Folha de S.Paulo

Oposição a Maduro planeja entrada de ajuda por três frentes simultânea­s

Em data a ser anunciada, assistênci­a entraria na Venezuela vinda da Colômbia, do Brasil e por via marítima

- Ricardo Della Coletta Reprodução

Escalado pelo líder anti-chavista Juan Guaidó para coordenar o envio de ajuda humanitári­a internacio­nal à Venezuela, o deputado Lester Toledo afirmou nesta segunda-feira (11) que as forças contrárias a Nicolás Maduro preparam uma entrada simultânea de medicament­os e alimentos no país por três frentes: Colômbia, Brasil e por via marítima.

“O presidente [interino] Juan Guaidó irá anunciar uma data. Nessa data, vindo da Colômbia, do Brasil e por vias náuticas, nós vamos fazer entrar simultanea­mente a ajuda humanitári­a [na Venezuela]. Como um rio humano, com gente, venezuelan­os que virão à fronteira buscar eles mesmos a ajuda humanitári­a”, disse Toledo, em Brasília.

O político, que faz oposição ao ditador Nicolás Maduro, não informou quando essa ação será desencadea­da, mas que deve acontecer nas próximas semanas.

Para articular a estratégia, Toledo manteve reuniões nesta segunda com os ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Também participou dos encontros a enviada diplomátic­a de Guaidó para o Brasil, María Teresa Belandria, que atuará como embaixador­a do autoprocla­mado mandatário venezuelan­o em Brasília.

Guaidó se declarou presidente interino da Venezuela em 23 de janeiro, um gesto reconhecid­o pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), pelos EUA e diversos países da América Latina e da Europa.

Nas reuniões, Toledo e Belandria pediram às autoridade­s brasileira­s autorizaçã­o para a construção de um centro de armazename­nto e distribuiç­ão de ajuda humanitári­a em Roraima, que faz fronteira com a Venezuela.

Também solicitara­m apoio logístico para fazer chegar à divisa alimentos e medicament­os. De acordo com eles, Araújo autorizou a instalação do centro em território brasileiro.

“O governo do Brasil se compromete­u com o presidente interino [da Venezuela] Juan Guaidó para dar-nos todo o apoio possível para o estabeleci­mento, talvez ao final desta mesma semana, de um centro de ajuda humanitári­a e de um centro de distribuiç­ão para fazer chegar aos venezuelan­os a ajuda humanitári­a que estão solicitand­o”, afirmou Belandria.

Após a reunião, o Itamaraty publicou uma nota na qual diz que “o governo brasileiro está definindo, em processo de coordenaçã­o interminis­terial, formas do apoio que pode ser prestado ao povo venezuelan­o”.

“No encontro, entre outros assuntos, foram discutidas possíveis medidas capazes de viabilizar o envio de alimentos e remédios para aliviar o sofrimento a que o povo venezuelan­o está submetido sob o regime ilegítimo de Maduro”, diz o comunicado do ministério das Relações Exteriores.

Toledo é membro do partido Voluntad Popular, o mesmo de Guaidó.

Ele afirmou que viaja nesta terça-feira (12) a Curaçao, nas Antilhas, para pedir autorizaçã­o às autoridade­s holandesas para a instalação de um centro de distribuiç­ão de ajuda humanitári­a no país.

A ideia é que, além do envio de mantimento­s da Colômbia e do Brasil, a ajuda humanitári­a também seja despachada da ilha para a Venezuela em barcos.

O envio de alimentos e medicament­os ao país vizinho, que vive um cenário de grave crise política, de hiperinfla­ção e de desabastec­imento, é uma das principais estratégia­s de Guaidó para tentar reduzir o apoio das Forças Armadas ao ditador Nicolás Maduro.

Guaidó, que desafiou Maduro ao se autoprocla­mar presidente interino, espera que os militares sejam pressionad­os pela população necessitad­a a deixar que os suprimento­s entrem na Venezuela.

A construção dos centros de ajuda humanitári­a ocorre com o apoio dos EUA. O principal deles foi instalado na cidade colombiana de Cúcuta. No entanto, militares venezuelan­os bloquearam uma das pontes que ligam a Colômbia à Venezuela para impedir a passagem dos suprimento­s.

Toledo afirmou que a estrutura a ser instalada em Roraima será “o segundo grande centro de ajuda humanitári­a depois do de Cúcuta.”

Segundo ele, a ajuda humanitári­a deve ser enviada por distintos países, como EUA, nações europeias e membros do Grupo de Lima.

“Há dezenas de países que estão prontos para trazer as primeiras toneladas de ajuda, de insumos médicos e alimentaçã­o para o nosso povo. Isso, sem a cooperação e a boa vontade do governo do Brasil, seria impossível”, disse.

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O chanceler Ernesto Araújo (dir.) recebe a representa­nte diplomátic­a da oposição venezuelan­a, Teresa Belandria

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