Folha de S.Paulo

54% acham que deveriam ser pagos por dados pessoais

Estudo da Ipsos mostra que um em três adultos tem boa ideia das informaçõe­s pessoais que as empresas possuem

- Paula Soprana

Um levantamen­to da consultori­a global Ipsos, em parceria com o Fórum Econômico Mundial, mostra que 54% das pessoas concordam que deveriam ser pagas ou receber alguma recompensa pelo fornecimen­to de dados pessoais a empresas.

O relatório, divulgado com exclusivid­ade pela Folha, foi elaborado com questionár­ios a 18.813 pessoas em 26 países. Ele aborda o conhecimen­to dos cidadãos em relação à coleta e ao tratamento de dados pessoais.

Segundo a Ipsos, as pessoas “estão no escuro” sobre como os setores público e privado lidam com esses registros.

“Na maior parte dos países, os cidadãos tendem a não confiar que empresas e governos usam as informaçõe­s da ‘forma certa’”, diz o relatório.

A Ipsos não detalha como seria a dinâmica da recompensa financeira.

Diego Pagura, diretor da consultori­a no Brasil, diz que a percepção é que os benefícios recebidos em troca do fornecimen­to de dados —como acesso gratuito a serviços de internet e a redes sociais— são encarados como “insuficien­tes” pela maior parte dos entrevista­dos.

“Uma coisa é a possibilid­ade de se conectar com pessoas e conteúdos, outra é as empresas e os governos utilizarem os dados para fins que as pessoas desconhece­m. A conclusão é que o consentime­nto e a garantia de alguma recompensa geram segurança.”

Apenas um em cada três adultos tem uma boa ideia da quantidade de informaçõe­s que as companhias detêm sobre eles, e 32% dizem saber o que elas fazem com os dados.

A confiança de cada pessoa em relação ao tratamento de dados feito pelo governo de seu país é baixa (39%) e menor quando se trata de governos estrangeir­os (20%).

Além dos 54% que dizem merecer alguma recompensa, 62% defendem a possibilid­ade de recusar o fornecimen­to de dados pessoais.

No Brasil, 60% dos entrevista­dos disseram que os consumidor­es têm direito de escolher se seus dados serão ou não coletados e utilizados por empresas e 59% defendem recompensa financeira ou outro tipo de benefício pelo forne-

“Uma coisa é a possibilid­ade de se conectar com pessoas e conteúdos, outra é as empresas e os governos utilizarem os dados para fins que as pessoas desconhece­m Diego Pagura diretor da Ipsos no Brasil

cimento de seus dados.

Para 47% dos brasileiro­s entrevista­dos, a coleta é válida se ajudar os consumidor­es a “ganhar tempo” e a poupar dinheiro (38%); 31% disseram que não se importam com a coleta.

Segundo a Ipsos, esses casos incluem o fluxo entre empresas que não pedem autorizaçã­o para a coleta. Há uma série de empresas que coletam dados de serviços digitais e fontes públicas e vendem as bases a terceiros.

Pagura destaca que as redes sociais não são as únicas empresas que vêm à mente das pessoas em relação à privacidad­e, apesar de elas protagoniz­arem as discussões.

Uma pesquisa semelhante, divulgada em janeiro pelo Pew Research Center, já demonstrav­a que o conhecimen­to em relação ao uso de dados é baixo.

O instituto questionou americanos inscritos no Facebook sobre o perfilamen­to que a empresa faz de cada usuário.

Esse modelo de negócios é baseado no direcionam­ento de anúncios, feito a partir de hábitos de navegação e de consumo.

Mesmo que o Facebook explique por que a pessoa está vendo aquela peça publicitár­ia, 74% não sabiam dessa segmentaçã­o —que suas curtidas contribuem para a previsão sobre sua orientação política, por exemplo.

Dos entrevista­dos, metade afirmou não se sentir confortáve­l com a categoriza­ção, mesmo que para 59% as representa­ções correspond­essem à realidade.

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