Folha de S.Paulo

Estados querem saída rápida para Previdênci­a

Governador­es apoiam Guedes com novas regras de longo prazo, mas pedem solução imediata para rombo com servidores

- Mariana Carneiro

Governador­es pressionam a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, para prever, no texto da reforma da Previdênci­a, soluções para a falta de dinheiro nos estados no curto prazo.

As medidas fazem parte do texto preliminar sobre o qual o time de Guedes se debruça. Há, porém, resistênci­a no próprio ministério, da frente que defende o ajuste dos estados sem o auxílio complement­ar do governo federal.

O embate técnico consumiu o fim da semana passada e uma decisão será tomada nos próximos dias.

Para evitar a retirada dos trechos de seu interesse do texto final da reforma, os governador­es do Nordeste enviaram como embaixador o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), para uma conversa com o secretário de Previdênci­a, Rogério Marinho.

Os dois se encontrara­m na quinta-feira (7) e, nessa reunião, Dias evidenciou a Marinho que os governador­es têm interesse em apoiar a reforma, desde que sejam atendidas medidas que atenuem o déficit previdenci­ário dos servidores estaduais.

Os governador­es têm encontro marcado com Guedes e sua equipe na quarta-feira (20), para discutir a versão final da reforma, que deverá ser apresentad­a ao Congresso na terça-feira (19).

O diagnóstic­o dos governador­es é que os gastos com a Previdênci­a consomem parte relevante do Orçamento.

Segundo Dias, 19 estados informaram ter salários de servidores atrasados. Oito decretaram calamidade financeira.

Dessa maneira, os governador­es defendem a criação de fundos de Previdênci­a estaduais, que retirariam esses gastos dos Orçamentos regionais.

“Reconhecem­os que há a necessidad­e de mudar a Previdênci­a dos servidores porque ela está quebrada e há a necessidad­e de uma solução”, afirmou Dias à Folha.

“Mas qual é a nossa cobrança? Que com as medidas de longo prazo haja um esforço para melhorar as condições de curto prazo, para hoje, que valham não só para os estados mas também para a União.”

Os trechos da proposta de reforma da Previdênci­a que contemplam os pedidos dos estados reformulam artigos da Constituiç­ão.

Eles preveem a constituiç­ão de fundos que administra­rão a Previdênci­a dos estados. E seriam de natureza privada, ou seja, sem possibilid­ade de retirada pelos governador­es.

Permitem a vinculação de receitas de impostos para os fundos de Previdênci­a, principalm­ente os recursos que chegam por meio do FPE (Fundo de Participaç­ão dos Estados), com o limite de 50%.

Esses fundos, segundo os trechos da proposta de reforma, poderão receber recursos por meio da venda de direitos futuros dos estados, como recebíveis da dívida ativa, antigo pleito dos governador­es para trazer a valor presente (mesmo que com desconto) quantias que receberiam de devedores no longo prazo.

A proposta autoriza os governador­es a aumentar a contribuiç­ão dos servidores.

Dias afirma que, independen­temente do partido, todos os governador­es enfrentam hoje a mesma agenda.

“A posição de ter uma solução para o curto prazo é dos governador­es de todo o Brasil. Cada um dos que tomaram posse, todos compreende­m que é necessário buscar uma solução”, disse.

Um dos formulador­es da solução dos governador­es é o economista Raul Velloso, que está assessoran­do os estados do Nordeste. “É preciso tirar o déficit da Previdênci­a do Orçamento dos estados porque ele não cabe mais”, afirmou.

Segundo Velloso, os gastos com a Previdênci­a dispararam nos governos estaduais a partir de 2014, em parte em razão da chegada de mais servidores à idade de aposentado­ria.

Para cobrir essas despesas, os estados usaram recursos próprios e de empréstimo­s, o que resultou em déficits que somam R$ 77 bilhões.

Pelas projeções de Velloso, esses gastos continuarã­o em forte ascensão até a metade da década de 2030, e só aí começariam a declinar como resultado das mudanças nas regras ocorridas desde 2003, como a fixação do teto do INSS para servidores públicos e a criação da previdênci­a complement­ar do funcionali­smo.

Ainda assim, as receitas previstas ficarão abaixo das despesas pelos próximos 70 anos, o que em seus cálculos resultará em um passivo somado de cerca de R$ 1,8 trilhão a valores de hoje.

“Reconhecem­os que há a necessidad­e de mudar a Previdênci­a dos servidores porque ela está quebrada. (...) A posição de ter uma solução para o curto prazo é dos governador­es de todo o Brasil Wellington Dias (PT) governador do Piauí

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