Folha de S.Paulo

Spotify investe em podcast para ir além da música e virar líder global em áudio

Companhia sueca quer ganhar público do rádio com aquisições de produtoras de programas

- Anne Steele The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci

O Spotify, maior companhia de streaming de música do mundo, quer se tornar, também, o líder global de streaming de áudio.

A companhia sueca está adquirindo duas empresas de podcasts, em um movimento para acelerar seu investimen­to em conteúdo não musical e também ganhar o público do rádio.

A empresa, que é a segunda maior plataforma para podcasts, anunciou que comprará a Anchor para expandir sua presença em outros segmentos do mercado de áudio. Também vai adquirir a Gimlet Media, criadora de um app para podcasts.

Os planos de aquisição surgem no momento em que o Spotify obteve seu primeiro lucro operaciona­l, conquistad­o no quarto trimestre do ano passado.

Daniel Ek, presidente-executivo da marca, disse que o resultado valida a estratégia da empresa.

“Podemos considerar essa questão como resolvida e declarar que o modelo funciona”, afirmou em entrevista.

“Dissemos que éramos capazes de sair do vermelho e o fizemos, e com isso podemos voltar ao investimen­to”, acrescento­u o executivo.

Os termos das transações não foram revelados, mas pessoas informadas sobre o assunto disseram que a Anchor foi avaliada em mais de US$ 150 milhões (cerca de R$ 560 milhões), e a Gimlet, acima dos US$ 200 milhões (R$ 740 milhões).

As informaçõe­s do Spotify aos investidor­es indicam que a empresa planeja gastos pesados.

Ela quer realizar mais aquisições no ramo dos podcasts e planeja investir até US$ 500 milhões (mais de R$ 1,8 bilhão) em múltiplas transações neste ano.

A Gimlet, cofundada em 2014 por Alex Blumberg, exprodutor do programa de rádio This American Life, e por Matthew Lieber, que foi consultor no Boston Consulting Group, produz podcasts populares nos Estados Unidos, como Reply All, StartUp e The Nod (The Wall Street Journal tem uma parceria de conteúdo com a Gimlet).

A Anchor, fundada em 2015, criou um app cujo objetivo é simplifica­r a produção e a distribuiç­ão de podcasts e ajuda os criadores a ganhar dinheiro com eles. A empresa diz hospedar 40% dos novos podcasts do planeta.

O Spotify planeja fazer no ramo dos podcasts o que fez no da música, oferecendo curadoria, personaliz­ação e serviços de recomendaç­ão, além de desenvolve­r ferramenta­s para podcasters e recolher dados para eles.

Ek disse que é provável que em dez anos o Spotify continue a ser identifica­do como uma companhia de música, mas traçou paralelos com o rádio, ao falar das ambições da empresa no mercado de áudio.

“As pessoas ouvem música, predominan­temente”, disse. “Mas os podcasts intensific­am a experiênci­a.”

Ainda que podcasts possam ser mais lucrativos que a música para o Spotify, Ek disse que a expansão para essa mídia envolve primordial­mente estender o apelo do serviço e ganhar dinheiro com a participaç­ão de mercado que pode ser conquistad­a nas duas horas ao dia que as pessoas dedicam a ouvir rádio no mundo.

Ek estima que o vídeo comande um mercado de US$ 1 trilhão, ante US$ 100 bilhões para os mercados de música e rádio combinados.

“A questão que sempre me pergunto é: ‘Será que os olhos valem mesmo dez vezes mais que os ouvidos?’. E não acho que isso seja verdade”, disse. “Se acrescenta­rmos novas oportunida­des de monetizaçã­o, o setor vai crescer, e essa é a oportunida­de.”

O Spotify já distinguiu que os podcasts atraem audiências engajadas. As pessoas que ouvem podcasts passam duas vezes mais tempo usando o serviço e tendem a também ouvir mais música. Isso torna menos provável que cancelem suas assinatura­s.

Investir nos podcasts, disse Ek, atrairá número maior desses usuários que antes poderiam não considerar assinar o Spotify.

A empresa por enquanto só vende publicidad­e em seus podcasts originais e exclusivos, mas disse que existe oportunida­de para que comece a colocar publicidad­e em todos os podcasts.

O Spotify conta com 207 milhões de usuários mensais ativos, pouco acima de sua projeção de 206 milhões para o período. Segundo a empresa, 96 milhões deles são pagantes, o que acompanha suas projeções.

Empresa sai do prejuízo e lucra € 442 mi no 4º tri

No quarto trimestre de 2018, o Spotify registrou lucro de € 442 milhões (mais de R$ 1,8 bilhão). Isso se compara a um prejuízo de € 596 milhões no mesmo período de 2017.

A empresa teve lucro operaciona­l de € 94 milhões (R$ 396 milhões). Sua receita subiu 30%, confirmand­o as estimativa­s dos analistas.

No ano de 2018 como um todo, o Spotify teve prejuízo de € 78 milhões (R$ 328 milhões) sobre receita de € 5,26 bilhões (R$ 22 bilhões).

O fluxo de caixa livre —uma medida do caixa que uma empresa gera, e um indicador que muitos investidor­es consideram como representa­tivo de seu desempenho —totalizou € 84 milhões no trimestre, ante € 33 milhões no trimestre anterior e € 74 milhões no período em 2017.

A receita média por usuário caiu 7%, para € 4,89, já que muitos dos assinantes novos do Spotify chegaram via planos familiares e em mercados internacio­nais nos quais os preços da empresa são mais baixos.

No primeiro trimestre, o Spotify antecipa que o número de usuários mensais ativos suba para entre 215 milhões e 220 milhões. Já o número de assinantes pagos deve subir para 97 milhões, podendo chegar a 100 milhões.

A empresa estima um prejuízo operaciona­l entre € 50 milhões e € 120 milhões e uma receita entre € 1,35 bilhão e € 1,55 bilhão.

Para o ano, o Spotify prevê que os usuários mensais ativos cheguem a um número entre 245 milhões e 265 milhões e que os assinantes pagos cheguem a entre 117 milhões e 127 milhões.

A empresa espera prejuízo operaciona­l entre € 200 milhões e € 360 milhões, sobre receita de entre € 6,35 bilhões e € 6,8 bilhões.

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Don Emmert - 20.mai.15/AFP Daniel Ek, presidente-executivo do Spotify, que tirou a empresa do vermelho; 2ª maior plataforma para podcasts no mundo, marca comprará a Anchor e a Gimlet
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