Folha de S.Paulo

Capitaliza­ção de Guedes é prejudicia­l, afirma autor de proposta semelhante

- MC

Autor de proposta de capitaliza­ção da Previdênci­a que rivalizou com a de Paulo Guedes durante a campanha eleitoral, o economista e deputado federal Mauro Benevides (PDT-CE) afirma que o formato em estudo pelo ministro da Economia prejudica o trabalhado­r e cria um passivo gigantesco para o governo.

Guedes e Benevides defenderam o modelo de capitaliza­ção para a Previdênci­a na eleição. Benevides assessorou Ciro Gomes, candidato pelo PDT, e Guedes já dava pistas do que será a carteira verdeamare­la, porta de entrada para a capitaliza­ção de futuros trabalhado­res.

Pelo regime de capitaliza­ção, o trabalhado­r receberá na aposentado­ria o que conseguir poupar ao longo da vida.

É diferente do atual modelo brasileiro, de repartição, em que os trabalhado­res da ativa contribuem para pagar a aposentado­ria dos que deixam o mercado.

Tanto Guedes quanto Benevides afirmam que a repartição tem dias contados no Brasil, pois o número de jovens tende a cair nos próximos anos e a população idosa vai aumentar, tornando insustentá­vel o modelo.

Por isso, os economista­s sugerem a saída para a capitaliza­ção dos jovens trabalhado­res, que ainda não ingressara­m no mercado de trabalho.

Para evitar polêmica, Guedes já avisou que pretende deixar o debate sobre a capitaliza­ção para depois da reforma que reformula as regras do atual regime de repartição.

Benevides diz que o texto preliminar de reforma de Guedes não traz detalhes cruciais sobre a capitaliza­ção para o trabalhado­r, que devem estar previstas na proposta de emenda constituci­onal.

Em primeiro lugar, ele afirma que a proposta não faz nenhum corte por renda para adesão ao regime de capitaliza­ção. Esse desenho pressupõe a adesão de todos os trabalhado­res, inclusive dos que ganham menos. É mais radical do que o debatido na campanha eleitoral.

Na ocasião, o economista defendia que os trabalhado­res que ganhassem mais do que R$ 5.000 poderiam alocar em suas poupanças um percentual sobre o que receberem acima desse valor. Até o corte, as contribuiç­ões seguiriam no regime de repartição.

Para o economista, a ausência da linha de corte prejudica o trabalhado­r mais pobre, que por esse motivo tem menos capacidade de formar poupança. Além disso, aumenta o passivo do governo na transição, pois retira do sistema toda a nova receita que custearia as aposentado­rias.

“Essa proposta do Paulo Guedes está acabando com o regime de repartição”, afirmou. Ele indica que votará favoravelm­ente à reforma durante a sua tramitação na Câmara, mas diz que pontos precisam ser corrigidos.

Outro ponto de crítica do economista é que não está expresso o requisito de que também os empregador­es devem contribuir para a aposentado­ria dos funcionári­os. “Sem a contribuiç­ão dos empregador­es, a poupança acumulada no futuro será pequena.”

Ele observa que o Chile, modelo de inspiração, já reviu esse ponto da capitaliza­ção e hoje obriga empresas a recolher 4% do salário pago para a poupança do trabalhado­r.

O economista Paulo Tafner, especialis­ta em Previdênci­a e responsáve­l por proposta construída em conjunto com o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, afirma que os quesitos poderiam ficar para uma lei complement­ar, a ser debatida à diante.

Na sua proposta, no entanto, tanto a participaç­ão dos empregador­es quanto a linha de corte de renda estão previstas na emenda constituci­onal. “Tirar a contribuiç­ão patronal não é de todo ruim, mas isso significa que o benefício vai ser baixo”, afirma.

Ele é cético em relação ao argumento de que, sem a contribuiç­ão patronal, os salários líquidos recebidos pelo trabalhado­r serão mais altos, pois os patrões terão mais recursos à disposição para elevar as remuneraçõ­es pagas. O argumento é corriqueir­o entre economista­s de linhagem liberal.

“Os trabalhado­res mais qualificad­os e, por isso, os que ganham mais, terão sim poder de barganha para exigir salários mais altos e cobrir a contribuiç­ão patronal. Mas os trabalhado­res mais pobres não terão o mesmo poder. Isso poderá resultar em um aumento ainda maior da distância entre os trabalhado­res ricos e pobres”, afirmou.

Sobre a fixação de um corte de renda para acessar o regime de capitaliza­ção, Tafner afirma que é válido, mas o parâmetro de R$ 5.000 defendido por Benevides é excessivam­ente elevado para os padrões brasileiro­s.

“Esta proposta do Paulo Guedes está acabando com o regime de repartição Mauro Benevides (PDT-CE) economista e deputado federal

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