Fora da Globo, jornalista tornou-se personagem público
Em 2001, colunista do jornal O Globo e comentarista no Bom Dia Brasil, na Globo, Ricardo Boechat foi grampeado em conversa telefônica com o empresário Paulo Marinho, descrevendo uma reportagem que preparava para o jornal.
Nela, questionava o empresário Daniel Dantas, então em disputa com o empresário Nelson Tanure, ligado a Marinho. O grampo foi divulgado pela revista Veja, e Boechat foi demitido pelas Organizações Globo, hoje Grupo Globo.
O que poderia ser o fim de sua carreira se provou o contrário. Começou ali a trajetória que o tornaria popular em todo o país, por meio de veículos como a rádio BandNews FM, onde ancorava um programa matinal, e o Jornal da Band. Estava no Grupo Bandeirantes havia 15 anos.
Tendo começado no carioca Diário de Notícias nos anos 70 e trabalhado por 14 anos produzindo notas para o colunista Ibrahim Sued, seu mentor, Boechat nunca quis deixar o jornalismo impresso e assinou até esta semana uma coluna de notas na revista IstoÉ.
Por seu trabalho, levou três vezes o extinto Prêmio Esso e é descrito como o maior vencedor do Prêmio Comunique-se. Mais recentemente, tornou-se celebridade a ponto de ser chamado para fazer voz numa animação da Disney, “Zootopia”.
Algumas de suas manifestações na rádio viraram memes antológicos. Em 2015, por exemplo, ele questionou a intolerância religiosa que havia levado à agressão de uma menina de 11 anos. O pastor Silas Malafaia tuitou que era “asneira” e Boechat, “idiota”.
“Ô, Malafaia, vai procurar uma rola”, respondeu Boechat no ar. “Não me enche o saco. Você é um pilantra, tomador de grana de fiel, explorador da fé alheia. Você é um homofóbico, uma figura execrável, horrorosa. Não tenho medo de você, não, seu otário.”
O jornalista nasceu em 1952 em Buenos Aires, filho do diplomata Dalton Boechat e da argentina Mercedes Carrascal. No início da carreira, viveu em Niterói, onde ainda mora a mãe, de 86 anos, que se tornou conhecida da audiência.
Boechat tornou-se um personagem que os ouvintes aprenderam a “amar”, na descrição do colunista da Folha José Simão, que conversava com ele todas as manhãs, há uma década. Além da mãe, citava constantemente a mulher, “minha doce Veruska”.
“O Boechat era um vulcão”, descreve Simão. “Tinha pensamento próprio, falava o que estava na cabeça. Era o que ele imaginava, o que sentia na hora. E muito engraçado. Carioca da gema.” Simão e outros enfatizavam a independência que o caracterizava.
Ele era casado com Veruska Boechat e deixa seis filhos. Beatriz, 40, Rafael, 38, Paula, 36, e Patricia, 29, de seu primeiro casamento com Claudia Costa de Andrade, e Valentina, 12 e Catarina, 10, do casamento com Veruska.
O velório do jornalista seria realizado no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, nesta segunda e terça.