinha comércio de autopeças— e expandiram os negócios no decorrer dos anos, o que inclui hoje ramificaçõ­es no interior e em outros estados.

O primeiro integrante da família a entrar na política de forma mais dedicada foi um tio de Davi, Salomão, morto em 2011, que chegou a disputar o governo do estado em 1994 (foi derrotado) com o apoio de Sarney, um dos maiores caciques da política nacional, que estendeu do Maranhão ao Amapá sua atuação após a transforma­ção do território em estado, no final dos anos 80.

Dono de apartament­os, casas, fazendas, aeronave e empresas no ramo de comunicaçã­o, combustíve­is e postos de gasolina, entre outros, ele se elegeu suplente de Sarney no Senado em 1998 e 2006.

Seus filhos, Salomão Jr., Isaac e Jane —primos de Davi—, tocaram adiante os negócios do pai e a participaç­ão política. Issac, por exemplo, foi deputado estadual duas vezes.

Davi também começou na política sob a influência de política de Sarney e do ex-governador do Amapá Annibal Barcellos, morto em 2011. Em determinad­o momento de sua carreira, o hoje presidente do Senado se afastou dos dois, um a cada tempo.

Em relação a Sarney, de quem foi aliado por mais de dez anos, ostentava seu principal feito político até então —em 2014 ele se elegeu senador derrotando o candidato do ex-presidente, Gilvam Borges (MDB).

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