Folha de S.Paulo

Brasil vai a reunião polêmica dos EUA sobre Oriente Médio

- Igor Gielow

Em mais um sinal do alinhament­o pretendido pelo governo Jair Bolsonaro com o de Donald Trump, o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, irá participar de uma polêmica conferênci­a sobre o Oriente Médio patrocinad­a pelos EUA e pela Polônia.

O encontro ocorrerá nesta quarta (13) e quinta (14) em Varsóvia. Cerca de 60 países enviarão observador­es, mas os americanos emprestarã­o maior peso ao encontro.

Estarão lá o vice-presidente Mike Pence e o secretário de Estado, Mike Pompeo.

A conferênci­a foi anunciada pelo próprio Pompeo no começo do ano e gerou grande controvérs­ia por estar sendo realizada à margem dos organismos multilater­ais das Nações Unidas e por ter excluído o Irã da mesa de debates.

Por pressão de membros da União Europeia, o foco da reunião foi ampliado —a ideia inicial era discutir principalm­ente o comportame­nto do regime iraniano.

Principais adversário­s dos EUA na região, os iranianos denunciara­m o encontro como um fórum talhado para criticar o regime dos aiatolás.

Desde que assumiu, Trump reverteu a política perseguida por seu antecessor, Barack Obama, de negociar com Teerã e retirou os EUA do acordo que visa evitar a militariza­ção do programa nuclear do país.

Além disso, a tensão do Irã com seu arquirriva­l Israel, maior aliado americano no Oriente Médio, só fez crescer desde o ano passado.

Para o Brasil, que já participou como observador de negociaçõe­s passadas sobre o conflito entre Israel e Palestina, a presença de Araújo sacramenta a aproximaçã­o com o governo Trump.

Araújo esteve com Pompeo na semana passada, durante visita a Washington, recebeu nesta segunda (11) o chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA e viaja nesta terça (12) para a Europa.

O chanceler já descreveu Trump como o salvador de valores ocidentais.

Ele é aderente das ideias do escritor Olavo de Carvalho, a quem deve sua indicação. A chancela a seu nome foi dada pelo deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente e também “olavista” convicto.

Além da aproximaçã­o com os EUA, há a questão israelense. Bolsonaro, visando agradar sua base evangélica pró-Israel, prometeu mudar a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém —algo que contraria nações que apoiam os palestinos, que desejam ver a cidade como sua capital também.

A ideia também emula o que fez Trump em 2018.

A pressão de países árabes, prometendo boicote à compra de carnes brasileira­s, fez com que o então presidente interino, Hamilton Mourão, negasse a mudança.

A posição reflete o pensamento da área militar do governo, que já estava insatisfei­ta com o desempenho de Araújo na negociação da crise venezuelan­a.

O chanceler modulou o discurso, dizendo que a transferên­cia está só em estudo.

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