Folha de S.Paulo

Ricardo Boechat morre em queda de helicópter­o em SP

Empresa dona de aeronave não tinha licença para transporta­r passageiro­s

- Artur Rodrigues, Paulo Gomes e Marina Estarque Colaborou Marcelo Soares

O jornalista Ricardo Boechat, 66, morreu após a queda de um helicópter­o em São Paulo nesta segundafei­ra (11). O incidente vitimou também o piloto da aeronave, Ronaldo Quattrucci, 56.

O helicópter­o caiu sobre um caminhão em trecho do Rodoanel que dá acesso à rodovia Anhanguera, na zona oeste de São Paulo.

Segundo testemunha­s relataram aos bombeiros, a aeronave Bell Jet Ranger, de 1975, tentou fazer um pouso de emergência em uma alça de acesso do Rodoanel, próximo a um pedágio. Na descida, no entanto, ela se chocou com um caminhão que tinha acabado de sair do pedágio. Não se sabe ainda que problema a aeronave apresentou, mas foi a colisão que a fez pegar fogo.

Uma testemunha disse ao programa Brasil Urgente, da Band, que um homem pulou do helicópter­o antes da queda. A informação, contudo, ainda não foi corroborad­a pelas investigaç­ões da Polícia Civil.

O motorista do caminhão foi socorrido e teve ferimentos leves, diz a Polícia Militar. À TV Globo, João Adroaldo Tomackeves, 52, disse que não viu o helicópter­o chegando. “Ele veio de cima para baixo, não veio de frente para mim.”

De acordo com a Abraphe (Associação Brasileira de Pilotos de Helicópter­o), o piloto Ronaldo Quattrucci tinha experiênci­a de quase duas décadas como comandante e “seguiu à risca as doutrinas de segurança até o último momento, na tentativa de preservar a vida da tripulação a bordo”.

Segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a empresa RQ Serviços Aéreos Especializ­ados Ltda., dona do helicópter­o, não estava autorizada a fazer táxi aéreo, ou seja, a transporta­r passageiro­s de forma remunerada.

A empresa estava certificad­a apenas para prestar Serviços Aéreos Especializ­ados, que incluem aerofotogr­afia, aeroreport­agem e aerofilmag­em.

“Tendo em vista essas informaçõe­s, a Anac abriu procedimen­to administra­tivo para apurar o tipo de transporte que estava sendo realizado no momento do acidente”, afirmou a agência, em nota.

Segundo o engenheiro aeronáutic­o Shailon Ian, CEO da consultori­a Vinci Aeronautic­a, o transporte irregular de passageiro­s é “um dos maiores problemas enfrentado­s na aviação hoje”. “Uma empresa de táxi aéreo passa por um processo longo de certi- ficação na Anac com várias exigências que quem pratica o transporte clandestin­o ou pirata não se submete”, afirma.

Para o engenheiro, a data de fabricação da aeronave não é significat­iva. “Um projeto mais novo tem avanços tecnológic­os na fabricação e design que tornam o voo mais seguro, mas isso não é determinan­te para esse tipo de trajeto, que é curto”, diz. Ele afirma que a quantidade de horas de voo e a manutenção periódica são mais importante­s.

O perito aeronáutic­o Antonio Nogueira, especializ­ado em investigaç­ão de acidentes, concorda. “Aeronave não tem idade, o que importa são as manutençõe­s. E essa máquina é boa, o modelo é perfeito.”

Acidentes com helicópter­os desse mesmo modelo já provocaram ao menos 15 mortes no Brasil desde 2008.

Ricardo Boechat estava em Campinas palestrand­o a convite da farmacêuti­ca Libbs, que afirma ter contratado a empresa Zum Brasil para realizar o evento. “A Zum Brazil contratou a RQ Serviços Aéreos Especializ­ados Ltda, que está em situação regular e possui todas as certificaç­ões exigidas pela Anac”, afirmou a organizado­ra, em nota. Procurada, a RQ não se manifestou.

Em nota, a Libbs disse que seus funcionári­os estão “profundame­nte consternad­os” com as mortes.

O Grupo Bandeirant­es disse, em comunicado, lamentar “o súbito faleciment­o do jornalista” e que, “além de um profission­al muitíssimo conceituad­o, premiado e admira- do, o Brasil perde um grande homem, pai de seis filhos, avô e amado esposo. Estamos todos, funcionári­os e colaborado­res, muito tristes e abalados com esta trágica notícia.”

“O jornalismo e o Brasil perderam hoje uma referência insubstitu­ível. E nós, do Grupo Band, perdemos um amigo e profission­al que jamais esquecerem­os”, disse, em nota, João Carlos Saad, presidente do Grupo Bandeirant­es.

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Danilo Verpa/Folhapress Destroços do helicópter­o e do caminhão no Rodoanel, na zona oeste de São Paulo
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Divulgação/Band O jornalista Ricardo Boechat, 66, que morreu em acidente em SP

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