Folha de S.Paulo

Avanço da tecnologia acentua desigualda­de salarial nos EUA

- The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

É difícil ignorar a persistent­e ambição tecnológic­a onipresent­e em Phoenix.

Há uma fábrica da Intel que está sendo construída por US$ 7 bilhões (R$ 26 bilhões), para produzir chips de sete nanômetros em Chandler; em Scottsdale, a Axon, fabricante da arma de choque Taser, vem contratand­o talentos do Vale do Silício, enquanto adota a automação para atender à demanda por seus produtos.

Startups em ramos variados como o de aeronaves autônomas e o do blockchain estão afluindo à região, atraídas em parte pela regulament­ação moderada e pelos incentivos fiscais. E a Universida­de Estadual do Arizona vem formando muitos engenheiro­s.

E, no entanto, apesar de todo o seu sucesso em fomentar a criação de empresas na fronteira da tecnologia, Phoenix não consegue escapar a um padrão desconfort­ável que vem se estabelece­ndo na economia dos EUA: a despeito de todos os seus novos negócios de alta tecnologia, a vasta maioria dos empregos criados na cidade é no setor de serviços, como saúde, hotelaria, varejo e serviços gerais —áreas cujos salários são medíocres.

As previsões sobre um país em que os robôs farão todo o trabalho enquanto os seres humanos vivem de algum programa de bem-estar social que ainda não foi inventado parecem um sonho ingênuo do Vale do Silício. Mas a automação está mudando a natureza do trabalho e expulsando trabalhado­res de baixa escolarida­de de setores produtivos como a indústria e os serviços de alta tecnologia, relegando-os a trabalhos de salário miserável e sem perspectiv­a de avanço.

A automação está dividindo a força do trabalho dos EUA em dois mundos. Há uma pequena ilha de profission­ais de alta escolarida­de que ganham ótimos salários em empresas como Intel e Boeing, cujos lucros são de centenas de milhares de dólares por trabalhado­r.

Essa ilha fica no meio de um mar de trabalhado­res com escolarida­de mais baixa, presos a empregos em hotéis, restaurant­es e casas de repouso, que produzem lucro menor por trabalhado­r e só se mantêm viáveis ao pagar salários baixos.

Fabricante­s de semicondut­ores como Intel e NXP estão entre as empresas mais bemsucedid­as da região de Phoenix. De 2010 a 2017, a produtivid­ade dos trabalhado­res delas —medida do valor em dólar do que eles produzem— cresceu 2,1% ao ano. Os salários são ótimos: em média, US$ 2.790 (R$ 10.500) por semana.

Mas o setor não gera tantos empregos assim. Em 2017, o setor de semicondut­ores e equipament­os correlatos empregava 16,6 mil pessoas na região de Phoenix, 10 mil a menos que três décadas antes.

O grosso dos empregos, porém, fica do outro lado da divisa econômica —na área da baixa produtivid­ade. Os serviços gerais, por exemplo zeladores e jardineiro­s, empregavam quase 35 mil pessoas na região em 2017, e a saúde e serviços sociais respondiam por 254 mil trabalhado­res.

Restaurant­es e outros estabeleci­mentos de alimentaçã­o empregavam 136 mil trabalhado­res, 24 mil a mais do que no pior momento da mais recente recessão, em 2010. O salário médio é de menos de US$ 450 (R$ 1.700) por semana.

 ?? Dominic Valente 29.jan.19/The New York Times ?? Linha de produção da arma de choque Taser, no Arizona
Dominic Valente 29.jan.19/The New York Times Linha de produção da arma de choque Taser, no Arizona

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