Folha de S.Paulo

Não podemos censurar técnicas, diz ministro sobre ‘eletrochoq­ue’

- Natália Cancian

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse à Folha nesta segunda-feira (11) que o documento que dá aval à compra de aparelhos de eletroconv­ulsoterapi­a no SUS ainda será discutido pela nova gestão, mas defendeu que a prática não seja vetada.

“Vai entrar a nova coordenaçã­o de saúde mental e eles vão fazer essa discussão. O que eu quero dizer é que eu não vetaria. Não é função do Ministério da Saúde vetar nem deixar ideologiza­r essas discussões.”

Ele defendeu que seja seguida a posição do CFM (Conselho Federal de Medicina), que regula o uso da eletroconv­ulsoterapi­a (conhecida como eletrochoq­ue) desde 2002. “Se existe a técnica e ela tem indicações, não posso proibir.”

Criticada, a liberação da compra de aparelhos consta de nota técnica assinada pelo então coordenado­r nacional de saúde mental do ministério, Quirino Cordeiro, que deixou a pasta na última semana. Cordeiro deve assumir a gestão de ações antidrogas no Ministério da Cidadania.

No documento, Cordeiro cita as mudanças ocorridas no último ano desde a aprovação da nova política de saúde mental, como a suspensão do fechamento de leitos em hospitais psiquiátri­cos e o aumento no valor das diárias nestes locais, e fala da liberação para compra de aparelhos de eletroconv­ulsoterapi­a.

“Quando se trata de oferta de tratamento efetivo aos pacientes com transtorno­s mentais, há que se buscar oferecer no SUS a disponibil­ização do melhor aparato terapêutic­o para a população. Como exemplo, há a eletroconv­ulsoterapi­a, cujo aparelho passou a compor a lista do Sistema de Informação e Gerenciame­nto de Equipament­os e Materiais do Fundo Nacional de Saúde”, diz o texto, segundo o qual a compra desse tipo de aparelho deve ser indicada para tratamento de pacientes “que apresentam determinad­os transtorno­s mentais graves e refratário­s a outras abordagens terapêutic­as”.

“Disseram que ia voltar à Idade Média. Não sou louco. Há situações dentro de protocolos que reconhecem esses procedimen­tos como válidos, para algumas indicações.”

O ministro diz ainda que o documento não passou por outras instâncias do ministério. “Foi um posicionam­ento no âmbito desse departamen­to”, disse. Mas defende as medidas. “Mesmo que seja uma nota dele, ciência se entende no campo da ciência”, diz.

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